Dos 100 municípios que mais desmataram nesse período, 40 estão em Minas Gerais.
A Mata Atlântica está em presente 17 estados brasileiros, dos quais 14 são costeiros (Raphael Alves/AFP)
Giulliana Santos
Entre 2018 e 2019, 71% do desmatamento da Mata Atlântica ocorreu em apenas 100 cidades que abrigam a floresta nativa. O número corresponde a 3% dos 3.429 municípios onde o bioma é encontrado. Os dados são do relatório do Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) realizada desde 2000. Segundo o relatório, cerca de 400 cidades no total desmataram a Mata Atlântica neste período, pouco mais que 10% dos municípios do bioma. No mesmo período, foram desmatados 14.502 hectares da floresta. O estudo aponta um um crescimento de 27,2%, após dois períodos consecutivos de queda, comparado com 2017-2018, que foi de 11.399 hectares. Para a diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica e coordenadora do estudo, Marcia Hirota, os dados reafirmam o alerta feito pela entidade há anos e que é ignorado pelas autoridades. "É de conhecimento das autoridades onde ocorre o desmatamento da Mata Atlântica ano a ano. São poucas regiões, porém com altas taxas de desmatamento e impacto ao meio ambiente. Zerar o desmatamento no bioma passa por priorização do poder público e atuações estratégicas nestes locais", diz ela.
Minas Gerais
O município de Manoel Emídio, no Piauí, foi o que mais desmatou a Mata Atlântica entre 2018 e 2019, com o total de 879 hectares desflorestados. Gameleiras, cidade do interior de Minas Gerais, é a segunda no ranking de desmatamento, com 434 hectares suprimidos. Outro município de Minas Gerais, Jequitinhonha, desmatou 171 hectares do bioma e aparece em nono lugar do ranking nacional. Dos 100 municípios que mais desmataram, 40 estão em Minas Gerais. O estado mineiro, aliás, aparece com frequência também no levantamento que aponta as 10 cidades que mais desmataram na última década. Os municípios de Jequitinhonha, Ponto dos Valentes e Águas Vermelhas ocupam as terceira (6.174), quarta (5.606) e quinta (5.423) posições no ranking de hectares desmatados nos últimos 10 anos. No período entre 2018 e 2019, no entanto, as três cidades diminuíram os hectares desmatados e saíram do topo da lista. Os municípios entraram em 2012 para o chamado Triângulo do Desmatamento da Mata Atlântica, uma região de matas secas no noroeste mineiro em que o bioma nativo foi suprimido para a produção de carvão e depois para a plantação de eucalipto.
Anos eleitorais
O diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica Mario Mantovani reforça que o papel dos governadores e prefeitos na preservação ambiental. "As autoridades não podem se esconder no argumento de que os desmatamentos vêm de um histórico de outras gestões. É isso que dá, ano após ano, a sensação de impunidade e liberdade para os desmatadores avançarem sobre o bioma", afirma. O Atlas dos Municípios da Mata Atlântica aponta que, em anos de eleições municipais, o número de municípios desmatadores costuma registrar um aumento, sendo cerca de 500 em 2012 e 550 em 2016, os maiores índices da década. "Estamos novamente em um ano eleitoral e é importante evitar este padrão. Ferramentas e tecnologia para isso existem e nossos dados estão sendo disponibilizados para as autoridades e para a sociedade", afirma Mantovani.
Mata Atlântica
Extremamente rica em diversidades de espécies, a Mata Atlântica está presente em 15% do território brasileiro. O bioma está em 17 estados, dos quais 14 são costeiros. Uma das florestas mais ameaçadas do planeta, a Mata Atlântica tem hoje apenas 12,4% de sua floresta original, 80% localizado em áreas privadas. Mais da metade da área urbana brasileira é localizada próxima do bioma, desde pequenos municípios até as grandes cidades e metrópoles do país. A Mata Atlântica é casa de aproximadamente 70% da população brasileira.
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