Brasil fará parte da terceira fase de testes da britânica e da chinesa e pode produzir milhões de doses.
A vacina CoronaVac é produzida a partir de cepas inativadas do novo coronavírus e está na terceira fase de testes (Dimitri Houtteman/Unsplash)
A semana começa com boas notícias a respeito das vacinas contra a Covid-19. As duas vacinas consideradas mais avançadas, a da Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica anglo-sueca AstraZenica, e a desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech deram resultados promissoras na segunda fase dos testes em humanos. Para ambas, laboratórios brasileiros faram parte da terceira fase de testes, considerado o mais importante e definitivo. As doses da vacina chinesa chegaram a São Paulo nesta segunda-feira (20). Nesta segunda-feira, cientistas da Universidade de Oxford publicaram artigo na revista científica The Lancet com os resultados dos testes realizados em 1.077 pessoas.
E são promissores, embora os testes em grande escala, que serão feitos também no Brasil, é que vão assegurar sua eficiência e segurança. Os resultados são das fases 1 e 2 da vacina. Já a vacina da Universidade de Oxford parece segura e treina o sistema imunológico, produzindo anticorpos e glóbulos brancos que podem combater o novo coronavírus. De acordo com o estudo publicado, a vacina – chamada ChAdOx1 nCoV-19 – está sendo desenvolvida a uma velocidade inédita e utilizou um vírus geneticamente modificado que causa o resfriado comum em chimpanzés. A modificação genética, bastante grande e complexa, foi realizada para não causar infecções em seres humanos e para que o vírus se “pareça” mais com o da Covid-19. Com as alterações, as células do nosso corpo “aprendem” a atacar a proteína da coroa do vírus, o que permite a invasão das células saudáveis. A produção de anticorpos provocada pela vacina ativa as células T, um tipo de glóbulo branco, ajudam a coordenar o sistema imunológico e são capazes de detectar quais das células do corpo foram infectadas e destruí-las, como a grande maioria das vacinas. Segundo o estudo, a produção de anticorpos e células T pelo corpo atingiram o pico 14 dias após a vacinação e os níveis de anticorpos atingiram o pico após 28 dias. O estudo não tem corrido por tempo suficiente para entender como pode ser a imunidade a longo prazo. Para a Organização Mundial de Saúde, esta vacina é a que se encontra em estágio mais avançado de estudos e testes. Os resultados demonstram que a vacina é segura, mas apresenta efeitos colaterais.
Nenhum dos efeitos relatados foi perigoso, mas 70% das pessoas no ensaio desenvolveram febre ou dor de cabeça, o que pode ser tratado com paracetamol ou outros remédios para gripes comuns. De acordo com a professora Sarah Gilbert, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, diz: "Ainda há muito trabalho a ser feito antes que possamos confirmar se nossa vacina ajudará a gerenciar a pandemia da Covid-19, mas esses primeiros resultados são promissores”. A vacina de Oxford está sendo testada em diversos países, entre eles o Brasil e poderá ter o registro liberado em junho de 2021. A informação foi dada na última quarta-feira (15), em entrevista à GloboNews, por Soraya Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que coordena os testes no país. Normalmente, a vacina levaria 18 meses para ser aprovada.
Mas os cientistas estão confiantes de que conseguirão encurtar este período para 12 meses se os resultados forem positivos. Por isso segundo a reitora da Unifesp, tendo os primeiros resultados no fim deste ano, o registro já poderia ser obtido até meados do ano que vem. Essa redução é possível porque a vacina está sendo testada simultaneamente em 50 mil pessoas em todo o mundo, um número recorde. No Brasil, são 5 mil pessoas: duas mil em São Paulo, duas mil na Bahia e mil no Rio de Janeiro. A redução de tempo foi possível também por se tratar de uma vacina emergencial. As outras que também estão na fase três de testes são as versões da americana Moderna e a da chinesa Sinovac, que também será testada no Brasil. Vacina chinesa As doses da vacina chinesa que será testada no Brasil contra o coronavírus chegaram a São Paulo na madrugada desta segunda-feira (20) e aguardam liberação no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, de acordo com informações do Instituto Butantã. A previsão feita pelo governo de São Paulo e pelo próprio Butantã em entrevistas nas últimas semanas é de que os testes com voluntários comecem ainda hoje. A vacina foi criada pelo laboratório chinês Sinovac Biotech e é vista pelo diretor do Butantã, Dimas Covas, como "uma das mais promissoras" entre as testadas no mundo.
Ela já teve o aval da Anvisa para ser testada no país. No Brasil, ela será testada por 12 centros de pesquisa espalhados por São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Distrito Federal. Para verificar a eficiência, parte dos voluntários receberá um placebo. A vacina será testada exclusivamente em 9 mil voluntários que trabalham na área de saúde. O custo da testagem é estimado em R$ 85 milhões e prevê a transferência de tecnologia para que a vacina chinesa possa ser produzida no Brasil. "Se a vacinação se mostrar eficiente, nós vamos ter a disponibilidade da vacina imediatamente. Sessenta milhões de doses estão reservadas para o Brasil, que será suficiente para cobrir as necessidades já previstas. O Ministério da Saúde estabelecerá os critérios nacionais de aplicação da vacina", afirmou Dimas Covas. A vacina CoronaVac é produzida a partir de cepas inativadas do novo coronavírus e está na terceira fase de testes, quando pode ser administrada a um número maior de pessoas. Parte dos voluntários que participarão do estudo clínico irão receber a vacina e outro grupo deve receber um placebo, sem efeito. O objetivo é verificar se há o estímulo à produção de anticorpos para proteção contra o vírus.
Produção de doses
De acordo com a Anvisa, os estudos da primeira e segunda fases, realizados em humanos saudáveis e em animais, mostraram segurança e capacidade de provocar resposta imune "favoráveis". "A partir de setembro deste ano, estarão disponíveis doses em um volume muito grande, em torno de 100 milhões de doses. Essa fábrica da Sinovac terá capacidade de produzir, até o final do ano, 300 a 500 milhões de doses", disse Covas durante coletivas de imprensa anteriores, quando afirmou também que pretende concluir os testes nos 9 mil voluntários até outubro. Esta é a segunda vacina a receber autorização para testes no país. Em junho, a Anvisa liberou a realização de ensaios clínicos de uma vacina produzida na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Em um primeiro momento, o país irá produzir 30,4 milhões de doses da vacina produzida em Oxford, previstas para dezembro deste ano e janeiro de 2021 por meio de uma parceria com a universidade e com o laboratório AstraZeneca. Segundo o Ministério da Saúde, com a confirmação de que o imunizante – considerado o mais promissor em fase de testes – é eficaz e seguro, essas doses poderão ser distribuídas imediatamente para a população. A fabricação ficará por conta da Bio-Manguinhos, entidade da Fiocruz responsável pela produção de vacinas, e o investimento pode chegar a US$ 288 milhões.
Resultados positivos
As farmacêuticas Pfizer e BioNTech, que também estudam uma vacina contra a Covid-19, anunciaram resultados positivos nos estudos alemães da profilaxia. De acordo com as farmacêuticas, foram verificadas respostas imunes "fortes" e em velocidade anterior ao prazo estimado das chamadas células T, consideradas fundamentais para protegerem um organismo do novo coronavírus. A pesquisa não registrou efeitos colaterais graves em indivíduos que receberam a vacina. As reações, de acordo com o comunicado, foram dependentes da dose, transitórias e de intensidade entre leve e moderada. Os eventos adversos mais agudos foram sintomas de gripe e reações no local da injeção. "Situações que foram resolvidas espontaneamente ou poderiam ser gerenciadas por medidas simples", diz a nota. Os avanços ainda precisam ser avaliados por pares para posterior publicação em revista científica.
Agência Estado/Dom Total///