Conferência Youth4Climate em Milão coloca pressão sobre os líderes de 40 países e a COP26
Jovens marcham nas ruas de Milão exigindo ações para combater o aquecimento global (Miguel Medina/AFP)
Os jovens em Milão, na Itália, para o Youth4Climate, evento que reúne 400 jovens líderes de 190 países para discutir as questões climáticas, saíram em protesto pela cidade. O encontro coincide com a reunião de ministros de cerca de 40 países, em Milão, em preparação para a COP26. E os recados dos jovens foram muito claros e contundentes. "O inferno é mais fresco", dizia uma enorme faixa, atrás da qual as centenas de adolescentes marcharam. Depois de quase dois anos de pandemia e de restrições que os obrigaram a se reunir apenas virtualmente, centenas de jovens foram às ruas, como em 2019, para pedir medidas concretas – e menos promessas – dos líderes mundiais que se reunirão para a crucial conferência sobre mudança climática prevista para acontecer em novembro, em Glasgow, Escócia.
A ativista sueca Greta Thunberg é a face mais evidente do movimento, que inclui grande diversidade de nacionalidades. Além de Greta, também estava presente a ativista ugandense Vanessa Nakate, de 24 anos. Vanessa se tornou outro ícone desde que começou, em janeiro de 2019, uma greve solitária contra a inação da África diante da crise climática. "O mundo está acordando, e a mudança está acontecendo agora. Goste você, ou não", dizia um dos cartazes, ao lado de outro com o clássico slogan "Não existe planeta B", ou ainda "Chega de blá- blá-blá", e junto do enorme banner "Vamos salvar a Terra". A jovem Frida, 24, uma estudante alemã que vive na Itália, reconhece que é preciso ir às ruas para sensibilizar as pessoas.
"Estamos mostrando que o problema do clima é importante para muita gente", afirma. "Estamos felizes por voltar às ruas", disse um adolescente italiano sob um pano verde gigante. "Precisamos chamar a atenção para este imenso problema", disse Maria, de 15 anos, que caminhava com o rosto pintado de verde e um traje de proteção branco. Na quinta-feira (30), o secretário-geral da ONU, António Guterres, estimulou os jovens do mundo todo a manterem a pressão sobre os governos para que "liderem pelo exemplo" e "prestem contas" de suas políticas de combate à mudança climática. Guterres lembrou que "falta apenas um mês para a conferência climática mais importante depois da realizada em Paris em 2015", onde foi assinado um acordo histórico para a redução da temperatura do planeta. "O tempo está se esgotando. Os pontos de inflexão irreversíveis se aproximam de forma alarmante. Temos um poder imenso. Podemos salvar nosso mundo, ou condenar a humanidade a um futuro infernal", advertiu.
"A solidariedade e os pedidos de ação manifestados por vocês são um exemplo. Os líderes nacionais devem seguir seu exemplo", disse. Os 400 jovens, de 15 a 29 anos, procedentes de cerca de 190 países, deverão apresentar um documento com sua visão sobre a emergência climática e as ações prioritárias a serem tomadas. O documento será analisado posteriormente na reunião de ministros de cerca 40 países, que acontecerá até sábado em Milão, preparatória para a COP26. "A crise climática representa um alerta vermelho para a humanidade", insistiu Antonio Guterres, repetindo as palavras que pronunciou quando foi publicado, em agosto, o último relatório sobre o clima dos especialistas da ONU, o IPCC. O IPCC alertou para o risco de alcançar o limite de 1,5 grau de aquecimento por volta de 2030, dez anos antes do estimado. "Como sempre, os mais pobres e vulneráveis serão os mais afetados", destacou o secretário-geral da ONU.
"As possibilidades de atuarmos para prevenir os piores impactos da crise climática estão diminuindo rapidamente. Sabemos o que temos que fazer e temos as ferramentas para isso", reconheceu. Segundo os especialistas, limitar o aquecimento global a 1,5 grau exigirá transições "rápidas e profundas" na terra, na energia, indústria, nos edifícios, no transporte e nas cidades. "As emissões líquidas mundiais de CO2 de origem humana precisariam ser reduzidas em 45% até 2030 em relação aos níveis de 2010 e continuar diminuindo até alcançarem o ‘zero líquido’, aproximadamente em 2050", resume o relatório.
AFP/Dom Total///