Dodge destaca a importância de o Brasil cumprir as recomendações do Gafi, para evitar que o país seja visto como ‘paraíso fiscal não cooperativo na repressão da lavagem de dinheiro’.
Entre as investigações que podem ser atingidas, Dodge cita as apurações contra o PCC, contra o médium João de Deus e desdobramentos da Operação Lava Jato. (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Por Eduardo Simões
São Paulo – A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recorreu nessa terça-feira contra decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que suspendeu investigações que usaram dados fiscais e bancários obtidos junto a órgãos de fiscalização e controle – como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – sem autorização judicial.
No recurso, de acordo com a Procuradoria-Geral da República, Dodge argumenta que a decisão de Toffoli pode ter impacto em investigações que estão em andamento e que a suspensão pode afetar a imagem do Brasil no exterior.
"Afora os casos que tramitam perante o Supremo Tribunal Federal, há uma infinidade de investigações e ações penais que poderão ser negativamente impactadas por conta do entendimento ora embargado, que perpassam pelas mais diversas espécies delitivas, não restritas a casos de corrupção ou crimes contra a administração pública", afirma a procuradora-geral.
Entre as investigações que podem ser atingidas, Dodge cita as apurações contra a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), contra o médium João de Deus, acusado de abuso sexual, e desdobramentos da Operação Lava Jato que atingem, por exemplo, o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
A PGR também destaca a importância de o Brasil cumprir as recomendações do Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), para evitar que o país seja visto como "paraíso fiscal não cooperativo na repressão da lavagem de dinheiro ou financiamento ao terrorismo".
Há uma semana, Toffoli suspendeu todos os processos que tramitam no país e que tenham por base o compartilhamento de informações da Receita Federal, Banco Central e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com o Ministério Público sem autorização judicial.
A decisão foi tomada numa ação em que a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, alegava que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro de tinha usado informações levantadas pelo Coaf como um "atalho" para investigar o parlamentar.
Flávio está sendo investigado pelo MP do Rio de Janeiro por suspeita de prática de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa por desvio de recursos na Assembleia Legislativa do Estado na época em que era deputado estadual.
Reuters/DOM TOTAL///