Atualmente, o uso do solo contribui com cerca de um quarto de todas as emissões provocadas pelo homem
O setor de terras contribui com cerca de um quarto de todas as emissões provocadas pelo homem (AFP/Arquivos)
Um melhor gerenciamento das fazendas e florestas do mundo pode contribuir com até um terço dos cortes de emissões necessários para evitar mudanças climáticas devastadoras, disse na última segunda-feira (21) uma equipe internacional de cientistas.
Eles afirmaram que países como Brasil, China e Indonésia têm imenso potencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa se seus governos se comprometerem a acabar com o desmatamento e com práticas agrícolas prejudiciais ao meio ambiente.
A equipe também disse que as chances de o mundo de evitar os piores efeitos da mudança climática aumentariam significativamente se uma em cada cinco pessoas nos países desenvolvidos adotasse dietas à base de vegetais até 2030.
Atualmente, o uso do solo contribui com cerca de um quarto de todas as emissões provocadas pelo homem, que precisam ser reduzidas globalmente para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus – o alvo mais ambicioso do acordo de Paris sobre mudanças climáticas.
Ao mesmo tempo, árvores, plantas e solo sugam grandes quantidades de dióxido de carbono através da fotossíntese.
Os autores de um estudo abrangente sobre como usar a terra para combater as mudanças climáticas disseram ter um plano para tornar o setor de terras neutro em carbono até 2040.
"Desenvolvemos um roteiro que reduz as emissões do setor de terras em cerca de 50% por década e aumenta o carbono sequestrado na terra em cerca de 10 vezes entre 2030 e 2050", disse à reportagem Stephanie Roe, cientista ambiental da Universidade da Virgínia.
A equipe examinou modelos climáticos e avaliou duas dúzias de práticas de gerenciamento de solos conhecidas por reduzir as emissões e fornecer outros benefícios sociais e ambientais.
Os cientistas então mapearam como os países poderiam aproveitar ao máximo as práticas para reduzir as emissões globalmente.
Eles descobriram que o desmatamento, especialmente no Brasil, na Indonésia e na Bacia do Congo, na África, teria que ser reduzido em 70% até 2030 para limitar o aquecimento.
Os países também precisam melhorar o manejo florestal plantando árvores em terras de cultivo para capturar e armazenar o equivalente ao total de emissões anuais da União Europeia, a cada ano, na mesma data.
O desperdício e a perda de alimentos também precisam ser reduzidos em 30% até 2030, disseram os especialistas.
As emissões totais das terras devem cair 85% e a quantidade de carbono armazenada deve aumentar 10 vezes na metade do século.
"A tarefa que temos pela frente é assustadora, mas temos todas as ferramentas e conhecimentos que precisamos para começar a implementar agora", disse Roe, autor principal do estudo, publicado na revista Nature Climate Change.
‘Brecha preocupante’
O trabalho baseia-se em um relatório inovador do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, lançado em agosto, que descreve como o mundo pode limitar o aquecimento ao mesmo tempo em que alimenta 10 bilhões de pessoas em 2050.
O relatório destacou uma série de escolhas difíceis, incluindo a redução de pastagens para acomodar vastos esquemas de captura de carbono e bioenergia.
"O que é preocupante é a grande brecha entre onde estamos e para onde precisamos ir para evitar o caos climático", disse Charlotte Streck, diretora do think tank Climate Focus e coautora do estudo.
Com a taxa de perda de floresta global tendo aumentando 40% desde 2014, Streck disse que a restauração mostrou "apenas progresso moderado".
"Precisamos intensificar as ações em terras agora. Esse roteiro mostra como fazer isso", disse.
AFP/ dom total///