Cotação do dia

USD/BRL
EUR/USD
USD/JPY
GBP/USD
GBP/BRL
Trigo
R$ 115,00
Soja
R$ 180,00
Milho
R$ 82,00

Tempo

Ministros anunciam R$ 430 milhões de auxílio para agricultores do RS afetados pela seca

Após comitiva visitar propriedade de pequenos agricultores, as medidas emergenciais foram detalhadas em coletiva de imprensa

Ato de anúncio das medidas no Assentamento Meia Água contou com a presença de representantes políticos e de movimentos sociais (Foto: Leandro Molina / Brasil de Fato RS)

Uma comitiva de ministros do governo federal esteve no Rio Grande do Sul, nesta quinta-feira (23), para conhecer a situação da estiagem no estado. Durante a visita, que aconteceu no Assentamento Meia Água, município de Hulha Negra, foi anunciado um pacote de medidas emergenciais para atender os agricultores das regiões mais atingidas pela falta de água, totalizando R$ 430 milhões.

A delegação foi composta pelos ministros do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira; do Desenvolvimento Social, Wellington Dias; da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta; e o próximo presidente da Conab, Edegar Pretto. Por volta do meio dia, o grupo visitou a propriedade de uma família de assentados. Lá, foi apresentado um diagnóstico da grave situação da região, que vai desde pastagens secas e quebras de produção à falta de água para consumo humano e dívidas com bancos.

A região de Hulha Negra, fronteira com o Uruguai, é uma das partes mais atingidas pela falta de água no estado. Mais de 300 municípios gaúchos já decretaram estado de emergência.

Recurso vem de diversos ministérios

De tarde, com a presença do governador Eduardo Leite (PSDB), parlamentares, representantes de outros ministérios e lideranças políticas e de movimentos do campo, foi realizada uma coletiva de imprensa na sede da Comunidade Nossa Senhora de Fátima. O ato reuniu cerca de 600 pessoas, quando as medidas de auxílio foram anunciadas.

Dos R$ 430 milhões, R$ 300 milhões são do MDA. Será criada uma segunda parcela do crédito instalação, no valor de R$ 5,2 mil, para atender 10 mil famílias assentadas, com rebate entre 90 a 95%. Também se constituirá o Microcrédito Produtivo Rural, para atingir até 40 mil agricultores familiares mais vulneráveis, que receberão R$ 6 mil.

Já do MDS serão destinados R$ 24 milhões para atender cerca de 10 mil famílias da região que têm baixa renda e que estão cadastradas no Programa Fomento Rural. Será um total de até R$ 2,4 mil cada, dividido em duas parcelas, para estímulo e manutenção da produção da agricultura familiar. Ainda, numa parceria com a Conab, serão distribuídos alimentos para as famílias mais vulneráveis, totalizando mais de R$ 5 milhões em investimentos.

Por meio do MDR, serão destinados R$ 100 milhões para municípios em situação de emergência, para aquisição de cestas básicas, contratação e manutenção de carros-pipa para abastecimento de água.

Estiagem vira fome para agricultores

A região foi escolhida para o anúncio por ser uma das mais prejudicadas pela falta de água no estado, devido à estiagem combinada com o avanço da mineração. O resultado, em épocas como essa, é a redução drástica dos reservatórios de água para o consumo humano e dos animais, além da baixa ou até mesmo inexistente produtividade de alimentos. Isso acaba impactando na renda das famílias e na economia local.

Roselaine Sausen é agricultora no assentamento que recebeu a visita da comitiva. Segundo ela, os ministros puderam presenciar a dificuldade dos pequenos agricultores convivendo com a seca, pelo terceiro ano consecutivo. Produtora de leite, ela relata o sofrimento humano e animal. “Esse ano a estiagem já é maior do que nos anteriores. A produção de leite diminuiu 80%, por mais que a gente plante pasto, não vem nada”, afirma.

A agricultora relata que pouca água disponível vem de um açude na propriedade, mas que só dá conta de abastecer o consumo dos moradores da residência e dos animais, sendo inviável sua utilização para irrigar o pasto ou qualquer plantação. “Não dá pra produzir nada, por causa da falta da chuva, até a grama está morrendo. Não dá pra ter milho, um pouco de pasto ou até mesmo uma horta. A gente sofre junto com os bichos, queremos comprar alguma coisa pra eles comer, mas não temos de onde tirar”, revela.

Roselaine relata que a renda da propriedade vem toda da produção de leite. Com a estiagem e a queda na produção, a família precisa cortar gastos e comprar somente o básico para sobreviver. “Temos duas crianças em casa, eles sofrem mais ainda. Nem um doce que a gente comprava antes pra eles pode comprar mais, agora é só o essencial.”

Falta de auxílio de governos anteriores

João Sirinei também é produtor de leite e de gado de corte e afirma que a realidade é péssima. Segundo ele, a região sofre com a variação climática, já tendo presenciado estiagens severas, mas também períodos de excesso de chuva. “Pelas nossas dificuldades, a região merece uma atenção especial”, avalia.

Ele estima que as perdas na produção de leite gira em torno de 80% este ano. “Não tem ‘verde’, no meu lote eu plantei pastagem, mas não deu quase nada. Eu virei a terra pra plantar e não nasceu pasto”, conta.

Relata ainda que, para garantir a sobrevivência dos animais, precisou recorrer à cooperativa dos assentados locais, a Coptil, para poder comprar silagem. Na sua visão, esse auxílio deveria vir das instâncias governamentais. “Nos anos passados, praticamente não teve ajuda municipal, estadual, nem federal. Ano passado o governo estadual deu pros assentados mil reais. Pra manter meus bichos, todo mês, eu preciso de 20 a 30 sacos de milho.”

Necessidade de ações emergenciais e estruturais

Para o dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA/RS), Adilson Schuch, a sequência de temporadas de estiagem no estado castigam principalmente os pequenos agricultores, os assentamentos e áreas quilombolas.

“Valorizamos muito essa ação de hoje, pelo fato do governo encaminhar a vinda dos ministros para conhecer a realidade. No aspecto da pauta ambiental, o governo precisa dar uma resposta com medidas estruturais para reverter a situação no médio e longo prazo, mas também há uma necessidade das famílias que é imediata”, afirmou em depoimento ao Brasil de Fato RS.

De acordo com Edegar Pretto, este momento de anúncios foi construído com muito diálogo, desde o primeiro momento em que o governo Lula foi procurado pelos movimentos sociais e entidades do campo. “São recursos para atender as emergências, especialmente daqueles que mais precisam”, comenta. “Com esses 430 milhões, nós vamos garantir o básico, como crédito e comida para os seres humanos e animais. Mas logo começaremos também a tratar com o governo do estado a renegociação das dívidas, para amenizar o sofrimento das famílias”, reforça.

*Fonte: Brasil de Fato RS