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Como ficamos espiritualmente em forma em um período de coronavírus?

O que estamos buscando é o atletismo espiritual que nos prepara para atender às demandas que virão

 

A abnegação é, antes, um tipo de treinamento.

 

(lucas Favre/) Holly Taylor Coolman*

 

 

America Quando eu era criança, meu pai me mostrou uma cicatriz no dedo: uma linha branca e fraca que ganhou em algum momento difícil durante seus anos de crescimento. A história que me contou sobre isso não veio de sua infância, mas veio de mais tarde, quando era piloto da Força Aérea e estava prestes a deixar minha mãe e eu para ir à guerra do Vietnã. Enquanto se dirigia para esse país, meu pai sabia que os pilotos podiam ser forçados a saírem de seus aviões com fogo inimigo. Ele conhecia o risco e, se isso acontecesse, poderia ser capturado e virar prisioneiro. Sabia, além disso, que os prisioneiros de guerra às vezes eram forçados por seus captores a enviarem mensagens coagidas para casa, incluindo informações ou sentimentos falsos. A guerra poderia entrar em suas casas, de certo modo, entre eles e os que mais amavam. Então, meu pai pegou uma régua, mediu cuidadosamente a distância da ponta do dedo até a cicatriz e deu a minha mãe a medida.

Uma carta genuína, ele disse a ela, começará exatamente a essa distância do topo da página: nem mais, nem menos. Essa carta é uma carta minha, e você pode confiar no que diz. Qualquer outra carta, você precisará saber, chega até você em circunstâncias terríveis. Agora, esse tipo de coisa causa uma impressão forte em uma criança. Talvez seja uma das razões pelas quais me tornei uma pessoa que olha para o futuro, que se prepara. No momento presente, porém, parece que todos estamos nos tornando esse tipo de pessoa, gostemos ou não. No meio da atual pandemia, todos nós estamos nos descobrindo – lenta ou repentinamente, com profunda hesitação ou com determinação sombria – imaginando circunstâncias que só podem ser descritas como terríveis. Este é um momento para todos nós perguntarmos quais medidas devemos tomar e que conversas devemos ter. Aqui, a tradição cristã é um recurso rico para todos nós.

Os apelos a uma certa forma de prontidão, de fato, estão no coração dessa tradição desde o início. Ele ecoa pelo Novo Testamento como uma batida insistente. Ele nos pressiona a focar no que mais importa e a deixarmos de lado rapidamente as coisas que não importam. De certo modo, é possível pensar melhor nesta questão descrita por São Paulo como a forma da vida cristã. Associamos a ascese, e especialmente nosso próprio derivado, "ascetismo", à abnegação, mas, na visão paulina, isso nunca é um fim em si mesmo. A abnegação é, antes, um tipo de treinamento. O que estamos buscando é o atletismo espiritual que nos prepara para atender às demandas que virão. A imagem de um corredor, em particular, combina com a maneira como muitos de nós estamos nos sentindo agora: posicionados no ponto de partida, com os músculos tensos, os olhos carregados olhando à nossa frente, tentando imaginar como terminaremos esta corrida.

Estamos nos perguntando: estamos prontos para o que está por vir? Se considerarmos a forma dessa prontidão cristã, surge uma imagem mais completa. Acima de tudo, lembramos que a prontidão para a qual somos chamados não é apenas o resultado de nossos próprios esforços. Somos sustentados por um poder maior que o nosso. Não é simplesmente uma determinação de aço aquilo que precisamos. É uma obediência e cooperação com aquilo que é maior do que nós. O chamado para o treinamento espiritual está aí, mas também o lembrete de que “é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o fazer, de acordo com a boa vontade dele” (Filipenses 2,13). Se, neste momento, não nos sentimos prontos, podemos descansar um pouco na consciência de que alguém está trabalhando em nós e através de nós, atraindo-nos para planos que talvez nem compreendamos completamente ainda. Além disso, essa prontidão não é simplesmente uma questão individual.

Em um momento difícil, temos certas tarefas como indivíduos, mas essa corrida é aquela que iremos correr juntos, ajudando-nos e tocando em frente. A verdade é que estamos prontos de várias maneiras e podemos trazer nossa própria prontidão para tudo e todos. Ontem mesmo, meu filho de 11 anos e eu fizemos duas coisas. Tínhamos comida para levar a um amigo que estava em necessidade e não podia ir até o supermercado. Quando saímos, outra amiga mandou uma mensagem para perguntar se precisávamos de algo, e quando eu respondi que adoraríamos um pouco de fruta fresca, ela nos disse que poderíamos ir a qualquer momento. Ela tinha exatamente o que precisávamos. Juntos, tivemos o suficiente. Vemos só uma pequena parte do que está à nossa frente. Outros testes só surgirão à medida que avançamos. Teremos que fazer tudo o que pudermos para estarmos prontos. Também precisamos lembrar a nós mesmos que não corremos sozinhos. Confiaremos em Deus e nos sustentaremos uns aos outros. É um momento para oferecer o que temos: nossas habilidades, nossos recursos, nosso tempo, nosso amor. E sim, até nossas cicatrizes.

 

Publicado originalmente por America Tradução: Ramón Lara *Holly Taylor Coolman é professora assistente de teologia no Providence College em Rhode Island.

 

Dom Total///