“Fortini nos nos deixou na manhã deste sábado (17); Parte o corpo, fica o exemplo de bravura e afeto“
Morreu Roberto de Fortini, o italiano que desafiou a ditadura fascista no Noroeste gaúcho. E não tem como contar isso sem ser com muitas lágrimas. Alma insurgente, Fortini criança acompanhava o pai, líder guerrilheiro dos partigianos, nos campos de batalha da Itália contra os exércitos fascistas de Hitler e Mussolini.
Ao ser preso, em 1970, como líder da base guerrilheira da VPR no Sul do Brasil, foi do pai partigiano que Fortini lembrou: “Não entrega nenhum companheiro, caralho!”.
Em Três Passos, Noroeste gaúcho, com a “maricota” os torturadores aplicavam choque-elétrico no Gringo e com alto-falantes ao som de Wagner escondiam do povo seus gritos de dor. O mundo girou e conheci o Fortini através do meu pai Diógenes Oliveira, também ex-guerrilheiro da VPR, em 2010.
No meio da densa Mata Atlântica de Misiones, na Argentina, Fortini vivia com sua companheira de muitas batalhas Nádia. Comemos um pescado do Rio Uruguai e descobri pelas conversas que ali se encontrava uma base da VPR e nela estava seu último militante clandestino vivo. Lembra aquela história do japonês escondido na selva por 30 anos sem saber do fim da 2ª Guerra? Então… Ele vivia lá até hoje com um nome falso.
Por ali, a velha guarda da luta armada brasileira passou a se rearticular no processo da luta por Memória, Verdade e Justiça. Como ponto máximo desse resgate, foi inaugurado em novembro do ano passado um sitio de Memória da VPR, próximo do local onde foi fundada a empresa de fachada “Sociedade Pesqueira Alto Uruguai”.
O local se encontra em uma vasta região verde, onde o Gringo sonhou em abrigar guerrilheiros perseguidos, como Carlos Lamarca, e curar aqueles que saiam maltratados pelas torturas sofridas nos porões da ditadura.
A última vez que o vi, dois meses atrás, Fortini travou seu ultimo combate. Atravessar o Rio Uruguai bravio, pós-enchente, em uma balsa clandestina para participar da inauguração do sitio de Memória. Como sempre, não se entregou e, em meio a um copo de vinho e um prato de carreteiro na região de Três Passos, confraternizou no Rancho do Braga com seus companheiros pela ultima vez.
Logo depois, seu estado de saúde começou a decair e, entre altos e baixos, nos deixou na manhã deste sábado (17). Parte o corpo, fica o exemplo de bravura e afeto.
Abaixo à ditadura e ao fascismo sempre! Roberto de Fortini presente hoje e sempre!
*Artigo: Guilherme Oliveira (Brasil de Fato RS)