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Plano de Trump para Gaza repete modelos fracassados, alerta professor

Para Reginaldo Nasser, plano liderado pelos EUA ignora causas políticas e pode agravar dependência palestina

Garoto em cima de morro de destroços do campo de refugiados de Bureij segura a bandeira da Palestina, região central de Gaza (Foto: Eyad Baba/AFP)

O professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Reginaldo Nasser afirmou que o plano apresentado pelo presidente Donald Trump para encerrar a guerra em Gaza e iniciar a reconstrução do território palestino repete modelos fracassados aplicados pelos Estados Unidos em outros conflitos. Ele foi entrevistado no Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta segunda-feira (13).

O acordo, firmado após mais de dois anos de ofensiva israelense, prevê o desarmamento do Hamas, investimentos de US$ 53 bilhões e a criação de uma “junta de paz” liderada por Trump. O grupo supervisionaria uma equipe de tecnocratas encarregada de reconstruir infraestrutura básica, como estradas, redes de água e energia, e de preparar a transferência de poder à Autoridade Palestina.

“O problema não é dinheiro. O grande problema é qual o objetivo e de que forma isso será feito. Nós temos um exemplo muito recente do que aconteceu com o processo de reconstrução no Afeganistão. Nomear uma equipe tecnocrática não é o caminho”, disse. O professor lembrou que os processos de “reconstrução” conduzidos pelos EUA no Afeganistão e no Iraque resultaram em ocupação prolongada, dependência e novas crises humanitárias.

Segundo Nasser, o modelo de reconstrução liderado por Washington tende a ignorar as causas políticas da crise. “Reconstrução tem um lado político, no sentido de ter projetos voltados para o desenvolvimento, para a educação. Escolas foram destruídas, professores foram mortos. É preciso ter objetivos claros em relação a isso”, afirmou.

Apesar do cessar-fogo e da libertação de prisioneiros palestinos, Nasser ressalta que a situação no território continua crítica. “O desastre humanitário em função do genocídio é muito grande. Antes do dia 7 de outubro de 2023, Gaza já se encontrava numa situação deplorável. Com dois anos de genocídio, imagina a situação em que a gente se encontra”, apontou.

Nasser também reforçou que os Estados Unidos continuam sendo a “variável principal” por trás da questão palestina. “Quem sustentou esse genocídio, quem sustenta militarmente Israel, são os Estados Unidos. Se quiser, para. A hora que ele quiser, ele para isso”, disse.

Para o professor, há ainda o risco de que o território palestino perca espaço no debate internacional à medida que as atenções se voltem a outras crises, como ocorreu com o Afeganistão. “Gradativamente, infelizmente, Gaza vai sair do cenário internacional e não vai se olhar adequadamente para o que está acontecendo. Foram 20 anos de ocupação no Afeganistão e hoje ninguém mais fala do país, que segue em uma situação deplorável”, alertou.

Fonte: Brasil de Fato