Conferência de Integração dos Povos da América Latina e do Caribe teve início nesta terça-feira (24) no Uruguai
“A única maneira para que na América Latina e no Caribe consigamos enfrentar a ameaça da extrema direita e do neofascismo é que estejamos unidos em um processo de integração”, disse Rafael Freire Neto, secretário-geral da Confederação Sindical das Américas, no lançamento da Conferência de Integração dos Povos da América Latina e do Caribe realizda nesta terça-feira (24). O evento que será realizado nos dias 7, 8 e 9 de dezembro em Foz do Iguaçu (PR), cidade localizada na tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai e deve reunir mais de oito mil ativistas.
Promovida por diferentes organizações sociais e sindicais da região, a iniciativa busca contribuir com a integração dos povos da região, além de abordar questões como a crise sistêmica do capitalismo, as ameaças à paz e à soberania dos povos e os desafios que a região enfrenta diante do avanço da extrema direita a nível global.
O lançamento foi realizado em Montevidéu na fazenda do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica. Contou com a presença de Ernesto Samper, ex-presidente da Colômbia; Carol Proner, membro da Associação Latino-Americana de Juristas pela Democracia, e Messilene Gorete, dos movimentos da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, e da Assembleia Internacional dos Povos.
As reflexões e demandas que os movimentos elaboradas durante a conferência serão entregues no dia 9 de dezembro a Mujica e ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O secretário-geral da Confederação Sindical das Américas enfatizou que os movimentos estão trabalhando para que outros presidentes da região estejam presentes.
Por sua vez, Messilene Gorete observou que “a conferência continental não é a culminação de um processo, mas sim o relançamento de um processo acumulado que temos realizado desde a campanha dos 500 anos dos movimentos indígenas, negros e populares em nosso continente, os encontros contra a Alca, o Fórum Social Mundial e todos os processos que temos construído”.
“Não se trata de fazer diagnósticos do que já sabemos que temos no continente. Este encontro busca referendar as propostas que construímos até agora. Colocar em pauta nosso entendimento de que a integração só será possível se conseguirmos caminhar juntos, governos e povos. Isso é algo em que Pepe Mujica tem insistido: temos que encher de povo a integração. Esse é o significado de nossa reunião”, observou.
O ex-presidente da Colômbia, Ernesto Samper, iniciou seu discurso referindo-se à vitória de Massa nas eleições do último domingo (22), comemorando que no resultado “prevaleceram o bom senso e a institucionalidade”. Também aproveitou a oportunidade para agradecer a Pepe Mujica por seu apoio ao processo de paz na Colômbia.
Samper pediu para “continuar defendendo a democracia” contra “os poderes constituídos que não estão interessados em fazer a democracia funcionar”.
“Uma das maneiras de defender a democracia é por meio da igualdade. Não se trata de um problema de liberdade. Liberdade sem igualdade é uma caricatura de liberdade”, observou o ex-presidente colombiano. “É por isso que exigimos a necessidade de projetos sociais profundos. E é por isso que atendemos ao chamado do companheiro Pepe Mujica para vir aqui reiterar nossas convicções em favor do movimento social como uma grande vacina contra a tirania e o autoritarismo”.
Com voz pausada, Pepe Mujica destacou que o objetivo da luta é “gerar uma mudança cultural que levará décadas”, enfatizando que não se trata de “um triunfo ao virar da esquina”. O ex-presidente uruguaio, anfitrião do evento, observou que somente por meio da colaboração mútua os países do continente poderão enfrentar os principais problemas que enfrentam.
“Não fazemos história, nós a suportamos. A história está sendo determinada por forças que estão longe do nosso continente. Nós sofremos as consequências. Temos que perceber que a única maneira de influenciar o processo de tomada de decisões sobre como será o mundo do futuro é sermos capazes de superar nossos preconceitos e nossas diferenças”, refletiu.
Dessa forma, Mujica insistiu que a integração dos países do continente não deve ser “um anseio retórico”, mas “uma forma de resolver os problemas práticos do presente”. Soluções concretas que possam dar passos em direção à colaboração e à integração dos países do continente.
Nesse sentido, argumentou que a integração “não se trata de realizar o sonho de Bolívar”. Observou que, por muito tempo, a ideia de integração do continente foi uma ideia reservada aos intelectuais, mas que, se quisermos avançar, “temos que nos dar conta de que precisamos convencer o povo”.
O trabalho dos movimentos sociais na reunião de 7, 8 e 9 de dezembro tem como objetivo ser um passo concreto na luta para convencer o povo da necessidade da integração continental.
*Fonte: Brasil de Fato