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A gente precisa aprender

O problema é que a educação no Brasil vem desprezando o essencial e priorizando o acessório.

 

 

Se quisermos melhorar nossos índices no próximo PISA, a gente precisa aprender (Pixabay)

 

 

Fernando Fabbrini*

 

 

Os últimos resultados do PISA com base no ano de 2018 revelaram indicadores vexaminosos da educação brasileira e levaram à trágica conclusão: desde 2009 nossos jovens estão patinando nos rudimentos da matemática, ciências e português. Trata-se de um problema antigo e sistematicamente empurrado com a barriga pelos governos anteriores. Basta lembrar que em dezembro de 2017, o então Ministro da Educação Fernando Haddad, referindo-se aos já tenebrosos indicadores do PISA do ano anterior, tentou explicar dizendo esta bobagem: “O Brasil não pode se envergonhar disso. Ora, estamos sendo comparados a países de realidades diferentes da nossa; fora do contexto latino-americano.” Puxa! Quer dizer que o fato de ser latino-americano remete obrigatoriamente nossos jovens a um patamar humilhante de estupidez ou incapacidade para aprender?

 

O problema é que a educação no Brasil – com exceções surpreendentes – vem desprezando o essencial e priorizando o acessório. Para piorar, o estilo informal tupiniquim instalou-se nas salas de aula e esculhambou o ritual do aprendizado. O professor nem sempre é mais aquela pessoa que domina bem um assunto e está ali para compartilhá-lo. Transformou-se, por modismos, num cara legal, tolerante com o baixo desempenho da turma, dividindo com a moçada os papos políticos da semana, questões existenciais profundas e o chope no boteco.

 

A razão central que faz professor e alunos passarem horas numa sala de aula – a transmissão de conhecimento, avaliações e discussões pertinentes – ficou em segundo plano, em muitos casos. Se quisermos melhorar nossos índices no próximo PISA, a gente precisa aprender. Da parte do governo, que venham fortes investimentos; seriedade e foco em currículos que darão ao aluno condições sólidas para uma formação profissional consistente. Da parte dos alunos, apenas o óbvio: enfiarem mais a cara nos livros, serem pontuais, desligarem os celulares durante as aulas, fazerem os deveres de casa, estudar até tarde na véspera da prova.

 

Na vida real, estudante que não estuda não aprende nada. Leva pau, não se forma, não arruma trabalho. Universitário que quiser arrumar trabalho, emprego e renda no futuro, acrescentando alguma coisa útil à humanidade, deve desaprender a escrever teses intituladas “My pussy é poder: A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro” ou “Personagens emolduradas: os discursos de gênero e sexualidade no Big Brother Brasil 10”, como vimos por aí. (Títulos de trabalhos publicados no ano passado pela UFRJ) Jovens nem-nem – que não estudam nem trabalham – devem aprender que, pelas leis da natureza, um dia perderão as mesadas da mamãe, terão de bancar casa, rango e cerveja com o suor do rosto. E um dia vão encarar um patrão chato, horários no escritório ou na fábrica, compromissos, problemas. A gente precisa aprender de verdade – como fizeram estonianos, finlandeses, croatas, coreanos e outros que levaram a educação a sério.

 

Isto sem jamais esquecer a frase genial de Roger Schwank, um dos criadores da inteligência artificial: “aprendizagem existe quando alguém quer aprender e alguém quer ensinar. Sem um dos dois, é tudo inútil.”

 

 

*Fernando Fabbrini é roteirista, cronista e escritor, com quatro livros publicados. Participa de coletâneas literárias no Brasil e na Itália e publica suas crônicas também às quintas-feiras no jornal O Tempo

 

 

Dom total///