Espaço localizado em Linha Tesoura abre as portas neste sábado (11) para mostrar porque se tornou referência nacional
Celebrar as sementes crioulas é uma tradição milenar dos agricultores camponeses. Para estes, a semente não pode ser reduzida ao valor monetário e convertida em moeda. Ela precisa, antes de tudo, exercer o seu papel social de perpetuar a vida, fundamentar a soberania alimentar e firmar a autonomia dos homens e mulheres que dedicam-se a exercer o sagrado ofício de produzir alimentos para todos os demais.
Este é o mote da grande celebração que acontece neste sábado (11) no Centro Territorial de Cooperação, Educação Ambiental e Agroecologia da Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil LTDA (Cooperbio), em Seberi (RS). O espaço abre suas portas para receber visitantes da comunidade local e regional, bem como delegações de outras regiões, estados e até de países vizinhos na 6ª edição da Festa da Semente Crioula.
Para complementar os motivos de celebração, a Cooperbio celebra justamente neste período os 10 anos de implantação do seu centro de formação. Os participantes, além de celebrar as tradições camponesas, de compartilhar a mesa repleta de alimentos produzidos sem veneno e sem insumos químicos, de trocar informações, mudas e sementes, de desfrutar de apresentações de cultura popular, ainda vão ter acesso a uma feira de agroecologia e de economia solidária instalada no mesmo espaço.
O acesso à Festa da Semente Crioula é livre, sem cobrança de ingressos, só sendo cobrada a ficha de almoço (R$ 30 para adultos e R$ 15 para crianças).
Conheça a Cooperbio
Os cooperados são camponeses e camponesas instalados em mais de 60 municípios da região. Fundada em 2005, a Cooperbio tem sua sede instalada na localidade de Linha Tesoura, desde 2012, e já apresenta um portfólio de inúmeras ações de sucesso, em espacial no campo da agroecologia.
Conforme explica o engenheiro agrônomo Marcos Joni Oliveira, atualmente na presidência da Cooperbio, a estrutura agrária da região é formada predominantemente por pequenos e médios agricultores – 45 mil propriedades entre 5 e 50 hectares. No entanto apenas 4,93% dos proprietários concentram 43,87% da terra.
“Esse quadro conforma uma região com alta vulnerabilidade socioambiental, mas com elevados potencias para protagonizar projetos e definir agendas regionais integradas nos âmbitos ambientais e socioeconômico”, destaca Oliveira, frisando os três principais eixos de atuação da Cooperbio: Educação para a Sustentabilidade; Produção Agroecológica e Alimentação Saudável; e Bioinsumos para Transição Agroecológica.
Marcos Joni Oliveira ressalta que a presença da Cooperbio em Seberi, enquanto iniciativa de cooperação que envolve famílias integrantes da base do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), coloca o município e a região no protagonismo da construção de um modelo sustentável de agricultura, “resgatando as experiências coletivas do campesinato, preservando a cultura e a sabedoria popular acumuladas ao longo de séculos de desenvolvimento”.
Além disso, arremata o presidente, “estabelece linhas de pesquisa contemporâneas e viabiliza a proximidade com os principais pensadores e pesquisadores da agroecologia em nosso tempo, com vistas a produzir alimento de qualidade para homens e mulheres do campo e da cidade, forjando uma aliança camponesa e operária por soberania alimentar”.
Educação, Sustentabilidade, Produção
Acerca do primeiro eixo, Educação para Sustentabilidade, a bióloga Débora Varoli aponta a compreensão da “educação como todo ato e processo de ensino-aprendizagem de base formal ou informal, científica, técnica e/ou popular que elevam as capacidades, valores e recursos dos sujeitos engajados nos processos de transformação da sociedade e natureza”. As ações de educação propostas a partir da Cooperbio e do MPA envolvem, em média, anualmente, mais de 5 mil pessoas através de cursos prolongados de capacitação, oficinas, dias de campo, intercâmbios, palestras, assessoria às unidades de produção e agroindústrias.
O eixo que trata da Produção Agroecológica e Alimentação Saudável é apresentado pela acadêmica de Tecnologia em Agropecuária, Viviane Chiarello. “Neste âmbito a cooperativa construiu e mantém o Centro Territorial de Cooperação em Seberi, onde abriga centro de capacitação, alojamento, refeitório, salas de aula e ampla biblioteca; bem como unidades agroindústrias, áreas demonstrativas de produção em sistemas agroflorestais, hortaliças, produção animal orgânica e indústria de bioinsumos”, conta.
No que diz respeito aos Bioinsumos para transição agroecológica, a engenheira agrônoma e mestre em Fitotecnia, Bernadete Reis, explica que a cooperativa compreende a transição agroecológica como um processo social, econômico e tecnológico que necessita do apoio estruturante do estado através de políticas sociais e o engajamento comunitário.
“No âmbito tecnológico a metodologia desenvolvida pela Cooperbio incide em práticas como o aumento da biodiversidade nos sistemas de produção, a remineralização dos solos através de compostos de rochas, a ativação da vida do solo por meio dos adubos verdes em sinergia com o aumento de minerais no solo, o uso de biofermentados, biofertilizantes e controladores biológicos, o uso da homeopatia e técnicas da agricultura biodinâmica, e por fim, o desenvolvimentos de sistemas de produção de base ecológica como Pastoreio Racional Voisin, rotação de cultivos, consórcios até os sistemas agroflorestais como forma mais sustentável de produção”, explica.
Festa da Semente
A 6ª edição da Festa da Semente Crioula acontece neste sábado (11), a partir das 9h da manhã e se estende até o fim da tarde. Serão realizadas feira e troca de sementes e mudas, palestras e rodas de conversa, celebração ecumênica, apresentações musicais e culturais, bem como atividades de formação, informação e integração. O programa contempla ainda a feira agroecológica com expositores de toda região e o tradicional almoço com cardápio típico camponês elaborado a partir de alimentos agroecológicos, produzidos sem veneno e sem aplicação de insumos químicos.
Uma novidade desta edição é a inserção de uma feira de economia solidária no programa, irmanando ainda mais a Festa da Semente na perspectiva do Fórum Social Mundial, que afirma que “um outro mundo é possível e uma nova economia é necessária”. O acesso ao evento é livre, a programação inicia logo cedo, pela manhã e se estende até o final da tarde de sábado.
Almoço – Os cartões para o almoço tem custo de R$ 30,00 para adultos e R$ 15,00 para crianças de 8 a 12 anos. Para aquisição de cartões para o almoço e mais informações sobre o evento, os organizadores disponibilizam contatos pelos telefones (55) 999637673 ou (54) 996879490.
*Fonte: Brasil de Fato RS