Apesar dos esforços de Lula, entretanto, rejeição a ele se mantém extremamente alta e nas redes, tem o mesmo peso da rejeição a Bolsonaro.
Redação 30/08/2021 11:55
Pesquisa semanal de popularidade do governo, realizada pelo Modalmais em parceria com a consultoria AP Exata e divulgada na última sexta-feira ouviu 145 cidades de todos os estados brasileiros entre os dias 23 e 27 de agosto. Segundo o levantamento, houve melhora na avaliação do governo ao longo da semana, mas dentro da margem de erro, que é de 3 pontos para mais ou para menos. Apesar disso, os índices de rejeição seguem em patamar bastante alto. Na sexta-feira, 48,4% da população avaliavam a gestão Bolsonaro como ruim/péssima; 31,2% classificam como boa/ótima; e 20,4% como regular. Governistas têm investido muitos esforços na divulgação das manifestações marcadas para o dia 7 de setembro.
Estando o presidente em um momento de baixa popularidade, é preciso demonstrar força nas ruas. Assim, utilizando todas as armas que possui, o Planalto conseguiu mobilizar pastores evangélicos, artistas, forças militares da reserva e até mesmo algumas da ativa, que não temem represálias ao defenderem o Bolsonarismo de forma explícita. O próprio presidente já afirmou que estará nos protestos de Brasília e da Avenida Paulista. No entanto, apesar desse profundo esforço, Bolsonaro não tem conseguido falar para além da sua bolha. Sua capacidade de mobilização atualmente restringe-se aos convertidos, conforme o que se observa nas redes. Se vai haver mais público ou menos público vai depender exclusivamente do estímulo que os eleitores de Bolsonaro terão para sair de casa: é um eleitor profundamente militante e atuante nos meios virtuais, mas que, ao ser chamado às ruas no início de agosto para defender o voto impresso, não compareceu conforme as expectativas de lideranças governistas.
Quando o assunto é polaridade de sentimentos, após ter alcançado um volume de menções positivas no Twitter, que ultrapassou os 40% em alguns dias na primeira quinzena de agosto, sobretudo por conta da campanha pelo voto impresso, esta semana consolidou a tendência e baixa na imagem do presidente da República. No imaginário das redes, os caminhoneiros ainda fazem parte da base de apoio do presidente. Tanto que tem circulado por grupos bolsonaristas no WhatsApp a informação de que a categoria poderá fazer uma greve no dia 7 de setembro, em apoio ao governo. No entanto, as menções aos caminhoneiros representam apenas 7,8% das conversações sobre os protestos. De uma forma geral, a categoria está desmobilizada, mas parte dela, sobretudo a que atende aos grupos econômicos próximos do presidente da República, poderá ser persuadida a aderir às manifestações.
Entre os profissionais autônomos a situação é diferente. Tanto que, diante da alta do diesel, entidades que os representam tentaram, em vão, liderar uma paralisação da categoria ao longo deste ano. O que se observa nas redes é que, até o momento, não há um engajamento capaz de paralisar parte expressiva da frota, como ocorreu em maio de 2018. Observamos que, ao longo da semana, a militância bolsonarista se viu obrigada a atenuar o discurso de rompimento democrático. Isso ocorreu após a oposição e a imprensa reforçarem a ideia de que há grupos mais radicais fazendo apologia a um golpe. Entraram nessa narrativa os policiais militares e entidades representativas dessa categoria. Já as Forças Armadas foram classificadas como mais distantes de um eventual apoio à uma tentativa de radicalização por parte do presidente da República.
O próprio comandante do Exército fez questão de fazer referência à Constituição em cerimônia que comemorava o Dia do Soldado. O evento, inclusive, contou com a presença de Bolsonaro, que preferiu não discursar. Entre os opositores, João Dória foi o mais enfático, ao declarar que havia risco de radicais invadirem o Congresso e o STF, durante as manifestações do dia 7. Imediatamente após essa fala do governador de São Paulo, muitos bolsonaristas foram às redes reiterar que os protestos pró-governo são pacíficos. O próprio presidente da República afirmou isso em sua live semanal, evitando cair na armadilha criada pela oposição. No entanto, pode ser que as lideranças à frente dos protestos não consigam dissuadir manifestantes mais raivosos.
A invasão das sedes dos Poderes seria, certamente, a fotografia mais comemorada pelos adversários do presidente da República. Já o engajamento em torno da CPI da Covid tem reduzido nas redes. O impacto das investigações já não consegue pautar os internautas, como ocorreu nos primeiros meses de trabalho. Apesar disso, está cristalizada a ideia de que houve tentativas de corrupção na aquisição das vacinas e que lobistas próximos da família do presidente da República e de militares alocados no governo agiram com interesses escusos. Por outro lado, a falta de provas cabais de danos ao Erário por conta de contratos suspeitos, fez com que arrefecessem as conversas sobre a presença de corrupção na gestão Bolsonaro.
Governistas insistem em bater na tecla de que os casos levantados pela CPI não se concretizaram. Também a crise hídrica esteve na pauta da semana, sobretudo por ser a responsável pela crise energética que se avizinha. O fantasma do racionamento voltou a pautar as conversas online, bem como ao anunciado aumento da conta de luz. A classe média tem se queixado da inflação de forma rotineira nas redes e dá sinais de que chegou ao limite, se mostrando profundamente indignada com os constantes aumentos dos alimentos, combustíveis, aluguel e agora energia. Muitos perfis acusam o governo de inação. A fala de Paulo Guedes, tentando diminuir o impacto dos aumentos, levou a mais uma onda de críticas a ele e à gestão econômica do país. Os esforços de Guedes para dizer que a economia caminha bem têm sido ironizados pelos internautas.
A credibilidade do ministro está bastante reduzida nas redes. Já a tentativa do presidente da República de envolver os governadores no problema da inflação, insinuando que sem a redução do ICMS ele não poderá resolver sozinho a questão, não foi bem vista. Os internautas não adotaram essa narrativa, apesar de a militância bolsonarista insistir nesse ponto. A incursão de Lula pelos estados do Nordeste marcou o início de fato da campanha de articulações em torno da candidatura do ex-presidente. A conversa que obteve com lideranças de várias vertentes e a receptividade dele entre nomes fortes de partidos do Centrão acendeu a luz amarela entre os que defendem a reeleição de Bolsonaro. Lula tem sido veemente ao afirmar que o Centrão não irá abraçar Bolsonaro como querem os apoiadores do atual presidente.
Ao dizer isso, deixa aberta a porta para negociar com os partidos que hoje fazem parte da base do governo. A imprensa embarcou na ideia de que o Centrão está rachado e chegou a apostar que alguns caciques desse grupo acreditam que Bolsonaro será derrotado até mesmo no primeiro turno. É uma visão que aparentemente favorece uma terceira via, mas que acaba por fortalecer a candidatura petista, uma vez que tanto Ciro Gomes quanto João Dória ou Eduardo Leite, expoentes dessa via que se tenta erguer, não conseguem decolar. Lula também se apressou em negar a imagem de que estaria velho demais para assumir a Presidência. Divulgou uma foto ao lado da namorada, trajando roupas de academia, buscando demonstrar que está em plena forma física.
A imagem viralizou as redes, com um impacto majoritariamente positivo. Mas, apesar dos esforços do ex-presidente, a rejeição a ele se mantém extremamente alta. Nas redes, ela tem o mesmo peso da rejeição a Bolsonaro. Ambos, neste momento, apresentam um alto grau de toxidade, mas, se não houver um nome para reverter essa polarização, teremos eleições entre o antipetismo e o antibolsonarismo.
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