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Familias ainda esperam corpos de 200 mortos pela ditadura diz comissao

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

31/07/2019 04h00

Ato Unificado Ditadura Nunca Mais, em março, reúne em São Paulo familiares dos desaparecidosImagem: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

 

Pelo menos 200 famílias ainda esperam por informações que levem aos corpos de vítimas mortas na ditadura militar (1964-1985). O número é da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que voltou a cobrar do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a abertura de informações que auxiliem no paradeiro dos assassinatos cometidos por agentes do Estado.

Oficialmente, o país tem 434 mortos pelo Estado durante a ditadura –número que inclui apenas militantes que lutaram contra a opressão do regime de exceção. "Desses, cerca de 200 são desaparecidos. Só na região do Araguaia, são 67 corpos que nunca foram achados", diz a presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga.

Uma das famílias que aguardam informações sobre o corpo é a do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, que busca informação sobre seu pai, desaparecido em 1974, Fernando Santa Cruz. Na segunda-feira, Bolsonaro disse que, poderia contar a Felipe como seu pai morreuu.

Mais vítimas

Outra família na mesma condição é a de Maria do Amparo Almeida Araújo, que perdeu o irmão e o marido mortos por agentes do Estado na ditadura.

Ao contrário do marido, que teve os restos mortais localizados, o irmão corpo de Luiz Almeida Araújo nunca foi achado. O alagoano de Anadia fazia parte da ALN (Aliança Libertadora Nacional) e desapareceu em 24 de junho de 1971, em São Paulo.

"Desde então procuramos por ele e nada. Ele foi levado do bairro de Perdizes, entregue por um traidor, o agente infiltrado Anselmo", conta Maria do Amparo, que hoje mora no Recife e ainda tem esperança de dar enterro ao irmão.

No caso dele, por não achar o paradeiro, a Comissão Nacional da Verdade recomendou a continuidade das investigações sobre as circunstâncias da morte e localização de seus restos mortais.

Maria do Amparo levou o caso de seu marido à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O corpo do marido foi achado no cemitério de Perus (cemitério Dom Bosco, em São Paulo). "Em 2009 eu dei entrada para que houvesse justiça, como no caso do Vladmir Herzog. Ele foi atacado porque era um negro, da periferia do Recife, de religião afrodescendente, que participou de uma organização que fez resistência armada", conta.



Pedido de informações

A presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga, disse que, após a fala de Bolsonaro de que saberia o paradeiro do filho do pai do presidente da OAB, fez um pedido oficial para que as informações sejam repassadas.

"Nós reiteramos nosso pedido, que havíamos feito no começo do ano, de que se inteirasse do pleito dos familiares das vítimas e que sejam abertas informações. Como comandante da nação e chefe das Forças Armadas, só ele pode fazer isso. Se ele falou que sabe, nós queremos ouvir. Mandamos essa solicitação pedindo mesmo a designação de um porta-voz para que pudesse trazer essas informações", conta.

Gonzaga diz que a comissão presidida por ela não tem poder de pedir uma investigação oficial. "Quem poderia acionar seria a Procuradoria Geral da República, as próprias vítimas ou o Congresso, que poderia pedir investigação e deliberar", afirma.

Um dos pontos mais questionados pelas famílias é qual foi o destino das pessoas que foram torturadas e assassinadas na chamada Casa da Morte, em Petrópolis (RJ).

"O que tem de vir à tona é o absurdo de que pessoas que passaram por lá e não se tem paradeiro, não se sabe onde foram enterradas, para onde foram levadas. Têm cemitérios Petrópolis, e eu mesma fui neles, mas não existe uma única anotação de pessoas que possam ter sido levadas", afirma.

Para ela, as declarações de Bolsonaro foram desrespeitosas. "Essa atitude é extremamente dolorida para as famílias que passam por isso tantas vezes. Qualquer aspecto é lamentável, mas um presidente da República adotar esse tipo de postura agora, além de desrespeitoso, é também absolutamente ilícito adotar essa forma de abordar esse tema."

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