O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador divulgou os resultados preliminares do segundo turno das eleições presidenciais, que dão a vitória ao candidato de direita da aliança Criando Oportunidades (Creo), Guillermo Lasso, sobre o postulante de esquerda, Andrés Arauz, da União pela Esperança (Unes).
Ao final desse processo, será realizada a apuração oficial, com checagem voto a voto. O resultado deve ser divulgado nos próximos dias e, então, a confirmação oficial do próximo presidente para os próximos cinco anos.
Com mais de 97% das atas apuradas, Lasso aparece com cerca de 52,5% dos votos válidos, contra 47,5% para Arauz.
Na noite deste domingo (11), o candidato progressista fez um pronunciamento sobre o resultado, declarando que iria entrar em contato com Lasso para parabenizá-lo pela vitória. "Demonstrarei a ele nossas convicções democráticas de seguir contribuindo para o país e de nos opormos quando se busque beneficiar somente a poucos", disse.
"À nossa militância e a todos que confiaram em nós, quero agradecer de todo o coração, jamais os esqueceremos. Estaremos aí trabalhando, estaremos defendendo nossos cidadãos", e completou: "Hoje não é o final, é o começo de uma nova etapa de reconstrução do poder popular".
Por sua vez, o novo presidente de direita divulgou uma mensagem de agradecimento em suas redes sociais. "Obrigada Equador por demonstrar seu apoio nas urnas. Como corresponde, vamos esperar os resultados oficiais. Estamos positivos e com fé lá em cima", afirmou Lasso.
Quem é Guillermo Lasso?
Se confirmada a vitória apontada pela contagem rápida preliminar dos votos, o próximo mandatário equatoriano será Guillermo Lasso. Em seu provável mandato, é possível que seu governo seja caracterizado por uma continuação do neoliberalismo marcante no atual governo de Lenín Moreno, e talvez até mais agressivo, encarnando uma política de retrocesso nas questões sociais e até nos direitos humanos, de acordo com o balanço de analistas.
Guillermo Lasso, 65 anos, é um poderoso homem de negócios e proprietário de holdings financeiras que incluem o Banco Guayaquil, um dos maiores do Equador.
Esta é terceira vez que ele tenta se tornar presidente do país. Em 2013, ele ficou em segundo lugar depois da vitória de Rafael Correa — que apoiou Andrés Arauz na eleição de 2021. Naquela ocasião, Correa venceu para seu segundo mandato com mais de 57% dos votos. Em 2017, Lasso perdeu para Lenín Moreno no segundo turno, que na época da eleição também era apoiado por Correa, mas que depois rompeu e se tornou o oposto do ex-mandatário.
Aos olhos de alguns analistas, Lasso é o candidato que representa os ideais daqueles que desejam dar continuidade ao modelo econômico neoliberal no país e, portanto, tem o apoio das elites empresariais e dos setores mais conservadores da sociedade.
O candidato da aliança Creo também é lembrado na memória equatoriana de duas formas, por sua carreira como banqueiro de sucesso que fez uma fortuna de milhões, e por seu papel no dramático episódio da crise financeira de 1999, conhecido como o Feriado Bancário.
O Feriado Bancário foi uma das piores crises da história do país andino e que afetou diretamente as economias de milhões de famílias e provocou a desvalorização do sucre (moeda nacional) e a dolarização da economia.
Durante esse período, Lasso, que era governador da província de Guayas, costa equatoriana, e também vice-presidente da Associação de Bancos Privados do Equador, se tornou ministro de Economia em agosto de 1999, cargo que ocupou durante um mês.
De acordo com a imprensa, na época, Lasso, como membro do setor bancário, acumulou sua fortuna privada, graças à especulação sobre o preço na bolsa dos Certificados de Depósitos Reprogramáveis (CDRs), que eram comprovantes dados aos equatorianos após o congelamento de suas contas.
Em 8 de março de 1999, conforme o decreto do então presidente Jamil Mahuad, as contas de milhões de equatorianos foram congeladas ao longo de um ano a fim de salvaguardar os interesses do setor bancário, que acabou entrando em bancarrota.
Uma medida do congelamento dos depósitos foi a emissão de CDRs para os cidadãos, em que as pessoas que precisavam de seu dinheiro mas não podiam esperar um ano podiam resgatá-lo, mas com uma penalidade entre 40% e 50% do valor real, ou seja, para cada 100 dólares se recebia apenas 50 ou 60 dólares.
Os banqueiros começaram a especular sobre esta tragédia trocando os mesmos CDRs pelo seu valor real, isso quer dizer que os bancos ficaram com os US$ 40 ou 50 que não lhes correspondiam. Como se isso não fosse suficiente, foi o próprio Estado que comprou de volta esses CDRs dos bancos por 100% de seu valor, através da Corporação Financeira Nacional (CFN).
Entre 1999 e 2002, Lasso aumentou seu capital de US$ 1 milhão para US$ 31 milhões (graças à especulação dos CDRs), de acordo com informações baseadas na Superintendência de Bancos do Panamá e nos vazamentos dos Panama Papers. Ele também foi ligado a 49 empresas em paraísos fiscais (offshores), para fugir dos impostos, o que lhe permitiu acrescentar sua riqueza.
Entretanto, as consequências do Feriado Bancário tiveram um impacto radical na vida das famílias equatorianas e provocaram o maior êxodo migratório da história do país. Mais de 2 milhões de cidadãos foram forçados a emigrar em busca de melhores oportunidades de vida, rumo a países como os Estados Unidos e a Espanha.
Mais recentemente, segundo um relatório do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (CELAG), em plena pandemia, o Banco de Guayaquil, de propriedade do candidato presidencial, foi também um dos bancos que mais aumentou seus lucros em 2020, crescendo 26% em comparação com 2019.
A estas controvérsias atuais e passadas, deve ser acrescentada sua posição conservadora sobre questões sociais, pois ele é membro do Opus Dei, a ala mais conservadora do catolicismo.
Lasso se opôs abertamente à descriminalização do aborto, mesmo em casos de estupro, e tem sido crítico quanto à proibição das clínicas de "desomosexualização", centros que funcionam no mais absoluto sigilo, utilizando de táticas de tortura e que provocaram um alerta na comunidade LGBTQI+ e ativistas de direitos humanos.
*Fonte: Brasil de Fato / Foto: Cristina Vega Rohr (AFP / CP / Brasil de Fato)