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Apesar de tumulto em seis horas de depoimento, cúpula da CPI da Covid vê Luciano Hang como “réu confesso”

Empresário negou acusações de que financiou difusão de notícias falsas e tratamento ineficaz contra Covid.

 

Comando da CPI diz ter provas do contrário. Foto: Agência Senado.

 

 

Em uma sessão tumultuada do começo ao fim, o empresário bolsonarista Luciano Hang prestou mais de seis horas de depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (28) acompanhado de uma “tropa de choque” de senadores governistas. Hang levou à comissão cartazes, tentou ditar o andamento dos trabalhos e irritou parlamentares independentes e de oposição ao tentar, segundo eles, fazer a propaganda da própria empresa e de tratamentos ineficazes contra a Covid. Houve tumulto, e senadores reclamaram da atitude de “deboche” do empresário. “O depoente de hoje na CPI debochou das quase 600 mil mortes da Covid. Foi impiedosamente desmascarado, por ele mesmo, em suas mentiras, fraudes e falácias”, disse o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

O dono da rede Havan foi chamado a prestar depoimento porque a CPI identificou indícios de envolvimento do empresário na disseminação e no financiamento da divulgação de conteúdo falso em redes sociais, além de participação no suposto “gabinete paralelo” e na propagação de remédios sem eficácia para a Covid-19. Luciano Hang se negou a firmar o compromisso de dizer a verdade durante a sessão. Aos senadores, o empresário contestou, logo no início, todas as acusações que recaem sobre ele. “Eu quero afirmar aqui nesta Casa do povo, com a consciência tranquila e com a serenidade de quem tem a verdade a seu lado, que não conheço, não faço e nunca fiz parte de nenhum gabinete paralelo. Nunca financiei nenhum esquema de fake news e não sou negacionista. Sou apenas um brasileiro que sonha viver num País melhor, que deu a cara a tapa e que está apanhando por isso”, afirmou.

“Material suficiente”

Apesar da fala de Hang, uma série de vídeos que indicavam a atuação do empresário, principalmente na disseminação de remédios sem eficácia, foram apresentados ao longo da sessão. Em uma das gravações, Hang apresentava um “protocolo”, composto por hidroxicloroquina e ivermectina – medicamentos ineficazes para a doença –, inclusive indicando a dosagem. “Nós já temos material suficiente para indicar todos os ilícitos cometidos pelo senhor Luciano Hang. Temos vídeos, temos áudios, temos ele falando. Mas foi bom que ele viesse, porque ele confirmou tudo”, declarou o senador Humberto Costa (PT-PE). “O senhor é réu confesso”, disse Costa a Hang.

Relator da comissão, o senador Renan Calheiros ressaltou que a relação de Hang com fake news é alvo de investigação pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e que o empresário teve a quebra de sigilo fiscal quebrada. “Em julho, Hang foi silenciado nas redes sociais e teve suas contas suspensas por ordem judicial, acusado de fazer parte de um esquema virtual de insultos, ameaças e notícias falsas contra o Supremo Tribunal Federal, montado pela chamada milícia digital. Esta CPI teve acesso a conversas e interceptações envolvendo o empresário e sua participação no financiamento de sites de desinformação, que ficam evidentes, que restam comprovados”, afirmou o relator. Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) chamou Hang de “negacionista” e defendeu que pessoas que tomaram remédios propagados por ele e tiveram efeito colateral processem o empresário.

“Todos os efeitos colaterais, a responsabilidade é do verde e amarelo aqui, está certo? Se o Ministério Público Estadual de Santa Catarina atuar em defesa do povo, tem que agir contra esse cidadão. Não é esperar o relatório da CPI, não, porque o Ministério Público de São Paulo entrou – tardiamente, mas entrou. Não dá para esperar, não”, afirmou Aziz. A comissão aprovou nesta quarta requerimento que pede que o Ministério Público de Santa Catarina envie eventuais cópias de inquéritos ou investigações contra Hang por recomendar remédios ineficazes, distribuir esses medicamentos ou por propagar informações falsas sobre a pandemia. O requerimento também pede que Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) envie esclarecimentos e cópias de apurações contra eventual omissão por parte do MP-SC diante dos atos realizados pelo empresário.

Arrecadação e contas no exterior

Durante a audiência, Luciano Hang confirmou que arrecadou dinheiro para a compra e distribuição do chamado “kit Covid”. Após tergiversar três vezes diante de questionamento da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), o empresário acabou admitindo. “Fiz, está na rede social. Fiz e doamos o dinheiro. Nós arrecadamos dinheiro, damos para o hospital para comprar remédios”, afirmou. A doação, contou, não foi feita às prefeituras, mas sim aos hospitais. A senadora reforçou que nenhuma política pública “pode acontecer sem um amparo científico”. “No momento em que o senhor se reúne na sua cidade com vários empresários, faz a arrecadação para compra de um medicamento que não tem eficácia comprovada e faz a distribuição, o senhor está indo ao contrário daquilo que é determinado na legislação brasileira.

E está aqui a fotografia muito clara, para o Brasil inteiro ver, contra a legislação brasileira, que é proibindo esse tipo de prática. É uma prática, sr. Luciano, que pode resultar na vida das pessoas. O senhor sabe disso, não é?”, indagou Eliziane. Aos senadores, Hang também admitiu que mantém contas no exterior e empresas offshore. A CPI investiga justamente se o empresário usou essas empresas para financiar a propagação de fake news sobre a pandemia. “Os indícios são de que essas offshores fora do Brasil é que impulsionavam, faziam o pagamento, inclusive pagamentos altíssimos à Alemanha”, afirmou Omar Aziz.

 

 

 

 

O Sul///