MapBiomas revela que o bioma perdeu quase um terço de sua vegetação nativa

O bioma Pampa voltou ao centro das discussões ambientais com o lançamento da nova Coleção 10 de mapas e dados sobre cobertura e uso da terra no Brasil do MapBiomas, na quinta-feira (9). Também foi aberta a consulta pública para a Carta do Bioma Pampa, promovida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) em parceria com o Consórcio Brasil Verde – Governadores pelo Clima.
De acordo com o estudo do MapBiomas, 45,6% do Pampa estavam ocupados por algum tipo de uso antrópico em 2024, com predominância da agricultura (41%) e da silvicultura (4%), além de outros, como áreas urbanas e mineração. O percentual supera os 44,5% de vegetação nativa ainda preservada, tornando o Pampa o segundo bioma brasileiro com o menor percentual de cobertura de vegetação nativa, atrás somente da Mata Atlântica.
Entre 1985 e 2024, a área de uso humano cresceu 76%, alcançando 8,8 milhões de hectares, avanço que ocorreu sobre 3,8 milhões de hectares de vegetação nativa suprimidos. A vegetação campestre, típica do bioma, foi a mais afetada. Os campos nativos perderam 30,3% de sua extensão nesse período, a maior redução proporcional entre todos os biomas brasileiros.
“Esse nível de transformação das paisagens do Pampa demanda uma reflexão sobre o futuro do bioma. A vegetação nativa é importante para o equilíbrio ecológico, além de proteger o bioma contra os efeitos das mudanças climáticas”, comenta Heinrich Hasenack, coordenador da pesquisa no Pampa do MapBiomas.
Outro dado relevante é o baixo nível de proteção legal do bioma, já que, atualmente, apenas 3% do território Pampa estão inseridos em unidades de conservação, o menor índice entre os biomas brasileiros.
Para o pesquisador Eduardo Vélez, o fato de a vegetação campestre do Pampa não ter a mesma exuberância das florestas tropicais acaba contribuindo para que a perda dessa vegetação nativa não tenha o mesmo impacto na percepção da sociedade que o desmatamento das florestas provoca.
“Entretanto, a importância ecológica dos campos é equivalente à das florestas, sendo cruciais para a conservação do solo, o controle da erosão, a infiltração da água no solo e a existência de polinizadores, dentre tantos outros serviços ecossistêmicos relevantes”, explica.
Governo do estado abre consulta pública
No mesmo dia em que os dados foram divulgados, o governo estadual anunciou a inclusão do bioma no Código Estadual do Meio Ambiente (Lei 15.434/2020) e publicou o Decreto nº 58.190/2025, que regulamenta a conservação, proteção, recuperação e uso sustentável do Pampa. Os anúncios ocorreram durante a Conferência do Bioma Pampa, parte do 12º Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas (FGMC).
Além disso, foi aberta a consulta pública da Carta do Bioma Pampa, documento elaborado pela Sema em parceria com o Consórcio Brasil Verde e o Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas. A carta reúne propostas e compromissos do Rio Grande do Sul para a conservação do bioma e será levada à COP30, em 2025, em Belém (PA).
O Pampa se estende por 83,3 milhões de hectares entre Argentina, Brasil e Uruguai, ocupando 4,7% do território sul-americano. No Brasil, está presente exclusivamente no Rio Grande do Sul, onde representa cerca de 63% da área do estado. O bioma é caracterizado por vegetação herbácea composta por gramíneas e ervas que variam entre 5 e 50 centímetros, abrigando centenas de espécies de plantas e animais, muitas delas ameaçadas de extinção.
Com 9% de sua área coberta por água, a maior proporção entre os biomas brasileiros, o Pampa abriga importantes sistemas hídricos, como a Laguna dos Patos e as lagoas Mirim e Mangueira. Essas características reforçam o papel estratégico do bioma para a regulação climática e a segurança hídrica no Sul do país.
Fonte: Brasil de Fato RS