Plano da multinacional de abocanhar 30% do segmento no Brasil passa por desafio à hegemonia da Bayer em transgênicos

A multinacional Corteva, que atua nos ramos de biotecnologia e defensivos agrícolas, quer se estabelecer como uma das líderes do bilionário mercado brasileiro de sementes de soja. A missão não é trivial. Na briga por espaço, a empresa vai necessariamente precisar desafiar o reinado da alemã Bayer, que domina o segmento no país há duas décadas — o marco desse domínio é o ano de 2005, quando saiu a lei que regulamenta o cultivo de transgênicos no Brasil.
O desafio pode não ser pequeno, mas a Corteva tem um caso de sucesso para atestar que a meta é factível: desafiar a concorrente em sementes de soja, e depois superá-la, foi exatamente o que a empresa fez nos últimos seis anos nos Estados Unidos, país que é o mais importante para os negócios da Corteva. O Brasil é o segundo maior.
“Se pudermos agregar valor para o agricultor brasileiro, eu não vejo por que não podemos conquistar uma participação de mercado de pelo menos 30%”, disse ao Valor Chuck Magro, o principal executivo global da empresa. “Isso vai dar escolha ao produtor”.
O mercado brasileiro de sementes de soja movimentou R$ 33,6 bilhões na safra 2022/23, segundo levantamento que a Blink Inteligência Aplicada apresentou à Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass) no ano passado. Entraram na conta os royalties que os agricultores pagam pelo uso da biotecnologia e o tratamento da semente industrial.
A fatia de 30% não é um fim em si, e a Corteva não tem um prazo-limite para alcançar essa meta móvel. Seja como for, ela serve como norte. “Eu diria que podemos chegar a essa participação até o início da próxima década”, afirmou o executivo. “Mas talvez cheguemos lá um pouco antes disso”. Ao falar dos planos, Magro não citou o nome de concorrente algum.
Nos EUA, a tecnologia Enlist foi a responsável por levar a Corteva à liderança. Hoje, afirma a empresa, sua fatia de mercado é de 65%. A companhia atua no mercado brasileiro de sementes de soja desde 2021, mas sua participação no país é pequena. A Enlist é a tecnologia que a Corteva utilizará também no Brasil, sob a marca Cordius.
Um dos elementos centrais da estratégia da multinacional para ganhar espaço no mercado de sementes de soja geneticamente modificadas será o trabalho com as chamadas multiplicadoras. Essas empresas fecham acordos de licenciamento com as donas da tecnologia, multiplicam as sementes e as revendem aos agricultores.
Chuck Magro esteve nesta semana no Brasil, onde encontrou produtores e parceiros locais. Ele visitou a Expodireto Cootrijal, em Não-Me-Toque, uma das principais feiras agrícolas do Rio Grande do Sul, e, na véspera da entrevista ao Valor, participou de um jantar com multiplicadores de sementes que trabalharão com a empresa.
Aposta no Brasil
O Brasil é um mercado-chave para as ambições de expansão global da Corteva. Em novembro, em apresentação a investidores, a empresa informou que perseguirá a meta de adicionar US$ 1 bilhão a seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) nos próximos três anos. Os pilares dessa estratégia são licenciamento de sementes — o passo que a empresa dará agora com a expansão na soja brasileira —, insumos biológicos e novos lançamentos em sua linha de proteção de cultivos.
“Os agricultores brasileiros são líderes globais em biológicos”, disse Magro. “O resto do mundo tem muito a aprender com os produtores brasileiros sobre como integrar soluções biológicas em suas práticas agronômicas”.
A busca por aumento de receita com sementes não se restringe à soja. Segundo o executivo, a companhia prevê lançar em 2027 seu primeiro híbrido de trigo, uma novidade que chegará primeiro aos EUA, mas que a Corteva pretende oferecer também no Brasil. A rede local de multiplicadores de sementes seria “perfeita” para a distribuição da tecnologia no país, disse Magro.
Nascida há seis anos, a partir da fusão entre Dow e Dupont, a Corteva já é uma das líderes globais na oferta de sementes de milho. Nessa frente, atua com a Pioneer, marca que está prestes a completar 100 anos de existência.
Fonte: Globo Rural