BTG, BGC e Tullett Prebon foram intermediárias das transações bilionárias com dólar realizadas antes do tarifaço de Donald Trump

BTG Pactual, BGC Partners e Tullett Prebon, corretoras que intermediaram contratos futuros de dólar que somaram R$ 6,6 bilhões, horas antes do anúncio das tarifas americanas contra o Brasil, têm histórico de sanções e investigações por autoridades financeiras no Brasil e em outros países, levantando dúvidas sobre práticas de supervisão e governança.
Até o momento, o que se sabe é que essas transações foram operadas por meio dessas corretoras, sem informações divulgadas sobre quem seriam os beneficiários finais das operações.
Insider trading é o uso de informação relevante ainda não pública para obter vantagem na compra ou venda de ativos no mercado financeiro. Quando alguém antecipa uma decisão de impacto — como uma fusão, uma medida de governo ou uma mudança regulatória — e lucra com isso antes que o fato se torne público, está praticando uma conduta proibida pelas regras do mercado de capitais.
O objetivo das regras contra insider trading é garantir igualdade de condições entre os participantes do mercado e evitar manipulações que distorçam preços ou prejudiquem investidores.
Histórico das corretoras envolvidas
O BTG Pactual, maior operador no episódio de 9 de julho, movimentou contratos equivalentes a R$ 2,7 bilhões. O banco já foi investigado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por suspeitas de uso de informação privilegiada em negociações envolvendo empresas do grupo de Eike Batista.
Foi absolvido em 2014, mas o caso expôs fragilidades percebidas no controle interno de barreiras entre áreas de operação e assessoria do banco. .
A Tullett Prebon, por sua vez, tem um histórico mais contundente de punições. Em 2019, foi multada em £ 15,4 milhões pela autoridade do Reino Unido por práticas como os chamados “wash trades” — operações artificiais entre contas vinculadas, feitas apenas para gerar comissões.
No Brasil, foi investigada em 2021 pela CVM por suspeita de insider trading em opções de ações da Petrobras. Segundo documentos públicos, as operações geraram lucros relevantes antes de um anúncio com impacto direto sobre os papéis da estatal.
Já a BGC Partners é controlada por Howard Lutnick, secretário de Comércio dos Estados Unidos. Ainda que não tenha sido formalmente acusada de insider trading, a corretora foi alvo de diversas sanções regulatórias por falhas graves em controles. Em 2022, a Financial Conduct Authority (FCA), do Reino Unido, aplicou multa de £4,77 milhões por não detectar práticas de abuso de mercado.
A SEC, nos Estados Unidos, também multou a BGC em US$ 1,4 milhão por divulgar indicadores financeiros enganosos, prejudicando a transparência para investidores.
Embora não tenha havido acusação direta de uso de informação privilegiada, a falta de mecanismos adequados de monitoramento preocupa órgãos reguladores.
Críticas ao Banco Central
Ministros do governo têm criticado abertamente o Banco Central por considerar que a instituição teve pouca atuação durante o episódio das transações suspeitas. Para eles, o Banco Central deveria ter demonstrado maior proatividade na identificação e monitoramento das movimentações atípicas ocorridas na Bolsa antes do anúncio das tarifas.
Um dos ministros comentou que o Banco Central, no papel de monitorar as operações de bomba para evitar um ataque especulativo contra a moeda real tem que tentar entender esse movimento para poder coibir. A função do BC é monitorar para entender o que estava acontecendo.
“Se isso for feito por uma instituição financeira, a responsabilidade é do Banco Central também. Agora, o que não dá é para o BC dizer que não aconteceu nada atípico, esse é o ponto”, afirmou um ministro sob condição de anonimato.
Outro integrante do governo complementou, dizendo que “qualquer coisa, futura ou presente, que diga respeito ao câmbio, diz respeito ao Banco Central”.
“Qualquer coisa que diga respeito a instituições financeiras envolvidas atrai, sim, o interesse do Banco Central. O restante é trabalho investigativo a cargo da Polícia Federal”, disse.
Essas críticas destacam a necessidade de esclarecimentos adicionais sobre a atuação dos órgãos reguladores diante das operações atípicas que ocorreram antes do tarifaço.
Fonte: ICL Notícias