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Outubro Rosa: Procura por mamografia cai 45%; desigualdade social se reflete na saúde da mulher

A celebração do Outubro Rosa em 2021 desempenha papel fundamental no reforço da importância do rastreio do câncer de mama, doença que anualmente faz mais de 66 mil novos casos no Brasil.

 

Levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) indica que entre janeiro e julho de 2020 o número de mamografias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi de 1,1 milhão, registrando redução de 45% no número de exa­mes realizados por mulheres entre 50 e 69 anos. No mesmo período de 2019 o total de mamografias feitas era de 2,1 milhão, o que já preocupava especialistas, uma vez que apenas 20% do público de mulheres na faixa etária indicada estava coberto pelo exame – a recomendação da Organização Mundial da Saúde. Vacinação covid Com o avanço da vacinação contra a covid-19, o medo de se infectar pelo vírus deixa de ser o principal motivo para postergar os cuidados com a saúde3, e se faz necessário compreender as demais causas que influenciam a não realização do exame. “Atualmente, a mamografia é o exame mais indicado para a detecção precoce do câncer de mama, já que permite a identificação de tumores muito pequenos e, consequentemente, nos estágios iniciais da doença.

A agilidade no diagnóstico é o que determina como será o tratamento, as possibilidades de cura e o tempo de sobrevida da mulher. Entender o que impede as brasileiras de fazerem a mamografia, uma vez que há uma legislação específica para garantir o acesso ao exame, é essencial para reverter essa realidade”, Carlos dos Anjos, oncologista clínico do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês. Com esse objetivo, estudo publicado recentemente no periódico Nursing Open, analisou 22 estudos publicados entre 2006 e janeiro de 2020, e identificou por meio de meta-análise 41 fatores que podem influenciar na adesão ao exame, divididos entre características demográficas e socioeconômicas, uso do serviço de saúde, histórico médico e rastreamento anterior de câncer.

Confira abaixo os resultados do estudo.

Desigualdade tem forte impacto na adesão ao exame

Entre todos os aspectos considerados na pesquisa, o levantamento indica que ter idade elevada, estar em um relacionamento, ter ensino superior, maior renda, residência urbana e morar no Sudeste do Brasil são aspectos mais comumente relacionados à adesão do exame de mamografia, demons­trando um reflexo da desigualdade socioeconômica característica do Brasil na saúde da mulher. A má-distribuição dos 4,2 mil mamógrafos dispostos pelo país e as dificuldades em acessar os serviços de saúde também são causas apontadas pela SBM. Um ponto de atenção levantado pelo estudo é a ausência de investigação entre a relação da raça com a qual a paciente se identifica e a busca pelo exame. Somente três dos 22 estudos considerados na meta-análise incluíram esse aspecto. “Em um país como o Brasil, em que mais de 50% da população se identifica como preta ou parda, é impensável não considerar esse aspecto. A ausência desse dado inviabiliza a definição de políticas de saúde voltadas para a preservação da saúde da mulher negra, além de reforçar um comportamento de omissão quanto aos cuidados para com essa mulher. Tal comportamento é contrário a um movimento de países desenvolvidos que visa trazer maior inclusão dessas mulheres no combate ao câncer, necessidade exposta no discurso de abertura do congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica em 2021”, destacou Dos Anjos.

Serviços de saúde

Com relação ao uso do serviço de saúde, histórico médico e rastreamento anterior de câncer, o levantamento indica que mu­lheres que passaram por consulta médica anterior – seja com especialista ou na atenção primária, que tem uma perspectiva positiva da própria saúde, e que rea­lizaram outros exames de rastreio do câncer aderem mais à mamografia. No entanto, alguns fatores como estar na menopausa, ser tabagista, dificuldades na realização de atividades diárias, ter doença crônica, ter nódulos benignos na mama, história pessoal e fami­liar de câncer de mama, e o índice de massa corporal não estão necessariamente relacionados à maior adesão à mamografia. A incidência de câncer de mama vem aumentando em países de baixa e média renda, assim como a taxa de mortalidade, de modo que 62% das mortes por câncer de mama em todo o mundo agora ocorrem em países em desenvolvimento, como o Brasil.

Problema é ainda maior entre minorias raciais, étnicas e culturais

Levantamento publicado pe­la Spandidos Publication avaliou 19 estudos desenvolvidos em todo o mundo para coletar informações de 250.733 mulheres de diferentes grupos minoritários, além de avaliar a adesão ao rastreamento do câncer de mama e as barreiras ou limitações que causam a não-adesão. Como resultado, a taxa de adesão encontrada foi de, em média, 49,7% nos últimos dois anos. Ou seja, metade das mulheres que fazem parte de alguma minoria não fez o exame no período. Os fatores socioeconômicos encontrados coincidem com os citados no estudo brasileiro, mas levantou outros pontos também, como fatores pessoais, como medo, desconfiança dos profissionais de saúde ou do sistema de saúde e desconhecimento dos procedimentos, falta de tempo, atividades conjugais. Fatores étnicos, culturais e religiosos, como crenças, confiança na medicina oriental, desconfiança nas práticas ocidentais, religião, estigma e vergonha, bem como fatores externos, falta de acesso e estímulo para fazer o exame foram apontados como motivos responsáveis pela falta da realização de mamografias. Até mesmo o conforto com relação ao sexo do profissional de saúde que presta o atendimento foi identificado como possíveis causas para o comportamento.

 

Fonte: Hospital Sírio-Libanês/SP

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