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Atos contra e a favor de Jair Bolsonaro se espalham pelo Brasil

Manifestações foram, em sua maioria, pacíficas, mas contrariavam a recomendação de manter o isolamento social.

 

 

Manifestações em Brasília – DF (Adriano Machado/Reuters/ABr)

 

 

O presidente Jair Bolsonaro foi alvo neste domingo de protestos no Distrito Federal e em ao menos 11 capitais nesse domingo (7). Classificados por Bolsonaro na semana passada como "marginais" e "terroristas", os manifestantes fizeram atos majoritariamente pacíficos. A adesão foi maior em São Paulo, onde também houve panelaços e buzinaços contra o presidente. Após a manifestação terminar, a Polícia Militar (PM) usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar um grupo que continuava nas ruas de Pinheiros, Zona Oeste. Os jovens quebraram vidraças de agências bancárias e viraram uma caçamba de material de construção. Os grupos que foram ontem também levantaram outras bandeiras, como o combate ao racismo. Ao longo do dia, foram registrados atos a favor de Bolsonaro bastante reduzidos. O presidente havia recomendado a seus seguidores que não saíssem de casa. Ainda assim, houve aglomerações a favor do presidente em São Paulo e Brasília. Se nas semanas anteriores, Bolsonaro sobrevoou os atos e os visitou a cavalo, ontem ele apenas cumprimentou um grupo de simpatizantes na porta do Palácio da Alvorada.

São Paulo

Na Avenida Paulista, os apoiadores do presidente se reuniram perto do prédio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), usando camisas verdes e amarelas, algumas com o rosto do presidente estampado. Eles carregavam faixas que pediam "intervenção militar" e criticavam o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Já no Largo da Batata, os 3 mil manifestantes presentes, segundo informação da Polícia Militar, estavam majoritariamente de preto. Assim como há uma semana, torcedores de times de futebol, especialmente do Corinthians, se manifestaram a favor da democracia. Os corintianos abriram uma grande bandeira com os dizeres "Democracia Corintiana". O ato no Largo da Batata teve, além de gritos de "fora, Bolsonaro", também como pauta o antirracismo e o protesto contra a violência policial contra negros, com cartazes com os dizeres "Vidas Negras Importam". Em dado momento, os manifestantes gritavam "não consigo respirar" em alusão à frase dita pelo norte-americano George Floyd, negro desarmado assassinado em Mineápolis, nos Estados Unidos, por um policial branco que ajoelhou por nove minutos sobre seu pescoço. "Nós temos aqui os nossos próprios problemas e as nossas próprias mortes. A gente está falando da polícia que mais mata. A gente está falando da mortalidade do corona nos negros, muito maior. A gente está falando do isolamento que não funcionou nas favelas e nas periferias. Então, a gente está fadado à morte, de corona, de fome ou de tiro", disse a manifestante Juliana Gonçalves, que usava máscara e um escudo de proteção facial. Além das faixas com os dizeres "Fora Bolsonaro", outros manifestantes levantavam cartazes questionando ações do governo nas áreas cultural e indígena, além de palavras de ordem contra ataques a negros. No carro de som, líderes de movimentos sociais, ativistas ligados ao PSOL e representantes de torcidas organizadas discursaram sobre direitos humanos. Não havia outras bandeiras de partidos políticos. Alguns manifestantes entregaram cravos para integrantes da PM para fazer referência à Revolução dos Cravos, movimento histórico contra os fascistas em Portugal. Alguns policiais aceitaram as flores, mas depois foram orientados pelo comando a devolvê-las. A maior parte dos participantes usava máscaras. Mas, durante a manifestação, não mantiveram a distância de 1,5 metro entre cada pessoa. No fim de semana anterior, as manifestações foram mais tumultuadas, com a polícia usando bombas de efeito moral para evitar que grupos favoráveis e contrário ao presidente se digladiassem na Avenida Paulista.

Capitais

Nos demais estados, os atos também ocorreram com tranquilidade. Em Brasília, protestantes ocuparam parte da Esplanada dos Ministérios para se posicionarem contra o presidente Jair Bolsonaro e contra o racismo. A Polícia Militar fez um cordão de isolamento para impedir que os manifestantes avançassem até a Praça dos Três Poderes, onde fica o Palácio da Alvorada. Rio, Belo Horizonte, Belém, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Fortaleza e Goiânia também registraram atos políticos nesse domingo. Manifestantes vestidos, em sua maioria, de preto e usando máscaras para proteção contra o novo coronavírus tomaram uma das pistas da Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, para protestar contra o racismo e a violência policial nas favelas da cidade. O ato também criticou governo Bolsonaro e pediu a sua saída do poder. Na capital mineira, a concentração de opositores a Bolsonaro se deu na Praça da Bandeira, região sul, e seguiu com uma caminhada em direção à Praça Sete, no centro da cidade. Já em Belém, um esquema de segurança impediu manifestação contra o presidente. A capital do Pará também não teve atos a favor do presidente da República. Mais de 100 manifestantes foram detidos e levados para uma delegacia. O centro de Porto Alegre se tornou palco de atos contra o presidente Bolsonaro. Embora organizadores dos atos que se denominam antifascistas não tenham chegado a um consenso sobre sair ou não às ruas, temendo atos de vandalismo provocados por infiltrados e também a pandemia do coronavírus, manifestantes tomaram a região central.

Ameaça e afastamento

A Polícia Militar de São Paulo afastou das ruas um cabo que fez, em suas redes sociais, postagens ofensivas a grupos que protestam contra o presidente Jair Bolsonaro. Segundo o comando da PM, uma apuração foi instaurada para averiguar a conduta do cabo Lemos, da Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (ROCAM). Reportagem do Estadão mostrou no domingo que o governo de São Paulo tem tentado conter o bolsonarismo na corporação e manter a neutralidade e o caráter apartidário da instituição. A apuração contra o cabo Lemos foi instaurada porque ele escreveu, em sua conta no Instagram: "Hoje tem manifestação no Largo da Batata, e os ANTIFAS (anti-fascistas) querem marcar presença. Eu quero cacetar a lomba dos baderneiros". Após tomar conhecimento da publicação, a PM retirou Lemos da escala de trabalho. "A polícia não compactua com essas atitudes", disse o secretário executivo da PM, coronel Alvaro Batista Camilo.

Detenções

Após a dispersão no Largo da Batata, parte dos manifestantes quis seguir em passeata até a região da estação Fradique Coutinho do metrô, que é próxima ao ponto original do protesto. Apesar de a PM afirmar que o acordo inicial era que a manifestação não se movimentaria, decidiu permitir essa caminhada. Após o ato na estação, um grupo minoritário quis se encaminhar para a Avenida Paulista e foi impedido pelos policiais, iniciando assim um confronto. "Um grupo que sobrou já no início da noite, que eu não considero manifestantes -os manifestantes, aqueles cidadãos de bem que fizeram seus atos contra ou pró governo federal, contra ou pró governo estadual, esses já tinham ido para casa. Agora esses que permaneceram… essas pessoas eu não classifico mais como manifestantes. Essas pessoas que ficam no final são meia dúzia de vândalos", disse à GloboNews o secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, coronel Álvaro Camilo. Ele disse que a PM realizou 17 detenções de pessoas que portavam objetos como comuteis molotov, paus e pedaços de madeira tanto no protesto a favor de Bolsonaro, na Paulista, como no contra o presidente, no Largo da Batata. Imagens da TV também mostraram uma agência bancária depredada – a polícia disse que o mesmo ocorreu com uma segunda – e pessoas ateando fogo em lixeiras e virando caçambas de entulho. No Rio de Janeiro, onde no fim de semana passado a polícia também usou bombas de efeito moral, um grupo de menos de 100 pessoas fez pela manhã uma caminhada pacífica pela orla da Praia de Copacabana a favor de Bolsonaro. "Somos contra a corrupção e a favor do Brasil", disse um manifestante idoso (pertencente ao grupo de risco da Covid-19) que se identificou apenas como Aílton. No centro da capital fluminense, a manifestação contra Bolsonaro, a exemplo do que aconteceu em São Paulo, também levou a bandeira do antirracismo e de protesto contra a violência policial nas favelas da cidade, novamente com menções a Floyd e cartazes com a mensagem "Vidas Negras Importam". No Rio, a PM também deteve pessoas que portavam objetos como facões, bastões de madeira, barras de ferro entre outros tanto no protesto de Copacabana como no da região central. Uma pessoa que tinha mandado de prisão em aberto por homicídio foi preso e outras 45 detidas, de acordo com a PM fluminense.

Bolsonaro

Em Brasília, após Bolsonaro pedir durante a semana que seus apoiadores não participassem de manifestações neste domingo, aconteceram atos a favor e contra o presidente. Algumas dezenas de apoiadores de Bolsonaro ocupavam um lado da Esplanada dos Ministérios com as tradicionais camisas verdes e amarelas que se tornaram marca do grupo favorável ao presidente. Do lado oposto, torcedores de times de futebol se juntaram a centenas de manifestantes que gritavam a favor da democracia e a outro grupo numeroso de ativistas contra o racismo que lembravam vítimas negras da violência policial no Brasil, como o menino João Pedro, morto dentro de casa por dezenas de tiros durante uma operação policial em uma favela no Rio de Janeiro. Em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro – que durante a semana chamou os manifestantes contrários a ele de "marginais", "maconheiros", "terroristas" entre outros ataques – cumprimentou, abraçou e tirou fotos com um pequeno grupo de apoiadores que se aglomerou no local. O presidente não usava máscara, apesar de o equipamento de proteção ser obrigatório por decreto no Distrito Federal. Em outro momento, ainda sem usar máscara, Bolsonaro falou com um outro grupo de simpatizantes em frente ao palácio que é sua residência oficial.

 

 

 

Reuters/Agência Estado/Dom Total///