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Lula sugere taxação sobre super-ricos para ajudar no combate à fome

Em Roma, o presidente também defendeu que países do Sul Global tenham alívio de dívidas

Lula citou Maria Carolina de Jesus ao dizer que a escravidão atual se chama fome (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira (13) que uma das alternativas ao combate a fome é a taxação sobre super-ricos. Em discurso na abertura do Fórum Mundial da Alimentação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma, o mandatário afirmou que é preciso aumentar a arrecadação para sustentar programas voltados ao combate à fome.

Lula usou uma pesquisa do Programa Mundial de Alimentos da própria ONU como argumento.

“Segundo o Programa mundial de alimentos, garantir três refeições diárias custaria 315 bi de dólares. Isso representa 12% dos US$ 2,7 trilhões consumidos anualmente com gastos em armas. O imposto global de 2% sobre ativos de super ricos obteríamos esse montante. A fome é irmã da guerra, seja ela com armas e bombas ou com tarifas”, afirmou.

A taxação sobre super-ricos faz parte de um projeto do governo. Nas últimas semanas, a comunicação do Planalto tem se esforçado nas redes sociais para mostrara a importância de taxar grandes fortunas para uma “justiça tributária” no país. Além disso, um projeto para a taxação de bancos, casas de apostas e bilionários foi apresentado no Congresso, mas derrubado pela extrema direita.

O presidente também criticou as “barreiras protecionistas” dos países ricos. Para Lula, medidas que limitam a circulação de produtos dos países do Sul Global, desestruturam a “produção agrícola no mundo em desenvolvimento”.

O fórum celebra o 80º aniversário da organização. Durante o evento, o mandatário também reforçou a importância do multilateralismo e da cooperação entre os países para adotar políticas universais de enfrentamento à fome. De acordo com ele, o entusiasmo com a Agenda 2030, assinada em 2025, foi abalado ao longo do tempo. A efetividade da ONU tem sido pauta de forças de extrema direita ao redor do mundo. O próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem questionado a organização.

“O trabalho da FAO não deixa dúvidas que o mundo seria pior sem o multilateralismo. Graças a FAO, um número crescente de países reconheceram a necessidade da alimentação nas suas constituições. A FAO é exemplo de um multilateralismo que ouve os países em desenvolvimento, valoriza o conhecimento local e constrói soluções adaptadas a cada realidade”, disse Lula.

Em discurso de 14 minutos, o presidente brasileiro afirmou que o acesso a alimentos é um “recurso de poder” e que não há como dissociar a fome das desigualdades. De acordo com o mandatário, o avanço tecnológico desbancou a previsão dos anos 1970 de que a produção agrícola não acompanharia o crescimento da população. Segundo a própria FAO, hoje o mundo produz comida suficiente para alimentar 1,5 vezes a população mundial.

O presidente também valorizou políticas desenvolvidas pelo governo brasileiro nas últimas décadas. Primeiro citou o Fome Zero, programa de 2003 para erradicar a fome no Brasil. O projeto foi incorporado pela própria FAO como uma parte ampla de políticas para garantir a segurança alimentar de diferentes países.

Lula mencionou ainda a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil como parte do trabalho do governo brasileiro para garantir qualidade de vida para a população e, especialmente, a segurança alimentar. O presidente também ressaltou que, nas gestões petistas, o Brasil saiu do mapa da fome em duas ocasiões: em 2014 e 2025.

Além da taxação de super-ricos, Lula pediu que outras medidas sejam adotadas para ampliar o acesso a alimentos pela população. Ele citou a necessidade de aumentar o financiamento ao desenvolvimento, reduzir os custos de empréstimos e aliviar as dívidas dos países mais pobres como medidas cruciais.

O presidente terminou o discurso afirmando que a fome não é só um problema econômico como também político, já que o enfrentamento à insegurança alimentar parte de decisões dos governos. Ele também afirmou que um outro componente importante dessa luta é o enfrentamento às mudanças climáticas.

“Um planeta mais quente será um planeta com mais fome. A escassez de água, as catástrofes naturais e a perda da biodiversidade afetarão a produtividade agrícola e o preço dos alimentos. As mudanças do clima precisam de uma nova revolução verde que demanda tecnologias e recursos. Não haverá justiça climática se o enfrentamento ao aquecimento global não caminhar lado a lado com o combate à fome e à pobreza”, concluiu Lula.

Fonte: Brasil de Fato