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Tempo

Jornalistas são agredidos e apoiadores se ferem em caminhada de Bolsonaro

Agentes não identificados empurraram repórteres credenciados com brutalidade e arrancaram celulares.

DA FOLHAPRESS

O presidente Jair Bolsonaro ouve gritos de ‘assassino’ e ‘genocida’ ao descer do carro na frente da embaixada brasileira em Roma.

 

Jornalistas credenciados e identificados que cobriam a visita de Jair Bolsonaro (sem partido) a Roma foram agredidos durante caminhada improvisada pelo presidente brasileiro no centro da capital italiana, na noite deste domingo (31), enquanto apoiadores gritavam "Globolixo" e assessores do presidente assistiam impassíveis. Bolsonaro está no país participando da cúpula do G20. Ele pulou vários compromissos ligados à cúpula e optou por fazer passeios na cidade, seguido por apoiadores. Por volta das 16h55 (horário local), quando o presidente ainda estava dentro da embaixada brasileira, um agente que não quis se identificar empurrou a repórter Ana Estela de Sousa Pinto, da Folha de S.Paulo, dizendo que ela devia se afastar do local. A repórter foi empurrada ainda outras três vezes, embora estivesse em um local público, onde não deveria haver nenhuma restrição ao trabalho da imprensa.

Ao chegar de carro ao prédio do posto diplomático, o presidente parou e desceu do veículo, como costuma fazer quando há apoiadores, mas foi surpreendido por gritos de "assassino" e "genocida". Desistiu de se aproximar do público, acenou, entrou no carro e entrou no edifício. Os jornalistas se encaminharam, então, aos fundos da embaixada para aguardar a saída de Bolsonaro. Durante a espera, no entanto, começaram as primeiras agressões contra os profissionais de imprensa, que foram impedidos de transitar pelo local. Questionados, os agentes não se identificaram nem explicaram os motivos do impedimento.

Minutos depois, Bolsonaro saiu para falar com cerca de 60 apoiadores que o esperavam. Depois de fazer um discurso quase inaudível mesmo para os que estavam próximos, cumprimentar e tirar selfies com alguns dos apoiadores, o presidente resolveu fazer sua quarta caminhada improvisada pela cidade. Neste momento, os seguranças tentaram fazer uma corrente de proteção enquanto o líder brasileiro partiu a passo apertado em direção ao largo Argentina, por uma via estreita, na qual apoiadores se aglomeravam para tentar acompanhá-lo.

O jornalista Leonardo Monteiro, correspondente da TV Globo, contou ter levado um soco na barriga, desferido por um agente italiano, após ter feito uma pergunta ao presidente. "Perguntei ao presidente Bolsonaro por que ele não tinha ido aos eventos do G20 de manhã. Aí veio um segurança, me empurrou com tanta força que até perdi um pé de sapato. Depois, me prensou contra a lateral de um carro e me deu um soco na barriga. Se não fosse o André [Miguel, repórter cinematográfico da emissora] e dois colegas, Ana Estela, da Folha, e Lucas Ferraz, do Globo, que vieram filmando e argumentaram com outro policial, seria pior", disse Monteiro. "Foi uma violência desproporcional. A gente espera o ‘cercadinho da imprensa’ para proteger o presidente, mas não para inviabilizar o trabalho da imprensa", disse Monteiro.

No corso Vitorio Emanuelle 2º, em meio à correria e ao empurra-empurra, ao menos uma manifestante ficou ferida ao ser derrubada, e um grupo de pessoas que tentou se aproximar dela também foi empurrado. A gente espera o ‘cercadinho da imprensa’ para proteger o presidente, mas não para inviabilizar o trabalho da imprensa Quando a repórter da Folha de S.Paulo começou a filmar a agressão contra Monteiro, um agente tentou arrancar o celular dela repórter e a ameaçou. O repórter do UOL Jamil Chade também teve o celular tomado enquanto tentava filmar, e os repórteres Lucas Ferraz, do jornal O Globo, e Matheus Magenta, da BBC Brasil, também foram agredidos verbalmente, empurrados e levaram socos nas costas.

Seguranças brasileiros e italianos ignoraram as credenciais e a informação de que os jornalistas estavam a trabalho e gritaram com colegas que diziam ser inaceitável o contato físico com brutalidade. Durante todo o trajeto, Bolsonaro não deu atenção aos acontecimentos, olhando fixamente para a frente. Quando a repórter da Folha de S.Paulo lhe perguntou por que a segurança estava agredindo os jornalistas, ele parou, ouviu o que um assessor lhe disse ao ouvido e decidiu interromper o passeio e voltar à embaixada. As agressões dos agentes continuaram no caminho de volta -ao todo, o passeio durou cerca de dez minutos.

A repórter da Folha de S.Paulo se dirigiu a um homem uniformizado, o único que tinha um escudo que indicava que era um funcionário público. Ele disse ser da polícia, mas, quando questionado sobre o motivo de os seguranças italianos estarem impedindo a imprensa brasileira de trabalhar, afirmou que isso não acontecera e caminhou em direção à porta dos fundos da embaixada, onde passou a impedir a passagem dos repórteres. Os seguranças disseram ainda que não poderiam ser filmados e se negaram a fornecer suas identificações e a dizerem se eram parte regular da polícia italiana. Assessores de Bolsonaro em nenhum momento pediram calma ou intercederam.

A Folha de S.Paulo perguntou à Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República quem são os responsáveis pela segurança de Bolsonaro em Roma, mas não obteve resposta. Em nota sobre o episódio, o jornal Folha de S.Paulo afirmou: "A Folha repudia as agressões sofridas pela repórter Ana Estela de Sousa Pinto e outros jornalistas em Roma, mais um inaceitável ataque da Presidência Jair Bolsonaro à imprensa profissional."

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) disse, em nota, que "repudia com veemência e indignação as agressões sofridas por jornalistas brasileiros na cobertura das atividades do presidente". "A violência contra os jornalistas, na tentativa de impedir seu trabalho, é consequência direta da postura do presidente, que estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística." A nota ainda afirma que ANJ espera que os atos sejam apurados e os culpados, punidos. "A impunidade nesse e em outros episódios é sinal de escalada autoritária."

A Globo também se manifestou sobre o episódio. Em nota, a empresa afirmou que "condena de forma veemente a agressão ao seu correspondente Leonardo Monteiro e a outros colegas em Roma e exige uma apuração completa de responsabilidades. "Quem contratou os seguranças? Quem deu a eles a orientação para afastar jornalistas com o uso da força? Os responsáveis serão punidos? A Globo está buscando informações sobre os procedimentos necessários para solicitar uma investigação às autoridades italianas", continua o documento. "No momento, ficam o repúdio enfático, a irrestrita solidariedade a Leonardo Monteiro e demais colegas jornalistas de outros veículos e uma constatação: é a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque. Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa. Perguntas continuarão a ser feitas, os atos do presidente continuarão a ser acompanhados e registrados. É o dever do jornalismo profissional.

Mas essa retórica pode ter consequências ainda mais graves. E o responsável será o presidente." A Comissão de Liberdade de Expressão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também divulgou nota de repúdio aos ataques contra os jornalistas. "É lamentável que incidentes como esse ocorram, refletindo uma postura frequente de desrespeito ao trabalho dos profissionais de imprensa."

 

 

 

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