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Cenair Maicá é homenageado com monumento no município de São Miguel das Missões

Estátua do artista de referência da música gaúcha dos anos 70 e 80 será inaugurada com festa neste sábado (29)

Estátua de quatro metros de altura e mais de quatro toneladas está localizado na praça Ricardo Antunes Ribas – Fonte: Divulgação / Pousada das Missões

Cantor e compositor nativista gaúcho que marcou época nos anos 70 e 80, Cenair Maicá será homenageado pelo município de São Miguel das Missões, com a inauguração de uma estátua em sua homenagem. A solenidade será neste sábado (29), às 15h30, em evento de celebração dos 35 anos de emancipação da cidade missioneira que vai contar com apresentações artísticas.

O monumento de quatro metros de altura e mais de quatro toneladas está localizado em uma área com formato de violão na praça Ricardo Antunes Ribas, na zona urbana da cidade do Noroeste gaúcho. Foi construído para valorizar o artista conhecido como “Cantor das Águas” por sua contribuição para a música missioneira.

A homenagem que teve a inauguração atrasada por conta da pandemia é organizada pela Comissão Pró-construção do Monumento e Memorial a Cenair Maicá, formada por moradores do município, que obtiveram recursos através de doações. Cenair Maicá nasceu em Tucunduva, porém viveu parte de sua vida em São Miguel das Missões, onde teve um restaurante.

Filho de Cenair, o músico Patrício Maicá conta que a família, repleta de artistas que mantém seu legado, está muito feliz e emocionada com a homenagem. “O pai me disse, quando ele partiu: ‘cuida bem dos teus irmãos e não deixa esse nosso trabalho de cultura terminar’. Está aí hoje viva a sua memória imortalizada através dessa escultura belíssima.”

Para Patrício, a homenagem de São Miguel das Missões valoriza o trabalho daqueles que cantaram a região missioneira para o mundo. “O artista que sai e canta sua aldeia em outros povos quer despertar a curiosidade das pessoas. Foi isso que os Troncos Missioneiros colocaram com muito carinho, na época, em suas músicas, em solo da terra vermelha, solo missioneiro”, diz.

Terceiro Tronco Missioneiro imortalizado

O escultor são-luizense Vinícius Ribeiro é o responsável pela confecção da estátua de Cenair. Ele também é autor dos monumentos em homenagem a Jayme Caetano Braun (em São Luiz Gonzaga) e Noel Guarany (em Bossoroca), que ao lado de Cenair Maicá e de Pedro Ortaça formavam os Troncos Missioneiros, grupo que contribuiu para projetar a música nativista gaúcha missioneira nos anos 80.

“Retratar o Cenair Maicá pra mim foi uma grande honra porque além de ser fã desde minha infância, sei da importância cultural dele pra nossa musicalidade gaúcha. Além de ser o Cantor das Águas, no meu ver ele foi também o cantor do excluído”, afirma o escultor, lembrando que o artista conviveu com os indígenas quando morou em São Miguel das Missões, “e ali encontrou o seu caminho musical, um caminho naturalmente defensor do povo indígena”.

Vinícius entende que o reconhecimento prestado pelo município de São Miguel das Missões e sua comunidade homenageia não somente Cenair Maicá, mas a musicalidade do Rio Grande do Sul como um todo, ao valorizar suas “fontes originais”.

Para a professora Carmen Ottonelli Maicá, esposa do irmão de Cenair, o também músico Valdomiro Maicá, a beleza da escultura “agrada os olhos do mundo junto com a doçura de suas canções”, pois “recupera a memória de um povo e desempenha o papel de fortalecer a autoestima e o sentimento de pertencimento do indivíduo ao seu grupo social a sua comunidade”. Ela destaca que a escultura já promoveu uma mudança na cidade “protegendo a diversidade cultural e ampliando acesso a bens e serviços”.

Foto da capa do disco “Canto dos Livres” / Reprodução

A vida de Cenair Maicá

Cenair Maicá nasceu em 3 de maio de 1947 no município de Tucunduva, próximo a Santa Rosa. Passou sua infância na cidade de Oberá, na província de Misiones, Argentina. Começou sua carreira artística com dez anos, no município de Santo Ângelo, e manteve em sua obra traços de integração latino-americana. Viveu e teve um restaurante em São Miguel das Missões, cidade conhecida por abrigar o Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, popularmente conhecido como Ruínas de São Miguel das Missões, remanescentes de antiga redução jesuítica.

O músico lançou seu primeiro disco em 1970, Filosofia de Gaudério, em parceria com Noel Guarany. Seu primeiro solo, “Rio de Minha Infância”, veio em 1978. Sua discografia reúne sete discos, sendo o último o “Troncos Missioneiros”, de 1988.

As músicas de Cenair Maicá são marcadas por poéticas de consciência social e ambiental. As letras falam, por exemplo, sobre o massacre dos povos indígenas na região de fronteira que une Brasil, Argentina e Paraguai. Também sobre a vida dos trabalhadores do campo e da vida na fronteira, e sobre o rio Uruguai, símbolo ambiental da região Noroeste gaúcha.

Entre suas composições mais conhecidas estão Rio de minha infância, Meu canto, Baile do Sapucay, KM 11 e Canto dos livres. Na música João Sem Terra, fala do drama de quem não tem onde morar e enfrenta as dificuldades na busca do sonho.

Cenair Maicá faleceu aos 41 anos de idade, em 1989, em decorrência de problemas de saúde agravados pelo fato de ter apenas um rim, pois perdera o outro em um acidente quando tinha 17 anos de idade.

*Fonte: Marcelo Ferreira (Brasil de Fato RS)