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Banco Mundial aposta em energia limpa para estimular recuperação da América Latina

Hidrogênio verde é alternativa para descarbonizar a economia e região tem grande potencial.

 

Na frente da sede do Fundo Monetário Internacional, em Washington, D.C., um cartaz anuncia o encontro anual do Banco Mundial e do FMI de 2021 (Mandel Ngan/AFP)

 

 

Em seu último relatório regional semestral, o Banco Mundial afirma que a produção e a exportação de hidrogênio verde podem impulsionar a recuperação da economia da América Latina e do Caribe, duramente atingida pela pandemia da Covid-19. No caso dos países latino-americanos e caribenhos, para os quais a crise sanitária global significou mais uma "década perdida" em termos de expansão econômica após a crise da dívida dos anos 1980, "alimentar um futuro energético sustentável" é uma das prioridades para retomar o crescimento, segundo o relatório. Os esforços para reduzir as emissões de CO2 serão tema central da próxima cúpula da ONU sobre mudança climática COP26, que acontece em novembro em Glasgow, na Escócia.

O hidrogênio é uma alternativa aos combustíveis fósseis, já que sua queima não emite poluentes. A atual geração de hidrogênio, principalmente de gás natural e carvão, encontra-se, no entanto, sob escrutínio por liberar grandes quantidades de CO2. Por esse motivo, o mundo aposta cada vez mais no hidrogênio verde, ou seja, o hidrogênio gerado pela eletrólise, partindo de energias renováveis. Entre elas, as energias solar, hídrica e eólica. A exportação por parte da América Latina desse combustível limpo é "um caminho para uma recuperação econômica inclusiva, resiliente e verde", sugere o relatório do Banco Mundial, apresentado nas recentes reuniões do organismo multilateral e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Os países da América Latina têm um grande potencial para participar, com sucesso, do mercado global de hidrogênio verde, devido à sua dotação de recursos naturais para produzir energia renovável", disse Janina Franco, especialista sênior em energia do Banco Mundial. "Este potencial pode abrir uma grande oportunidade para a América Latina se tornar uma região líder na produção de hidrogênio verde, o que permitiria não apenas aprofundar sua própria transição energética, mas também abastecer o mercado de hidrogênio verde da Europa, ou da Ásia", acrescentou.

Chile, na vanguarda

Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Trinidad e Tobago têm "potencial" para serem exportadores globais de hidrogênio verde, diz o relatório do Banco Mundial, que cita dados da Agência Internacional de Energia (AIE). De acordo com a AIE, instituição criada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) após a crise do petróleo de 1973, esses países podem oferecer preços competitivos aos importadores da Europa e da Ásia. Até setembro, segundo a plataforma H2LAC, 13 países da América Latina e do Caribe demonstraram interesse em desenvolver uma indústria nacional de hidrogênio verde: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, México, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai. Franco destacou as diferentes etapas da indústria do hidrogênio verde na região. Países como Costa Rica, Colômbia, Paraguai e Uruguai, cuja geração de eletricidade é quase totalmente renovável, mostram "um avanço substancial" em sua estratégia e regulamentação para o hidrogênio, afirmou.

Outros, como Brasil, Argentina, México e Peru, que têm grande potencial de demanda local pela mineração e pela produção de aço, ferro, ou produtos químicos, estão em um "processo nascente" em termos de mapa de rota e normas. Na vanguarda, está o Chile, primeiro país da região a lançar sua "Estratégia Nacional de Hidrogênio Verde", em novembro de 2020, e que já conta com interessados nacionais e estrangeiros no uso deste combustível limpo e de seus derivados, como amônia, metanol, ou combustíveis sintéticos. Empenhado em se tornar líder da produção mundial de hidrogênio verde daqui a até três décadas, o Chile anunciou na semana passada que prevê, para 2030, que o aeroporto de Santiago seja o primeiro na América Latina a operar com hidrogênio verde e seus derivados.

Menos emissões, mais empregos

O Banco Mundial destaca o hidrogênio verde como uma solução para "descarbonizar" setores difíceis de eletrificar, como o transporte marítimo de longa distância e a aviação, assim como as indústrias pesadas. Além disso, afirma que este combustível limpo pode ajudar os países a desenvolverem cadeias de valor de energia verde, algo que pode torná-los globalmente competitivos na produção de aço, de cobre, de amônia, ou de fertilizantes. "O hidrogênio verde e seus derivados podem representar uma fonte de receitas de exportação, ao reforçar o acesso da região aos mercados desenvolvidos dispostos a pagar um prêmio que garanta cadeias de valor verdes", continua o texto.

A indústria do hidrogênio verde tem outra vantagem: a geração de empregos "verdes, locais e resilientes", diretos e indiretos, em particular nas áreas de produção, de transporte e de distribuição, ressalta o Banco Mundial. Esta transição apresenta desafios, porém, como uma produção a custos competitivos, o desenvolvimento de infraestrutura adequada e a disponibilidade de profissionais experientes para operar a nova tecnologia, advertiu Franco. "O maior desafio que os países da região e do mundo têm é conseguir competitividade nos custos de produção e alcançar preços que permitam deslocar o uso dos hidrocarbonetos para o de hidrogênio verde", afirmou.

 

 

AFP/Dom Total///