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ONU condena ‘racismo estrutural’ no Brasil e manda recado ao negacionismo do governo

Alto Comissariado de DH pede investigação independente sobre a morte de João Alberto.

 

Pessoas protestam pela morte de João Alberto Silveira Freitas em Porto Alegre, em 23 de novembro de 2020 (Silvio Avila/AFP)

 

 

Isabela Amorim Santiago

 

Às vésperas do Dia da Consciência Negra, um assassinato brutal acontece em um supermercado de Porto Alegre. A vítima era João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, espancado até a morte por dois seguranças do Carrefour. A cena é chocante. Imagens e vídeos gravados por pessoas presentes no local na hora do crime revelam a violência com que Beto, apelido de João Alberto, acabou sendo morto. A barbárie motivou pronunciamento das Nações Unidas a respeito do caso. Nesta terça-feira (24), Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, disse à imprensa em Genebra que o espancamento mortal de João Alberto é um exemplo do "racismo estrutural" do país e pediu uma investigação independente e reformas urgentes. A porta-voz declarou que a morte foi "um exemplo extremo, mas infelizmente muito comum, da violência sofrida pelos negros no Brasil". "(o caso) oferece uma clara ilustração da persistente discriminação estrutural e do racismo enfrentados pelas pessoas de ascendência africana", afirmou, destacando que os funcionários do governo têm a responsabilidade de reconhecer o problema do racismo persistente para conseguir resolvê-lo. As declarações vão de encontro ao discurso oficial do governo brasileiro. É uma clara referência ao discurso do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que negou a existência do racismo no Brasil. Tal qual seu vice, o presidente Jair Bolsonaro minimizou o racismo estrutural no Brasil, um país em que cerca de 55% de uma população de 212 milhões de pessoas se identifica como negra ou parda. Bolsonaro disse que ele mesmo é "daltônico" nesta questão. O episódio desencadeou uma série de manifestações pelo país e pedidos de boicote à rede de supermercados Carrefour, exigindo respeito às vidas negras.

A empresa, denunciada no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), anunciou a criação de um fundo para promover a inclusão racial e o combate ao racismo, com aporte inicial de R$ 25 milhões. Segundo a porta-voz do Alto Comissariado da ONU, "o racismo estrutural, a discriminação e a violência que os afrodescendentes enfrentam no Brasil estão documentadas por dados oficiais". Ravina Shamdasani citou estatísticas que mostram que "o número de vítimas afrobrasileiras de homicídio é desproporcionalmente mais alto do que outros grupos". "Os brasileiros negros sofrem racismo estrutural e institucional, exclusão, marginalização e violência com, em muitos casos, consequências mortais", destacou. Embora o Brasil tenha aberto uma investigação sobre a morte de Freitas, Shamdasani pediu que seja "rápida, exaustiva, independente, imparcial e transparente" e insistiu que deve-se analisar se "os preconceitos raciais desempenharam um papel" em sua morte.

 

 

Dom Total com agências///