Senador Omar Aziz criticou o ‘lado podre’ das Forças Armadas por envolvimento em ‘falcatrua’ no governo Jair Bolsonaro; nota de resposta foi articulada pelo ministro Braga Netto.
Omar Aziz criticou tom de resposta dada por Pacheco após nota dura da Defesa (Jefferson Rudy/Agência Senado)
O Ministério da Defesa e a cúpula das Forças Armadas entraram em colisão política com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. Os militares reagiram nesta quarta-feira, dia 7, ao presidente da CPI, senador Omar Aziz, que criticou o "lado podre" das Forças Armadas por envolvimento em "falcatura" no governo Jair Bolsonaro. Os comandantes e o ministro da Defesa acusaram Aziz de desrespeitar as Forças Armadas e generalizar "esquemas de corrupção" na CPI. Aziz retrucou no plenário do Senado, dizendo-se "intimidado" pela primeira ofensiva sobre o Congresso realizada em conjunto pelos novos comandantes militares nomeados por Bolsonaro. À noite, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), jogou panos quentes ao transmitir respeito às Forças Armadas e pediu aos senadores “pacificação e reflexão”, sublinhando confiar também nos trabalhos da CPI. O tom da resposta foi criticado pelo senador Omar Aziz. Omar observou que se referiu apenas aos militares acusados de irregularidades e que a resposta dos comandantes foi “muito desproporcional” e teve caráter de “intimidação”. "Infelizmente, um discurso bastante moderado no momento que nós vivemos.
Vossa Excelência não se referiu à intimidação que foi feita pelas Forças Armadas. Vossa Excelência, como presidente do Senado, deveria dizer isso no seu discurso. Deveria dizer: “Eu não aceito que se intimide um senador da República. Era isso que eu esperava de Vossa Excelência", disse Aziz a Pacheco. As investigações da CPI levantaram suspeitas de envolvimento de uma série de oficiais, da ativa e da reserva, em irregularidades durante a pandemia do novo coronavírus. Parte deles foi levada para o Ministério da Saúde durante a gestão do general de Divisão Eduardo Pazuello, ex-ministro alvo da CPI, enquanto outros estariam ligados a tentativas de venda de vacinas ao governo.
Nessa quarta-feira, Aziz determinou a prisão em flagrante por falso testemunho do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, que foi controlador de voo da Força Aérea Brasileira (FAB). Ele depôs à CPI na condição de testemunha depois de ser acusado de cobrar propina para fechar um contrato de vacinas com a empresa Davati. Segundo Aziz, Dias mentiu aos senadores reiteradamente. Em determinado momento, o presidente da CPI desabafou: "As Forças Armadas, os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia, porque fazia muito tempo, fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo.
Fazia muitos anos.
Aliás, eu não tenho nem notícia disso na época da exceção que houve no Brasil, porque o Figueiredo morreu pobre, porque o Geisel morreu pobre, porque a gente conhecia… E eu estava, naquele momento, do outro lado, contra eles. Uma coisa de que a gente não os acusava era de corrupção, mas, agora, Força Aérea Brasileira, Coronel Guerra, Coronel Elcio, General Pazuello e haja envolvimento de militares das Forças Armadas". A manifestação de Aziz irritou os governistas. O senador bolsonarista Marcos do Val (Podemos-ES) disse que o presidente da CPI se desfez das Forças Armadas. Aziz voltou a reiterar a crítica: "O que eu quero explicar é que, infelizmente, o que nós temos ouvido aqui nos relatos do depoente é que geralmente tem alguém das Forças Armadas. Isso não é bom para o Brasil. Não é bom".
A nota de resposta foi articulada pelo ministro Braga Netto, general de Exército da reserva escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro como interventor na Defesa. Ele foi o responsável por coordenar a troca inédita de toda a cúpula da Defesa, no fim de março, quando o presidente cobrava alinhamento político ao seu governo. A nota pública foi assinada também pelos comandantes da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, e do Exército, general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira."Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável", rebateram os militares. "As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro."
Leia a íntegra da nota do Ministério da Defesa e da cúpula das Forças Armadas
O Ministro de Estado da Defesa e os Comandantes da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira repudiam veementemente as declarações do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Senador Omar Aziz, no dia 07 de julho de 2021, desrespeitando as Forças Armadas e generalizando esquemas de corrupção. Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável. A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições pertencentes ao povo brasileiro e que gozam de elevada credibilidade junto à nossa sociedade conquistada ao longo dos séculos. Por fim, as Forças Armadas do Brasil, ciosas de se constituírem fator essencial da estabilidade do País, pautam-se pela fiel observância da Lei e, acima de tudo, pelo equilíbrio, ponderação e comprometidas, desde o início da pandemia Covid-19, em preservar e salvar vidas. As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro. Walter Souza Braga Netto Ministro de Estado da Defesa Alte Esq Almir Garnier Santos Comandante da Marinha Gen Ex Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira Comandante do Exército Ten Brig Ar Carlos de Almeida Baptista Junior Comandante da Aeronáutica
Agência Estado, Senado e Redação/
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