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Macron acusa Bolsonaro de ‘mentir’ e crise diplomática ameaça acordo UE-Mercosul

Presidente francês e outros líderes mundiais avaliam que o presidente brasileiro não respeita seus compromissos climáticos nem se compromete com a biodiversidade.

 

 

Presidente da França, Emmanuel Macron, ao lado do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante reunião do G20. Para Macron, Bolsonaro mentiu. (AFP)

O presidente francês, Emmanuel Macron, avalia que seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, "mentiu" sobre seus compromissos com o meio ambiente e anunciou que, sob essas condições, a França se opõe ao controverso tratado de livre-comércio UE-Mercosul. Outros líderes de países europeus seguem a mesma linha e ameaçam se opor ao tratado caso o Brasil não proteja a Amazônia. Os incêndios que se propagam pela Amazônia se converteram em um incidente diplomático dias antes da reunião do G-7, em Biarritz, também na França.

"Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República só pode constatar que o presidente Bolsonaro mentiu para ele na cúpula (do G-20) de Osaka", declarou o Palácio do Eliseu, estimando que "o presidente Bolsonaro decidiu não respeitar seus compromissos climáticos nem se comprometer com a biodiversidade". "Nestas circunstâncias, a França se opõe ao acordo do Mercosul", acrescentou a presidência francesa. 

A rápida proliferação de incêndios florestais na Amazônia está se tornando um grande problema diplomático com múltiplas repercussões internacionais. Macron manifestou-se alarmado na quinta-feira (22), pelo Twitter, com os incêndios que devastam a maior floresta tropical do planeta, falando de "crise internacional" e convocando os países industrializados do G-7, que se reúnem a partir de sábado (24)  em Biarritz (Sul da França), "a falar sobre essa urgência".

Reação na Europa

Neste contexto, a crise diplomática se espalha pelo continente europeu e provocou reações da chanceler alemã Angela Merkel e dos primeiro-ministros do Reino Unido, do Canadá e da Irlanda. 

O porta-voz de Angela Merkel, Steffen Seibert, concordou com o pedido de Macron e declarou que os incêndios na Amazônia constituem uma "situação urgente" e que deve ser discutida durante a cúpula do G-7 este final de semana. Merkel "apoia completamente o presidente francês" neste ponto, declarou, acrescentando que "a magnitude dos incêndios no território da Amazônia é assustadora e ameaçadora, não só para o Brasil e os outros países envolvidos, mas para todo o mundo".

Pelo Twitter, Boris Johnson, chamou de "crise internacional" os incêndios florestais que atingem a floresta amazônica. "Estamos dispostos a fornecer toda a ajuda que pudermos para controlá-los e ajudar a proteger uma das maiores maravilhas da Terra", tuitou.

O primeiro-ministro da Irlanda Leo Varadkar ameaçou votar contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil não respeitar seus "compromissos ambientais", em meio a críticas ao presidente Jair Bolsonaro pelos incêndios que assolam a Amazônia. "De maneira alguma a Irlanda votará a favor do acordo de livre comércio UE-Mercosul se o Brasil não cumprir seus compromissos ambientais", declarou o primeiro-ministro Leo Varadkar em comunicado.

Varadkar se disse "muito preocupado porque neste ano houve níveis recordes de destruição por incêndios na floresta amazônica", e considerou que "os esforços do presidente Bolsonaro para culpar ONGs ambientalistas pelos incêndios são orwellianos".

UE-Mercosul

Após 20 anos de negociações, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram recentemente com a UE um Acordo de Associação que inclui seções de diálogo político e comercial.

Os países do bloco europeu ainda devem dar seu aval ao texto para permitir sua entrada em vigor, que deve ter a aprovação da Eurocâmara, um procedimento que pode levar dois anos. "Ao longo dos dois anos, vamos monitorar de perto as ações ambientais do Brasil", advertiu Leo Varadkar, primeiro-ministro da Irlanda.

O acordo UE-Mercosul deve eliminar em 15 anos 91% das tarifas e taxas do Mercosul sobre produtos europeus e a UE fará o mesmo com 92% dos seus em 10 anos. Mas algumas nações europeias, incluindo França, Polônia e Irlanda, expressaram preocupação com o impacto desses acordos em seu setor agrícola. As ONGs também alertaram sobre as consequências para o meio ambiente.

Repercussão das queimadas

As queimadas na Amazônia tiveram repercussão internacional na quinta-feira, com pedidos da ONU e de líderes mundiais para "proteger" o pulmão do planeta e convocatórias de protestos mundiais.

Na quinta-feira, Macron comentou no Twitter os incêndios que devastam a maior floresta tropical do planeta, falando de "crise internacional" e convocando os países industrializados do G-7 "para falar sobre essa emergência". 

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também manifestou seu apoio à causa dizendo que é preciso "agir pelo planeta". "Eu não poderia concordar mais, Emmanuel Macron. Fizemos muitos trabalhos para proteger o meio ambiente no G-7 do ano passado, em Charlevoix, e precisamos continuar neste fim de semana. Precisamos de #ActForTheAmazon (agir pela Amazônia, em tradução livre) e agir pelo nosso planeta —nossos filhos e netos estão contando conosco", escreveu Trudeau ao republicar, na rede social Twitter, mensagem anteriormente escrita por Macron.

O presidente brasileiro acusou seu colega francês de ter "uma mentalidade colonialista" e de querer "instrumentalizar" o tema "para ganhos políticos pessoais". "A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G-7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21", escreveu Bolsonaro no Twitter.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, já havia iniciado a salva de apelos em defesa da Amazônia, dizendo no Twitter estar "profundamente preocupado" com os incêndios.

Bolsonaro relativiza

Diante da repercussão negativa, o presidente Jair Bolsonaro mudou um pouco a postura e afirmou que a "tendência" é que o governo acione tropas do Exército para auxiliar no combate aos incêndios na região amazônica, o que ocorreria por meio de uma operação de Garantia de Lei e da Ordem (GLO).  "É uma tendência. A tendência é essa, a gente fecha agora de manhã", disse o presidente ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta sexta-feira (23).

Bolsonaro lembrou que organizou uma "reunião muito grande ontem" no Planalto para discutir a situação – oito ministros participaram do encontro. "Discutimos muita coisa. O que estiver ao nosso alcance nós faremos", declarou o presidente. Em seguida questionado por jornalistas se isso contemplaria liberação de recursos, ele disse que "o problema é recurso".

Contudo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, fez algo inconcebível  diplomaticamente. Eduardo  compartilhou na quinta (22), em sua conta do Twitter um vídeo no qual o youtuber bolsonarista Bernardo Küster chama o presidente da França, Emannuel Macron, de "idiota". O tuíte foi feito horas após o líder francês convocar o bloco econômico G-7 para discutir as queimadas na Amazônia durante a cúpula que começa neste fim de semana em Biarritz, na França.

INPE

Entre janeiro e 21 de agosto, o INPE registrou no Brasil 75.336 focos de incêndio, 84% a mais do que no mesmo período de 2018. Esse número aumentou 2.493 em relação a segunda-feira.

Segundo especialistas, a multiplicação dos incêndios ocorre no âmbito de um rápido avanço do desmatamento na região amazônica, que em julho quadruplicou em relação ao mesmo mês de 2018, segundo dados do INPE.

AFP/Reuters/Agência Estado/DomTotal.com///