Fundador do Wikileaks que revelou provas das violações cometidas pelo governo dos EUA contra populações, empresas e governos, inclusive a Petrobras e o Itamaraty, está preso no Reino Unido
Da Redação / Publicado em 25 de fevereiro de 2022
No ato de Porto Alegre, um líquido que simulava o sangue das presas do “Tio Sam” foi derramado na calçada do consulado e associado à bandeira norte-americana
Foto: Igor Sperotto
Seis capitais brasileiras realizaram nesta sexta-feira, 25/02, protestos pedindo a liberdade de Julian Assange. Em Porto Alegre, o ato reuniu lideranças em frente ao consulado dos Estados Unidos, no bairro Passo d’Areia, na zona norte, que reiteraram manifestações pela libertação do jornalista australiano de 51 anos, convertido em ícone mundial de luta contra as violações de direitos e pela liberdade de imprensa.
A mobilização sob forte policiamento da Brigada Militar e seguranças do consulado, foi marcado por faixas e cartazes que estampavam a foto de Assange amordaçado por uma bandeira norte-americana e performances de anônimos que se integraram à manifestação. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Amarildo Cenci, afirmou que o caso Assange representa uma retaliação, um processo de perseguição a quem ousa denunciar “aquilo que tem de mais nefasto, mais maldoso e de mais hipócrita, que é essa postura estadunidense”. Assange denuncia aquilo que os EUA fazem contra os povos, contra a soberania das nações, contra a verdadeira liberdade e a luta por democracia e por um mundo mais humano e justo, completa o dirigente. “Não interessa ao império que o mundo seja justo, soberano e sustentável. Interessa que ele sirva ao grande império americano. Assange é resistência. Assange somos nós. Assange é o povo no mundo inteiro que quer liberdade, democracia, justiça, soberania e valores humanos acima da violência e da exploração”, destacou.
Tribunal de Belmarsh
O movimento organizado pelas centrais sindicais, sindicatos, entidades estudantis e movimentos sociais integra o Dia Internacional de Mobilizações para Liberdade de Assange e teve atos também em Belo Horizonte, Brasília, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Os atos ocorreram em frente aos consulados e às embaixadas do Reino Unido e dos Estados Unidos no Brasil e em outros oito países. Jornalistas, políticos e juristas montaram em Nova York o Tribunal de Belmarsh, instância judicial simbólica inspirada pelo Tribunal Russell-Sartre de 1966, no qual representantes de 18 países se reuniram para responsabilizar os Estados Unidos por seus crimes de guerra no Vietnã. Em torno do tribunal foi articulada a mobilização nas ruas em várias cidades como Bogotá, Buenos Aires, Joanesburgo, Nova York, Kathmandu e Cidade do México, além das capitais brasileiras. A Assembleia Internacional dos Povos (AIP) e a Internacional Progressista, que articulam a mobilização internacional, afirmam que o objetivo é cobrar a libertação de Assange, perseguido pelo governo dos Estados Unidos há 12 anos.
Preso político
O jornalista australiano foi preso no dia 11 de abril de 2019 pela polícia britânica na embaixada do Equador no Reino Unido, onde estava exilado desde 2012, tentando evitar sua extradição para a Suécia, onde respondia por uma acusação de assédio que foi arquivada por falta de provas. Entre os documentos vazados por ele, há provas que incriminam o governo norte-americano em casos de espionagem, tortura e violações de direitos humanos em várias partes do mundo. Também há registros de ações de espionagem contra membros do governo brasileiro e contra a Petrobras, durante as gestões dos então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT). Nos EUA, Assange é acusado por 18 crimes que incluem conspiração para hackear bancos de dados militares e obter informações confidenciais sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque, e que foram publicadas no site Wikileaks. No dia 24 de janeiro, a Justiça britânica autorizou Assange a recorrer à Suprema Corte contra a decisão sobre sua extradição, determinada em dezembro de 2021.
Crimes de guerra
“É uma luta anti-imperialista, é uma luta fundamental no que diz respeito a revelações da verdade sobre os crimes de guerra. Imagina só se o Assange estivesse revelando crimes de guerra da China, por exemplo? Ele estaria sendo tratado pelos EUA como um herói. Agora, como ele está revelando crimes de guerra dos EUA e seus aliados, tem essa perseguição política”, afirmou Giovani del Prete, da AIP. Carmen Diniz, coordenadora do capítulo Brasil do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos , sustenta que Assange não cometeu qualquer crime. “Ele mostrou para nós os crimes que o governo norte-americano e suas tropas estavam fazendo no Iraque, no Afeganistão, na Síria, em Guantánamo. Estamos aqui para exigir que ele não seja extraditado para os Estados Unidos. Ele não é norte-americano, não tem que ser extraditado. Ele é australiano e está preso na Inglaterra. A Inglaterra é o novo capacho do governo dos Estados Unidos”, afirmou durante o protesto em frente ao Consulado dos EUA no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira. Durante o ato que fechou a avenida Presidente Wilson em frente ao consulado, uma faixa pedia “Liberdade para Assange”. Os manifestantes também estenderam fitas amarelas na calçada, em referência a tradição norte-americana que simboliza o retorno dos soldados para casa.
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