Quarteto fluminense e dupla gaúcha estreiam no Rio o espetáculo que percorre o Brasil desde março, puxando o fio da memória de história conjunta iniciada há 43 anos.
Quando Kleiton & Kledir se irmanaram com os integrantes do MPB4 no palco da casa Vivo Rio na noite de sexta-feira, 2 de setembro, na estreia carioca de show que vem sendo apresentado desde março em capitais do Brasil, os seis artistas puxaram o fio de história conjunta iniciada há 43 anos.
Em 1979, ao selecionar o repertório do álbum Bons tempos, hein?!, o MPB4 decidiu gravar Circo de marionetes (1978), última música do quarto e derradeiro álbum do grupo gaúcho Almôndegas, disco também intitulado Circo de marionetes e lançado no ano anterior.
A música Circo de marionetes era de autoria dos irmãos Kledir Ramil e Kleiton Ramil, cantores, compositores e músicos nascidos em Pelotas (RS) e então integrantes do grupo Almôndegas. Com a dissolução da banda gaúcha, os irmãos formaram a dupla Kleiton & Kledir, revelada em dezembro daquele ano de 1979 em festival exibido pela TV Tupi.
A reboque do sucesso de Maria Fumaça (Kledir Ramil e Kleiton Ramil, 1979), canção defendida no festival e depois incluída no primeiro álbum da dupla em 1980, os irmãos conquistaram o Brasil com obra de acento pop que popularizou expressões e sons gaúchos em escala nacional.
Maria Fumaça reapareceu no trilho do roteiro da estreia carioca do show MPB4 e Kleiton & Kledir. O roteiro incluiu naturalmente Vira virou (Kleiton Ramil, 1980), outro ponto de contato entre a dupla gaúcha e o quarteto fluminense, pois a bela canção fez sucesso há 42 anos tanto nas vozes do MPB4 – em gravação do álbum intitulado justamente Vira virou (1980) – como no (melhor) registro feito pela dupla com a adesão de Ivan Lins para o primeiro disco de Kleiton & Kledir.
Na costura do roteiro, Vira virou marcou a aparição da dupla no show, aberto pelo MPB4 com o canto de Porto (Dori Caymmi, 1975) em timbragem vocal que evocou a gravação feita para a trilha sonora da novela Gabriela (TV Globo, 1975).
Com a intimidade adquirida pelo tempo e pelo fato de já terem se reunido em show que percorreu o Brasil em 1980, ano em que o MPB4 também gravou Viração (Kledir Ramil e José Fogaça, 1980) no mesmo álbum Vira virou, os seis artistas contaram causos, tiraram sarro uns dos outros, fizeram discursos humanistas, se enalteceram mutuamente e cantaram músicas que combinaram amizade e política em doses precisas.
A propósito, o encadeamento no roteiro de Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1979) com Amigo é pra essas coisas (Silvio da Silva Júnior e Aldir Blanc, 1970) e Autorretrato (Kleiton Ramil e Kledir Ramil, 2009) – canção cuja letra conclui no refrão que “Coisa boa é um amigo / Pra poder conversar / E trocar figurinhas / Tu me ensina a viver / Que eu te ensino a sonhar / Cada sonho que eu tinha” – reforçou o caráter fraterno do encontro regido pela reunião das seis vozes.
Individualmente, nenhuma das seis vozes têm todo o viço que saltou aos ouvidos quando elas se harmonizaram no show, irmanadas pelo afeto, pelo bem-querer e pelo respeito de uns pela trajetória de outros.
Ainda assim, quando o MPB4 saiu momentaneamente do palco e Kledir mergulhou no solo vocal de Fonte da saudade (Kledir Ramil, 1980) e Paixão (Keldir Ramil, 1981), o público reconheceu de imediato o autor e intérprete dessas apaixonantes canções sensuais.
Quando foi a vez da dupla deixar a cena para o MPB4, Aquiles, Miltinho (os dois remanescentes da formação clássica do grupo), Dalmo Medeiros e Paulo Malaguti Pauleira brilharam no giro sempre inebriante de Roda viva (Chico Buarque, 1967) e no jogo de palavras que sempre enche Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil, 1973) de significados políticos.
Com a volta de Kleiton & Kledir ao palco, cada um dos seis cantores deu voz a uma estrofe de Angélica (Miltinho e Chico Buarque, 1977), canção em memória da busca heroica da estilista Zuzu Angel (1921 – 1976) pelo corpo do filho morto pela ditadura militar.
Dois números depois, a recente canção Paz e amor (Kleiton & Kledir, 2020) – gravada pela dupla com o MPB4 em single editado há dois anos – reforçou o laço de fraternidade, esperança e política que envolveu o show. Esperança ressaltada no número final, Apesar de você (Chico Buarque, 1970), samba que irmanou MPB4, Kleiton & Kledir e o público em uma só voz por dias melhores.
Eis as 22 músicas do roteiro seguido pelo MPB4 com Kleiton & Kledir em 2 de setembro de 2022 na estreia carioca do show que reuniu o quarteto com a dupla no palco da casa Vivo Rio, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):
- Porto (Dori Caymmi, 1975) – MPB4
- Vira virou (Kleiton Ramil, 1980) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- San Vicente (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1972) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Semeadura (Vitor Ramil e José Fogaça, 1981) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1979) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Amigo é pra essas coisas (Silvio da Silva Júnior e Aldir Blanc, 1970) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Autorretrato (Kleiton Ramil e Kledir Ramil, 2009) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- A lua (Renato Rocha, 1980) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Fonte da saudade (Kledir Ramil, 1980) – Kleiton & Kledir
- Paixão (Kledir Ramil, 1981) – Kleiton & Kledir
- Lagoa dos Patos (Kledir Ramil e José Fogaça, 1981) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Noite de São João (Kledir Ramil e Pery Souza, 1981) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Maria Fumaça (Kledir Ramil e Kleiton Ramil, 1979) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Roda viva (Chico Buarque, 1967) – MPB4
- Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil, 1973) – MPB4
- Angélica (Miltinho e Chico Buarque, 1977) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Navega coração (Kledir Ramil e Kleiton Ramil, 1981) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Paz e amor (Kledir Ramil e Kleiton Ramil, 2020) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Partido alto (Chico Buarque, 1972) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Apesar de você (Chico Buarque, 1970) – MPB4 com Kleiton & Kledir
Bis:
- Deu pra ti (Kledir Ramil e Kleiton Ramil, 1981) – MPB4 com Kleiton & Kledir
- Quem te viu quem te vê (Chico Buarque, 1966) – MPB4 com Kleiton & Kledir