Decisão foi unânime e investigação contra o religioso foi arquivada.
Padre Robson mantém a Associação Filhos do Pai Eterno e se declara inocente (Afipe/Divulgação)
Depois de ser acusado de lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Vendilhões, padre Robson de Oliveira foi inocentado por unanimidade pelo Tribunal de Justiça de Goiás, que arquivou a investigação. O religioso foi acusado pelo Ministério Público de Goiás e teria supostamente movimentado R$ 2 bilhões em 10 anos, por meio da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), com sede em Trindade (GO) A decisão do desembargador Nicomedes Domingos Borges foi acompanhada por unanimidade pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás. Desta forma, fica reconhecido que não houve qualquer ilicitude praticada pelo religioso. Durante a exposição da defesa, o advogado do padre, Pedro Paulo de Medeiros, questionou se o volume do ativo da associação seria suficiente para uma investigação. "Não seria", declarou: "Dinheiro de fiéis aplicado na evangelização. Se não há crime antecedente não há lavagem de dinheiro. Como é gerido o dinheiro da associação, só deve caber a associação.
" Ele lembrou, ainda, que a operação só teve início após padre Robson ser extorquido. "Era vítima. Com base de material de extorsão é que hoje enseja a presente investigação." Para Pedro, ainda, tudo se origina de prova ilícita, por tanto, não tem validade. Cléber Lopes, outro advogado de defesa, afirmou que a decisão dos magistrados reforça que "a associação presidida pelo pároco é de natureza privada e não houve qualquer desvio de valores, sendo certo que todos os investimentos foram aprovados pelos membros da associação". "A decisão do tribunal reconhece o que a defesa já havia dito há algum tempo. Esperam, com isso, que o sacerdote possa ter a sua biografia restaurada", diz o advogado. O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) informou que aguarda ser notificado para tomar as medidas cabíveis. O advogado de defesa Pedro Paulo de Medeiros alegou o órgão não tem competência para investigar a associação, argumentando que as provas da Operação Vendilhões são ilegais por terem sido obtidas no âmbito de um caso no qual o padre foi vítima de extorsão de dinheiro.
"Tudo se inicia com prova ilícita, oriunda do hackeamento e, portanto, tudo que dela advém, também é ilícito, determinando o trancamento", completou. O procurador de Justiça Abrão Amisy Neto, que representou o MP, negou que as provas obtidas são ilícitas e que elas não têm "a menor relevância no caso". "O que ocorreu é que em virtude do pagamento ou da tentativa de pagamento (da extorsão), o próprio investigado levou informações que geraram uma investigação. Quando se estava investigando A, fortuitamente, descobriu-se B", destacou. Em seu despacho, o desembargador reconheceu as provas como legais, mas constatou que, de fato, eram consideradas atípicas, ou sejam, não eram crimes. O padre foi investigado no âmbito da Operação Vendilhões, deflagrada pelo MP em 21 de agosto, para apurar denúncias de desvios de doações de fiéis à Afipe, as quais deveriam ser destinadas à construção do novo santuário e a ações de evangelização, mas estariam sendo usadas para comprar, entre outros bens, casas de luxo e fazendas milionárias. Diante das acusações, padre Robson se afastou do cargo temporariamente, assim como do cargo de reitor da basílica.
Providências
Na segunda-feira (5), integrantes do Ministério Público de Goiás (MP-GO) se reuniram com o novo presidente da Afipe, padre André Ricardo de Melo, visando estabelecer adequação da gestão da associação às normas previstas na legislação, o que, segundo o MP-GO, requer alteração no estatuto da entidade. “Objetivando preservar as atividades de interesse social desenvolvidas pela Afipe é que se propõe uma restruturação administrativa que garanta efetiva fiscalização, prestação de contas e deliberação pelos órgãos colegiados”, apontou a coordenadora da Área de Patrimônio Público e Terceiro Setor do Centro de Apoio Operacional do MP-GO, Fabiana Lemes Zamalloa do Prado. O padre André Ricardo garantiu que é também interesse da entidade fazer todas as adequações necessárias para que a Afipe cumpra sua missão primordial, que é, segundo ele, ser um braço evangelizador do Santuário do Divino Pai Eterno. O atual gestor adiantou que já foram tomadas medidas por parte da associação para esclarecer os fatos – contratação de uma auditoria independente, cujos trabalhos tiveram início nesta segunda (5), a substituição da diretoria jurídica e o início do processo de rescisão com a assessoria contábil. De acordo com os promotores que conduzem as investigações, cerca de 90% das testemunhas já foram ouvidas e 70% dos documentos, analisados. Eles destacam que algumas testemunhas ouvidas, que haviam sido apontadas como supostos "laranjas", admitiram que desconheciam que seus nomes eram usados de forma indevida. A investigação aguarda ainda o acesso aos telefones apreendidos durante a operação e a realização de interrogatórios. Dom Total///