Comitê para a Proteção de Jornalistas constata crescente intolerância à informação independente e menor indignação pública em meio à pandemia.
Número de detidos nos últimos seis anos sempre ficou acima de 250 (DW) DW
O total de jornalistas detidos no exercício da profissão atingiu este ano um novo recorde, chegando a 293 em todo o mundo, denunciou nesta quinta-feira (09/12) o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ).Na América Latina, ONG vê "declínio perturbador" da liberdade de imprensa. Esse é o número mais elevado desde que o organismo, sediado em Nova York, começou a recolher dados estatísticos, no início da década de 1990. No ano passado eram 280, número que também havia sido recorde. Do total, 50 estão presos na China, com a particularidade de, pela primeira vez, haver vários pessoas também em Hong Kong. Um deles é o magnata da imprensa Jimmy Lai, fundador do Apple Daily, detido no âmbito da lei da segurança nacional imposta por Pequim ao território no ano passado.
As causas para o elevado número de detidos, que nos últimos seis anos sempre ficou acima de 250, são uma crescente intolerância à informação independente e uma maior tendência entre líderes autocráticos de "ignorarem o processo legal" e "desprezarem as normas internacionais para se manterem no poder", afirmou a organização. Além disso, devido à preocupação global com a pandemia de covid-19 e as alterações climáticas, "os governos repressivos estão claramente conscientes de que a indignação pública por violações dos direitos humanos é amortecida e que os governos democráticos têm menos apetite para represálias políticas ou econômicas".
Declínio da liberdade de imprensa na América
Latina Myanmar, ausente da lista há um ano, está em segundo lugar, após o golpe militar de fevereiro e a perseguição aos meios de comunicação independentes, com 26 pessoas detidas identificadas como jornalistas, embora a situação "seja pior do que esse total sugere", apontou o CPJ. Entre os Estados que mais jornalistas prendem estão Egito (25), Vietnã (23), Belarus (19), Turquia (18), Eritreia (16), Arábia Saudita (14), Rússia (14), Irã (11) e Etiópia (9). Belarus tem o maior número de jornalistas presos desde o início da coleta de dados, em 1992, por causa das "medidas extremas" adotadas pelo presidente Alexander Lukashenko, o que inclui o desvio de um avião para a detenção do jornalista Roman Protasevich, em maio. A Etiópia, onde uma guerra civil opõe as forças governamentais e a Frente de Libertação do Povo Tigray, também é motivo de preocupação, sofrendo este ano o "maior revés" da liberdade de imprensa na África subsaariana, com nove jornalistas detidos.
Na América Latina há um total de seis jornalistas presos – três em Cuba, dois na Nicarágua e um no Brasil –, um número "relativamente baixo", disse a organização, advertindo no entanto para o "declínio perturbador da liberdade de imprensa na região", que se manifesta também no assassinato de jornalistas. O brasileiro na lista é Paulo Cezar de Andrade Prado, dono do Blog do Paulinho. Ele foi preso em setembro de 2021 e sentenciado a cinco meses de prisão pelo crime de difamação contra Paulo Garcia, proprietário da Kalunga e ex-vice-presidente do Corinthians.
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