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Mais de 72 mil propriedades rurais foram atingidas pelas cheias de novembro

Relatório da Emater/RS-Ascar indica perdas em infraestrutura e na produção de alimentos após eventos climáticos extremos ocorridos entre 16 e 24 de novembro

Dados foram levantados pela Emater-RS (Foto: Fabio Scheibel / Especial / CP)

Mais de 72 mil propriedades rurais (72.318) de 3,2 mil localidades, pertencentes a 198 municípios gaúchos foram duramente atingidas pelo fenômeno El Niño entre os dias 16 e 24 de novembro. Os danos foram contabilizados pelo Sistema de Levantamento de Perdas da Emater/RS-Ascar (Sisperdas) após a ocorrência de elevado volume de chuva, rajadas de vento e granizo em grande quantidade no Rio Grande do Sul. Os estragos atingiram 37,6 mil quilômetros de estradas vicinais, 6,1 mil casas e deixaram 8,4 mil famílias sem acesso à água no campo. A instituição também contabilizou perdas de infraestrutura em 63 armazéns, 71 silos, 242 estufas de fumo, 1.161 estufas/tonéis plásticos para horticultura, 578 aviários, 772 açudes, 229 pocilgas e 6.307 produtores com construções/instalações prejudicadas.

Os prejuízos na produção de alimentos foram verificados em diversas culturas. Nas áreas de arroz, 21,7 mil hectares foram atingidos, com perdas estimadas em 103 mil toneladas. Nas de trigo, os estragos em 120,6 mil hectares chegaram a 3.982 produtores (205 mil toneladas). Os danos nas lavouras de soja foram reportados por 4.006 produtores (83,5 mil hectares); nas de milho, por 10.302 agricultores (67,4 mil hectares e perdas de 131,6 mil toneladas). Ainda há registro de prejuízo nas plantações de aveia (825 toneladas), cevada (12,5 mil toneladas), canola (3,2 mil toneladas), linho (1,2 mil toneladas), feijão 1ª safra (307 toneladas), milho silagem (377,8 mil toneladas) e aveia branca (223,5 mil t).

Na pecuária, a Emater/RS-Ascar registrou problemas para 286 criadores, com mortes de bovinos de corte (260), de leite (29), suínos (181), aves comerciais (167,9 mil), na piscicultura (72 toneladas) e na apicultura comercial (5.160 caixas). Na produção leiteira, 7,7 milhões de litros de leite não puderam ser coletados e 3.412 produtores foram prejudicados.

A fruticultura contabilizou quase 7 mil produtores com perdas (6.915), número que chegou a 2.932 entre os olericultores. Estragos foram contabilizados ainda entre 9.165 fumicultores e 539 floricultores. Foram perdidos também 3,8 milhões de pés de erva-mate, 57,2 mil pés de eucalipto, 9 mil pés de acácia e 45,1 mil pés de pinus.

Nesta segunda-feira, a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) do Estado anunciou a segunda etapa do Programa de Recuperação da Fertilidade do Solo, com R$ 15 milhões para recuperar áreas cultiváveis no Vale do Taquari, na Serra e na região Norte. A SDR fará convênio com municípios para contratar horas-máquina, comprar, distribuir e aplicar insumos como corretivos, condicionadores de solo, adubos, bioinsumos e sementes de cobertura. Os beneficiários serão selecionados pelo município e terão benefício limitado a R$ 30,6 mil por agricultor. Este mês, a SDR já havia lançado projeto com R$ 2,3 milhões para reestruturação dos sistemas de produção de produtores de leite atingidos pelas cheias de setembro, em municípios que tiveram decreto de calamidade pública homologado pelo Estado.

Setor lamenta morosidade

O vice-presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais (Fetag-RS), Eugênio Zanetti, teve reunião no MDA há 15 dias pedindo que mais municípios possam acessar crédito emergencial de R$ 100 milhões, anunciado em outubro pelo governo federal, limitado a 92 municípios com decreto de calamidade pública reconhecido. “Hoje já são cerca de 160 municípios nesta situação. E os municípios que sofreram com ciclones de junho e julho ficaram de fora”, disse Zanetti. Segundo o sindicalista, a adesão tem sido baixa, mesmo com o desconto de 30% sobre o valor da operação de crédito de investimento, limitado a R$ 15 mil. A Fetag-RS continua a cobrar medidas efetivas. “Tudo anda muito devagar, não vai na velocidade das necessidades dos agricultores”, criticou Zanetti.

Após a catástrofe de setembro, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) da Assembleia Legislativa entregou uma pauta de 12 pedidos aos governos estadual e federal. A prioridade, ainda não atendida pela União, era a suspensão imediata das operações de crédito rural que venceriam em 180 dias. A União atendeu aos pedidos para reconstrução de moradias rurais e de crédito para recuperação da produção, com rebate, mas ainda há itens sem resposta. “Dizer que não teve nada seria errado, mas temos pautas para serem discutidas”, afirmou Weber, que aguarda confirmação de agendas em Brasília para esta semana. O deputado entende que é momento de pensar em uma política definitiva para catástrofes climáticas. “Depois de quatro eventos fortes, não temos mais como tratar isso pontualmente. Temos de discutir e elaborar uma política permanente, com propostas e planos prontos para quando houver ocorrência”, disse.

O coordenador-geral da Superintendência do MDA/RS, Milton Luiz Bernardes Ferreira, informou que participou de reuniões e visitas para tratar da situação das cheias da semana passada. Ele se encontrou com assentados em Eldorado do Sul e acompanhou a visita do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias (MDS), na sexta-feira. “Pudemos constatar o grande impacto da enchente e os prejuízos que as famílias sofreram. Recebemos uma série de sugestões e/ou solicitações de apoio”, afirmou Ferreira. “Somos extremamente sensíveis ao ocorrido e vamos encaminhar para Brasília os pleitos.”

*Fonte: Correio do Povo