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Polícia Civil decide indiciar entregador e acusado de esfaqueá-lo

Everton da Silva prestou depoimentos no âmbito das investigações do caso e a respeito da conduta dos policiais militares

Everton é levado no porta-malas e agressor (sem camisa, ao fundo), conduzido no banco traseiro. (Foto: @nietzsche4speed/Sul21)

O advogado explica que Everton prestou uma série de depoimentos nesta segunda, no âmbito do inquérito que investiga o caso em si — a suposta tentativa de homicídio e a suposta agressão por parte do entregador — e no âmbito das investigações sobre abuso de autoridade por parte dos policiais militares.

“Nesta situação, ficou muito claro que o tratamento dado ao Everton foi muito diferente ao tratamento dado ao Sérgio. E olha que, no momento em que chegou a Brigada, o Sérgio não tinha nenhum ferimento. Então, fica muito claro que houve ali um tratamento totalmente desrespeitoso, eu diria um tratamento racista, por parte daqueles agentes racistas. Eu não estou dizendo que a Brigada é racista, mas que aqueles agentes agiram com racismo institucional. Em nenhum momento perguntaram a ele o que tinha acontecido, sequer pediram a ele que se identificasse. Simplesmente algemaram, puseram contra a parede e botaram no camburão na parte de trás. Ao passo que o cidadão que desferiu uma facada contra ele, sentou no banco da frente e sem algemas”, afirma.

Goulart avalia que os depoimentos foram bons, pois Everton conseguiu esclarecer algumas situações. O advogado destaca que tomou conhecimento nesta segunda de que Everton atirou pedras na direção do agressor. No depoimento, Everton confirmou a situação, mas disse que isto ocorreu após receber a facada, sem ter provocado o agressor previamente, e que não teve o objetivo de acertá-lo, apenas “assustar”, acrescentando que elas não acertaram Sérgio.

“A partir do depoimento, ficou claro que, embora ele tenha lançado esses pedregulhos, ele não acertou. Somando a isso as imagens feitas por populares, percebe-se que o Sérgio, quando ele desceu do prédio, ele não tinha nenhuma lesão no joelho e na perna. E, quando entrou na viatura, também não tinha nenhuma lesão. De modo que, pode-se concluir que ele se autolesionou, no caminho ou quando estava sozinho, para fabricar uma lesão corporal e, com isso, conseguir que o Everton seja denunciado também por uma lesão corporal que não praticou. Mas essas questões vamos discutir no processo criminal, não no inquérito”, diz.

Ainda no âmbito da investigação criminal, ele diz que a defesa de Everton está conformada com a decisão 3ª DP de indiciar os dois como réus, porque isso permitirá discutir questão de mérito que não são possíveis em um inquérito policial. “Por mais que eu esteja conformado com a decisão da delegada de polícia, é lastimável que ela, tendo ouvido tão somente vítima e agressor, sem considerar a amplitude de provas testemunhais e visuais, chegou à conclusão de indiciamento dos dois”, diz. “É importante que nós tenhamos esse processo para que, ao final, consigamos que o Everton seja absolvido e, se as coisas acontecerem como a gente espera, o Sérgio seja pronunciado pela prática de crime de tentativa de homicídio, além da prática do crime de racismo”, acrescenta.

A respeito das apurações sobre a conduta dos policiais militares que realizaram a abordagem, Goulart afirma que a posição da defesa é que eles devem ser penalizados de alguma forma. “Eu não saberia dizer que forma é essa, mas é importante deixar claro que eles agiram com racismo, o que é um crime inafiançável”, diz.

Nesta segunda, a Brigada Militar informou que afastou temporariamente dois dos policiais que detiveram Everton. Segundo o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, “foi uma medida de precaução” e “a situação de estresse dos profissionais” será avaliada ao fim da semana.

Ramiro Goulart ainda pontua que será feita uma denúncia junto à Delegacia de Intolerância Racial em relação à forma como Everton foi tratado. “Hoje, essa questão racial não foi abordada como nós entendemos que deveria ser. Um segundo aspecto, fundamental também, o Everton será ouvido no Conselho Estadual dos Direitos Humanos para que ele possa dar a sua versão e, partir dali, a gente possa produzir uma minuta e algum encaminhamento para a Brigada Militar ou até mesmo para Estado do Rio Grande do Sul para novas situações que envolvam abordagens policiais”, afirma.

*Fonte: Sul21