Enquanto o MPF argumentava no processo que mulher poderia prejudicar a investigação, no Telegram os procuradores admitiam que a finalidade das medidas era pressionar Schmidt.
Moro aceitou o plano criado pelo procurador Diego Castor de Mattos contra filha de Raul Schmid. (Agência Brasil, MPF e YouTube)
Em mais uma revelação vazada de chats no aplicativo Telegram, o conhecido ‘Vaza-Jato’, o então juiz federal Sérgio Moro autorizou a devassa sem qualquer indícios de crime numa jovem com objetivo de forçar o pai a se entregar. Apesar de ser titular de contas no exterior que receberam propinas, ela não era suspeita de planejar e executar crimes.
O plano aconteceu no começo de 2018 e tinha como objetivo criar um “elemento de pressão”, como disse o procurador Diogo Castor de Mattos, sobre o empresário luso-brasileiro Raul Schmidt. O Ministério Público Federal (MPF) apelou a Moro mirando na filha do investigado: queria que o passaporte de Nathalie fosse cassado e que ela fosse proibida de sair do Brasil. O plano era forçá-lo a se entregar para evitar mais pressão sobre a filha. O conteúdo foi revelado pelo The Intercept Brasil, clique aqui para ler na íntegra.
Na primeira tentativa, Moro vetou a manobra dos procuradores. Mas em maio de 2018, o então juiz deu sinal verde ao desejo da Lava Jato, que incluía uma varredura na casa, nas comunicações e nas contas de Nathalie.
No dia seguinte, os policiais cumpriram o mandado de busca e apreensão na casa da filha do investigado, no Rio de Janeiro. A defesa alegou que ela foi coagida pela Polícia Federal, na ocasião, a dizer onde o pai estava. O plano, no entanto, não teve tempo de ser testado. No mesmo dia, Raul Schmidt conseguiu extinguir seu processo de extradição em Portugal. A Lava Jato tenta até hoje trazê-lo ao Brasil.
Entenda o caso
Tudo começou em fevereiro, quando Raul Schmidt conseguiu fugir da polícia em Portugal. Foi quando Castor de Mattos expôs aos colegas uma ideia para fazê-lo aparecer:
Os argumentos da petição são bastante diferentes dos discutidos no Telegram. Ou seja, enquanto argumentava no processo que Nathalie não poderia sair do país para não prejudicar a investigação sobre os crimes que teria cometido, no Telegram os procuradores admitiam que a finalidade das medidas era pressionar Schmidt.
Schmidt acabou preso, mas foi solto 12 dias depois e responde os crimes em liberdade. Com isso, eles repetiram o plano, dessa vez aceito por Moro. No dia 18 de maio de 2018, a justiça portuguesa determinou o cumprimento imediato da ordem de extradição. Quatro dias depois os procuradores pediram a Moro, com urgência, o cumprimento das medidas contra Nathalie, afirmando que Raul “se evadiu” ao ser procurado pelas autoridades.
Nathalie teve o passaporte retido e foi alvo de busca e apreensão em casa, no Rio de Janeiro, em 24 de maio. Nessa busca, segundo a defesa dela alegou quatro dias depois em pedido de habeas corpus ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, “três agentes da Polícia Federal portando metralhadora ingressaram na residência da paciente de forma truculenta, exigindo, aos berros, que ela revelasse o atual paradeiro do seu genitor, sob ameaça de ‘evitar dor de cabeça para seu filho’”, referindo-se à criança dela, um menino então com sete anos.
No mesmo dia em que Nathalie foi visitada pela PF no Rio, um desembargador do Tribunal de Relação de Lisboa (primeira instância a que Schmidt recorria) determinou o cancelamento da extradição do empresário, que voltou a responder em liberdade. Assim, a segunda tentativa de usar a perseguição à filha para pressiona-lo fracassou.
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