Saídos do norte e do sul do Brasil, dupla carrega reivindicações por ações que impactariam milhões pessoas
Foram seis voos e mais de 36 horas de deslocamento para Samuel Arara chegar na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP) 29, que acontece em Baku, no Azerbaijão. Com 23 anos, o estudante Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre (UFAC) saiu de Cruzeiro do Sul (AC), uma das cidades mais impactadas pela seca deste ano na Amazônia, para participar de sua primeira COP.
“A gente vem de lugares muito distantes para chegar até aqui. É muito difícil, são enormes sacrifícios que a gente tem que enfrentar para chegar até esse espaço, um espaço muito difícil de acessar, principalmente quando é sociedade civil, vem de comunidades tradicionais. Eu sou indígena do povo Arara Shawãdawa e chego nesse espaço com uma alegria muito imensa, não só de estar ocupando, mas, ao mesmo tempo, essa alegria de poder falar nesse espaço. É uma voz que vai além da floresta, é uma voz que o mundo precisa ouvir”, diz Samuel.
O evento começou no último dia 11 e segue até 22 de novembro. Grandes lideranças globais não compareceram ao evento, como os presidentes dos Estados Unidos e China. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também não viajou ao Azerbaijão, deixando o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), como representantes do país.
Junto a Samuel, a cientista social Carolina Oliveira, de 24 anos, veio de Caçapava do Sul (RS) para atuar na mesma linha que propõe o colega acreano, mas pela perspectiva de uma pessoa que viveu a pior tragédia climática do estado do Rio Grande do Sul, com uma enchente histórica que atingiu várias cidades.
Os dois fazem parte da ONG Engajamundo, que articula jovens de todo país para participar de debates globais, principalmente sobre questões socioambientais. No caso de Oliveira, a cidade natal dela é constantemente ameaçada por projetos de mineração de carvão e de outros minerais que existem na região. E foi fortemente atingida pelas chuvas e enchentes desse ano.
“A gente vive um sistema que é incongruente. A gente vive a desigualdade, a gente vive a dor, as pessoas passando fome, passando sede, não tendo casa, em um mundo em que a gente tem tanto dinheiro e tanto acesso. É uma coisa que não faz sentido nenhum pra mim e nunca fez. E eu acho que foi assim que eu fui me engajando dentro do movimento de mudanças climáticas”, diz Oliveira, que também participa do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).
“Caçapava do Sul foi recentemente demarcada como um geoparque da Unesco. E esse título é muito importante pra gente porque Caçapava do Sul é um território ameaçado por projetos de mega mineração. É um solo muito geologicamente rico, tentando ameaçar e matar nossa biodiversidade o tempo todo”, complementa ela.
A COP29 acontece no momento em que o mundo segue em uma trajetória para bater outro recorde de temperatura. A reunião já se mostrou um ambiente de negociações tensas entre os países, que atrasam a aprovação da agenda, como o próprio regramento do mercado de créditos de carbono.
Chamada informalmente de “COP do financiamento”, desse encontro espera-se que saia um acordo sobre o tema essencial das ajudas que os países ricos, que mais contribuem para o problema das mudanças climáticas, devem conceder às nações mais pobres, que são também as mais afetadas.
A ajuda deve servir tanto para mitigar a emissão de gases do efeito estufa, principalmente por meio de uma gigantesca conversão energética mundial, como para a adaptação, ou seja, a construção de barragens, a adaptação das residências às temperaturas extremas, entre outras medidas.
Fonte: Brasil de Fato