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‘Gaúcho de verdade somos nós’: aldeia Guarani em Porto Alegre celebra ritual de colheita da erva-mate

Cerimônia vai da separação de ramos à moagem da planta, considerada pelos indígenas um presente de Tupã

Carijo na aldeia Anhetenguá. Foto: Divulgação/IECAM

Enquanto muitos gaúchos comemoram em setembro o Mês Farroupilha, uma aldeia Mbya Guarani em Porto Alegre celebra seu primeiro Carijo, ritual do cultivo de um símbolo do Rio Grande do Sul que vem da própria cultura indígena: a erva-mate.

A aldeia Anhetenguá (Aldeia da Verdade, Verdadeira) está estabelecida há 50 anos no bairro Lomba do Pinheiro, Zona Leste da Capital. Lá, moram cerca de 120 pessoas distribuídas em 50 famílias.

“Para nós, indígenas, o Carijo representa um reconhecimento da sabedoria da comunidade, que traz alegria e felicidade, paz e harmonia. Trata-se de uma cerimônia que vai desde a coleta até a moagem da erva-mate”, explica o cacique José Cirilo Pires Morinico.

A cerimônia dura alguns dias, já que envolve a separação dos ramos, a sapecagem (ramos ‘sapecados’, um a um, de forma manual, diretamente na fogueira) e a moagem em pilão.

Cirilo sente orgulho da tradição. “Eu me orgulho muito quando o gaúcho valoriza o conhecimento da cultura Guarani, usando o chimarrão, que originariamente vem pelos Guarani. A gente fica com orgulho de ser gaúcho, porque gaúcho de verdade somos nós, os Guarani”.

O plantio da erva, na aldeia Anhetenguá, foi realizado há mais de dez anos, entre 2012 e 2015. Na época, o Projeto Ar, Água e Terra, realizado pelo Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (IECAM) com o patrocínio da Petrobras, possibilitou a participação do cacique Ramon Brisoela e sua esposa Janaina Rodrigues – ambos da Aldeia Yvyty Porã, localizada na Barra do Ouro, em Maquiné. Eles desceram a Serra para compartilhar seus saberes tradicionais com a comunidade da aldeia Anhetengua.

Carijo na aldeia Anhetenguá. Foto: Divulgação/IECAM

Ramon e Janaina voltaram à aldeia para o Carijo, este ano. “Com alguns anos, a gente já poderia ter feito [o Carijo], mas resolvemos fazer agora, porque para nós tudo tem o momento certo, tem nosso tempo espiritual”, detalha o cacique Cirilo. “E na primeira vez que foi feito, há quase 50 anos… a gente não se vê mais esse Carijo. Por exemplo: quando a gente chegou aqui para criar uma aldeia, faltavam algumas coisas dentro dessa aldeia… e foi o projeto que possibilitou a vinda do Ramon e da Janaína aqui para Porto Alegre. Transporte, alimentação para eles virem para cá. Foi uma vitória poder fazer esse Carijo, porque nem sempre a comunidade tem recurso para trazer outros guaranis e outras aldeias, para fazer lanches comunitários”.

Para os Guarani, a ka’a/ ca’a/ caá (erva-mate) é um presente de Tupã, simbolizando a conexão com a Mãe Terra, o fortalecimento da energia, do espírito e do corpo. O Carijo requer tempo e dedicação e, na aldeia Anhetenguá, foi marcado pela colaboração entre indígenas e juruá (não-indígenas).

Fonte: Sul 21