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Sabedoria e destruição

Descaso e destrato com intelectuais de renome e com as ciências são sinais do obscurantismo

 

 

Ricardo Galvão foi descrito pela Revista Nature como defensor da Ciência (Waldemir Barreto/Agência Brasil)

 

Eleonora Santa Rosa*

 

Intervalo de frescor, inteligência, firmeza, simpatia e extremo preparo acadêmico, um show de competência, conhecimento e espírito público, que conforta a todos aqueles que têm apreço, respeito e consideração à Ciência, à formação científica, à integridade profissional e pessoal, à estatura de pessoas de largo cabedal e profundo compromisso com a sociedade, com a preservação ambiental. Maravilha pura assistir, na última quarta, tarde da noite, na GloboNews, a entrevista com o ex-presidente do Inpe, Ricardo Galvão. Um cavalheiro com brios, dignidade e envergadura moral, atributos em falta no cenário político de hoje, no Brasil e no mundo, que nos brindou com informações, raciocínios, digressões, assertivas de grande importância e significado. Obviamente, não é necessário concordar com tudo. Por exemplo, no meu caso, com a defesa que faz do uso da energia nuclear no Brasil, mas é impossível não reconhecê-lo como figura central, de relevância mundial, em sua área de atuação.

Não à toa as homenagens redobradas que vêm recebendo aqui e no exterior por parte de organizações, publicações, instituições de inquestionável calibre e significado. Em meio aos insignificantes de plantão, que em algum momento voltarão à sua natural insignificância, aos perniciosos arrogantes de vários matizes, responsáveis, sobretudo, pela perpetração e expansão dos danos causados à Amazônia, e aos vendilhões do templo, que pululam em instâncias ministeriais, bom vê-lo e sabê-lo bem, com coragem para enfrentar e combater o que não pode ser tolerado, apaziguado ou minimizado em função das gravíssimas consequências à nossa mãe Gaia, que todos de bem e do bem precisam e devem defender.

Em suma, uma entrevista-bálsamo de inteligência fulgurante! Por outro lado, tristeza sem fim no dia seguinte, ao ler os jornais e tomar pé do desmantelamento do núcleo de pesquisa da Fundação Casa de Rui Barbosa, órgão do governo federal, hoje esdruxulamente vinculado ao Ministério do Turismo, crucial para a preservação de acervos históricos e literários de importância basilar para a cultura nacional. Foram exonerados de suas funções intelectuais, professores, ensaístas de porte internacional, cuja trajetória deveria ser motivo de orgulho e regozijo para todos nós, um verdadeiro atentado. Instituição de renome, berço de uma vasta produção de excelência no âmbito da literatura e da pesquisa histórica, dentre outras atividades, reúne arquivos de escritores como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Lúcio Cardoso, Pedro Nava, Vinicius de Moraes, apenas para citar alguns. Como informa o site da instituição (que deveria ser visitado constantemente dada sua relevância – www.casaruibarbosa.gov.br), “esses acervos constituem uma das principais fontes de pesquisa sobre a literatura e a vida intelectual brasileira”. Memória literária do país rumo à dizimação, verdadeiro crime de lesa-almapátria!

 

 

*Jornalista, editora, gestora e produtora cultural, foi diretora do Centro de Estudos Históricos e Culturais da Fundação João Pinheiro, ex-secretária de Estado de Cultura de Minas Gerais e ex-diretora executiva do Museu de Arte do Rio – MAR. Fundadora e diretora do Santa Rosa Bureau Cultural, é considerada umas das mais experientes e renomadas profissionais no campo do planejamento, gestão e estratégias de sustentação de instituições culturais no Brasil. Autora do livro ‘Interstício’.

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