Tradicionalista que inspirou a estátua do Laçador faleceu em 2018 e agora também vai inspirar um mural gigante em Porto Alegre, feito por um dos grafiteiros mais conceituados do mundo
O 4º Distrito de Porto Alegre – conhecido como a região mais inovadora da cidade – está prestes a ganhar um painel do grafiteiro Eduardo Kobra, que tem desenhos espalhados pelas principais metrópoles do mundo. O que a gente ainda não sabia era qual seria o personagem retratado. Agora, acabou o mistério: Kobra vai pintar o tradicionalista Paixão Côrtes, falecido em 2018.
O artista não costuma divulgar imagens prévias, segundo sua assessoria. A criação acima é apenas ilustrativa. Com início previsto para esta segunda-feira (16), a obra ainda sofrerá alterações até a conclusão, que promete surpreender.
Há 64 anos, Côrtes foi a inspiração para a estátua do Laçador, o monumento que até hoje simboliza como nenhum outro a figura do gaúcho. A estátua tornou-se, também, um ícone de Porto Alegre, recepcionando quem chega à Capital.
Por meio da arte contemporânea e vibrante do artista, Côrtes será retratado em um mural de 10 metros de altura por 16 metros de largura, em um prédio emblemático do 4º Distrito: o antigo galpão que abrigava a sede da tradicional Companhia Fábrica de Vidros Sul-Brasileira, na esquina da Avenida Voluntários da Pátria com a Rua Almirante Tamandaré.
O espaço foi incorporado a um novo empreendimento da região, chamado 4D Complex House, que contará com diferentes operações e receberá o Quattro – 4D Premium Lofts (com 41 lofts e vista privilegiada para o pôr do sol do Guaíba).
“Percebi o trabalho fantástico dele”, diz Kobra sobre homenagem a Paixão Côrtes
A ideia de produzir uma intervenção homenageando Paixão Côrtes veio de Kobra, que fez uma imersão no trabalho do gaúcho e acabou propondo o nome do folclorista.
— Fizemos uma pesquisa, com a ajuda da empresa, e começamos a entender o que poderíamos fazer. Mas eu não estava tratando com nomes porque uma das ideias foi fazer sobre etnias ou sobre tolerância ou paz. Mas quando fiz uma imersão, percebi o trabalho fantástico dele (Paixão Côrtes), espetacular, a dedicação dele pela cultura e pela tradição. Me chamou muito a atenção. Me identifiquei demais — conta Kobra. — O muro é uma extensão do próprio trabalho que ele fez. Ele se transformou na própria mensagem, pelo que percebi. Porque ele falava de tradições, de manter e preservar a cultura. E este mural, agora, faz parte disso e da própria história que ele ajudou a contar — completa.
Para Kobra, que fez trabalhos em cerca de 35 países, a obra sobre Paixão Côrtes se insere em seu novo projeto de resgate, manutenção e valorização das culturas regionais, inaugurado com o mural de seis metros por 19,60 metros sobre o compositor Zacarias Mourão (autor de “Pé de Cedro”), feito em Coxim, no interior do Mato Grosso do Sul.
O muralista veio ao Estado à convite da construtora ABF Developments, que está renovando o prédio da antiga fábrica para se tornar um completo multiuso com diferentes operações. Conforme o CEO da ABF Developments, Eduardo Fonseca, a ideia de ter uma obra de Kobra no local surgiu da vontade de honrar a história do estado, ao mesmo tempo em que contribui para sua renovação.
— Essa homenagem às tradições gaúchas, muito fortes e marcantes, através da figura do Paixão Cortes, a inspiração para o Laçador, na arte de um dos muralistas mais famosos do mundo, é mais que um presente para a cidade. É um novo ponto turístico no 4D, um painel com alma e pulsante que honra a história do estado, ao mesmo tempo em que contribui para sua renovação – afirma Fonseca.
Ao saber da homenagem ao pai, o filho de Paixão Côrtes, Carlos Côrtes, ressaltou a importância de renovar as memórias.
— Entendemos que a homenagem feita por um artista mundialmente admirado como o Kobra é um reconhecimento pelos 70 anos de vida pública e pela dedicação do meu pai ao trabalho. Renovar as memórias é fundamental e o mural tem o potencial de fazer com que mais e mais pessoas tenham curiosidade em saber quem foi Paixão Côrtes. Com isso, se realiza o desejo dele de servir de veículo das tradições, fazendo com que a cultura seja mantida e valorizada também nas novas gerações — finalizou.
*Fonte: GZH