O ex-ministro Roberto Amaral conceitua a Frente Ampla e a diferencia da Frente de Esquerda que já atua conjuntamente no Congresso Nacional a partir das bancadas do PT, do PCdoB e do PSOL.
“Na Frente Ampla cabem todos os que se opõem ao que representa o bolsonarismo e seu regressivismo político, econômico e ideológico. O pacto da governança será outra história e responderá à nova correlação de forças que se estabelecer”, esclarece.
Para Roberto Amaral, a Frente Ampla, a partir do núcleo progressista de hoje, pode congregar o grande espectro das forças democráticas preocupadas com os destinos do país.
Leia a íntegra do artigo:
Da Frente de esquerda à Frente Ampla
Roberto Amaral*
O que se pode chamar de “Frente de esquerda” já existe e funciona, na medida de suas limitações, no Congresso Nacional, reunindo, essencialmente, as bancadas do PT, do PCdoB e do PSOL, em alguns momentos ampliando com siglas de centro-esquerda. É um ponto de partida, até animador, mas que se revela, como força política, ainda muito distante das necessidades de resistência e enfrentamento ao projeto de desconstrução nacional em que se empenha o governo do capitão anunciando danos irreversíveis ao futuro do país, como o perseguido atraso em educação, ciência e tecnologia. Os desafios caminham mesmo para além do pleito municipal de 2020, pois dizem respeito aos destinos do país e por isso exigem, para além da natural reunião das forças progressistas, o encontro de todos aqueles que, comprometidos com a questão democrática, estão conscientes da necessidade de promover a resistência ao avanço ultraconservador. Esse encontro dar-se-á na montagem de uma Frente Ampla que, a partir do núcleo progressista de hoje, possa congregar o grande espectro das forças democráticas preocupadas com os destinos do país, aí compreendendo os setores de centro-esquerda e o centro, ainda desarvorado após a tentativa de suicídio em se converteram sua participação nos dois últimos pleitos presidenciais. Outras frentes, igualmente amplas, em situações históricas similares, aqui e alhures, foram constituídas e conseguiram promover mudanças substanciais na correlação de forças, derrotando sistemas, regimes e coalizões de poder que antes pareciam irremovíveis.
Na Frente Ampla cabem todos os que se opõem ao que representa o bolsonarismo e seu regressivismo político, econômico e ideológico. O pacto da governança será outra história e responderá à nova correlação de forças que se estabelecer.
Essa Frente, de resistência política, ideológica e objetiva (materializando-se na ação), deverá avançar para a recuperação de espaços perdidos, a partir de uma plataforma econômico-política alternativa e progressista. A Frente é, portanto, para avançar, como avançaram a “geringonça” portuguesa, a aliança de esquerda e socialdemocratas derrotando a extrema-direita italiana, e como avanço foi a frente heterodoxa que acaba de ganhar as eleições em Budapeste.
No caso brasileiro algumas reflexões se fazem necessárias, e a primeira delas é relativa ao caráter do adversário, compreendido como um complexo de forças que tem no governo Bolsonaro seu núcleo simbólico e aglutinador, a ponta mais visível e agressiva do iceberg conservador, cuja base vai juntar-se às águas dos projetos geopolíticos da direita internacional de braços dados com a nova ordem econômica mundial que se articula na Europa e nos EUA, e cujos interesses se fazem presentes, de forma aguda, na realidade política e econômica brasileira.
Os tentáculos domésticos dessa coalizão são visíveis a olho nu, como o chamado “mercado”, especialmente o setor financeiro globalizado, que acumula lucros estratosféricos enquanto a economia não encontra saída para sua crise estrutural, e cresce a concentração de renda e a pauperização das grandes massas. Ao lado do poder econômico, nomeadamente rentista ou agroexportador, – centro governante – atuam, quase que subsidiariamente as instituições clássicas do establishment, como o Poder Judiciário e as forças armadas. O Congresso é o cartório que carimba os pleitos do governo, levando a cabo todas as reformas de seu interesse, nada obstante serem impopulares e antinacionais, como as reformas trabalhista e previdenciária, quando já anuncia, no espírito da Pauta Guedes, a reforma administrativa e a reforma tributária e a facilitação das privatizações. As poucas divergências são formais e secundárias, logo sanadas com rápidas concessões de cargos e verbas. O Congresso, de fato liderado pelo presidente da Câmara dos Deputados, está a serviço da “Pauta Guedes”.
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