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Morto pelo coronavírus, jornalista denunciou em áudios que foi forçado a trabalhar pelo SBT

Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia –

 

 

Vítima da Covid-19 numa tragédia da vida sob a pandemia, a morte do editor de imagens José Augusto Nascimento Silva, o Naná, do SBT-Rio, deve servir de reflexão para brasileiros e brasileiras, neste momento em que Bolsonaro e grandes empresários articulam o fim da quarentena.

 

A contaminação e morte de Naná, 57 anos, há 30 num dos maiores grupos de comunicação do país, propriedade de Silvio Santos, braço fiel e amigo do bolsonarismo, teve um roteiro semelhante ao que se verifica em vários ambientes de trabalho do país. Numa praga muito anterior ao novo coronavírus, sabemos que no Brasil trabalhadores são costumeiramente forçados a seguir no batente ainda que a saúde não esteja em ordem. Desta vez, contudo, a tragédia foi preservada por um elemento essencial — o jornalismo. Testemunha da própria morte, Naná gravou áudios de advertência pelo WhatsApp, denunciando os riscos que corria, revela Daniel Castro, na edição da noite desta segunda (13) da coluna Notícia da TV.

O depoimento é de grande utilidade para se compreender, num tempo de pandemia, a importância de garantir a preservação de vidas humanas. "Nenhum lugar no Rio de Janeiro tem mais casos suspeitos que no SBT. (…) Eu agora estou sob suspeita, inclusive com atestado de 14 dias que o doutor deu porque me calcei, sabe que não sou burro. Se tiver que processar essa turma eu vou processar. Acho uma irresponsabilidade tremenda", diz Naná. Qualquer cidadão que já pisou o chão de uma empresa brasileira é capaz de reconhecer o mundo que ele descreve. Pressionadas pelo andar de cima, muitas chefias costumam fechar os olhos para os sinais de alerta que envolvem problemas de saúde de funcionários. Se esse comportamento costuma ser rotina, em tempos de covid-19, pode levar uma pessoa à morte.

Naná revela num vídeo que uma apresentadora, Isabelle Rios, chegou a pedir dispensa do trabalho quando soube que o marido era suspeito da covid-19. Não foi atendida e teve de seguir trabalhando até que a doença do marido fosse confirmada. Como era fácil imaginar, a convivência de rotina, com grande número de colegas, acabou produzindo — provavelmente — um caso de contaminação em massa. Atualmente, dos 75 funcionários do jornalismo, 35 estão afastados com suspeita de covid-19. Entre a suspeita de Isabelle, o contágio e a morte de Naná, passaram-se 22 dias. Menos de um mês: o vírus é agressivo e veloz. O editor de imagem teve de ser internado no final de março e há quatro dias foi levado para a UTI, onde morreu nesta segunda-feira. A importância dessa tragédia não precisa ser sublinhada. Com seu vídeo-memória, José Augusto Nascimento Silva produziu uma glória do jornalismo brasileiro e mundial. Estará disponível para quem estiver interessado em compreender um período terrível da história humana. Correspondente de uma guerra onde homens e mulheres não morrem a tiros, mas são alvejados na trincheira da falta de respeito e do desprezo por suas vidas, Naná deixou um documento único, que deve ser debatido pelo STF, pelo Congresso e, acima de tudo, pela população que o bolsonarismo pretende conduzir como gado ao matadouro.

Alguma dúvida?

 

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