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Desalento atinge 4,9 milhões de pessoas no 2º trimestre de 2019

O desalento, uma categoria do IBGE, que indica aquelas pessoas que desistiram de procurar trabalho pode estar mascarada

 

 

 

 

 

Pessoas observam ofertas de emprego na rua Barão de Itapetininga no centro de São Paulo (Nelson Almeida/AFP)

 

 

 

Cesar Sanson*

 

 

 

Desalentado é uma categoria definida pelo IBGE. Encontra-se na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Contínua. São aqueles que desistem de procurar trabalho. O desalento atingiu 4,9 milhões de pessoas no 2º trimestre de 2019 revela a última pesquisa do PNAD. A mesma pesquisa mostra que o desemprego é superior a 12 milhões de brasileiros e o contingente de pessoas na informalidade se aproxima a 40 milhões de trabalhadores. A informalidade atingiu o recorde da série histórica, iniciada em 2012, chegando a 41,4% da força de trabalho ocupada no Brasil, no Nordeste chega a 60%. A pesquisa destaca ainda que há cerca de 3,2 milhões de desempregados que estão à procura de trabalho há dois anos ou mais. Esses dados alarmantes, desemprego que permanece alto, informalidade crescente e o tempo infindável para se conseguir um emprego, podem auxiliar nas explicações do desalento. Podem ajudar a compreender os motivos de que porque o desalento é alto e paradoxalmente porque não é ainda maior. Ou seja, a situação está ruim, mas poderia ser ainda pior. A primeira hipótese para o alto índice do desalento é de que a “desistência” esteja associada ao fato de que o emprego com carteira assinada está se tornando um privilégio. Logo, as pessoas desistem de procurar porque de antemão consideram que não encontrarão esse tipo de trabalho. Por outro lado, e essa é outra hipótese, como muitos não querem se subordinar a atividades informais que pagam pouquíssimo, não é improvável que a ‘desistência’ esteja associada a resistência em entrar ou permanecer no mercado informal. A hipótese é de que essas pessoas ao mesmo tempo em que desistiram de tentar um emprego formal, também recusam o informal, aumentando assim o desalento. Mas, o desalento pode ser ainda mais grave e mascarar uma condição subjetiva. Não é improvável que o desalento seria ainda maior se muitos não se subordinassem a atividades informais. A hipótese aqui é de que muitos deixaram de procurar um emprego formal porque consideram inatingível, logo o jeito é ficar com o que restou, o que é possível, o que se tem para o momento, ou seja, o trabalho informal, seja trabalhando para terceiros, seja por conta própria. Temos aqui um tipo de desalento mascarado. As pessoas encaram o que encontram, mas não o que desejam. O desalento, portanto, encobre uma realidade perversa. Há a sua face visível, daqueles que simplesmente desistiram; mas ele pode estar presente mesmo nas atividades informais. O desalento aqui não é medido, mas pode estar escondendo a condição daqueles que tornaram o que era para ser uma exceção uma regra, ou seja, já não acreditam mais que um dia terão um emprego formal, logo tornam a situação da informalidade como a normalidade. Unisinos

 

 

*Professor na área da sociologia do trabalho, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

 

 

 

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