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PSDB começou caça às bruxas no partido, acusa tucano

"Não há nenhuma resolução do partido que impeça que seus filiados defendam a Constituição Brasileira e dialoguem com quem mais o faça, fica evidente que se trata do início da perseguição ao quadros progressistas”, denuncia o sociólogo Fernando Guimarães; ele e outro tucanos proeminentes encabeçaram uma reunião suprapartidária com legendas como PSOL e PT, o que causou tensão no ninho tucano

23 DE MAIO DE 2019 ÀS 13:14

William De Lucca, 247 – O sociólogo Fernando Guimarães recebeu com surpresa a notícia de que seu partido, o PSDB, pretende expulsá-lo do quadro de filiados por liderar a formação de grupo suprapartidário de lideranças chamado “Direitos Já”. O bloco formado na última segunda-feira (21) conta com representantes de dez partidos – entre eles PSDB, PDT, PT, Psol e PCdoB Cidadania.

A iniciativa gerou reação entre os tucanos, que acusam Fernando de assumiu sua “posição pessoal como posição do partido”, o que contrariaria o estatuto do partido. O diretório municipal do PSDB em São Paulo pretende abrir uma representação no conselho de ética da legenda contra o sociólogo.

Para ele, estar filiado ao partido é uma oportunidade de ampliar as possibilidades de engajamento político, e não ter sua vida tutorada por uma burocracia partidária covarde e servil.

“Isso é macarthismo. Eu não me manifestei em momento algum em nome do partido, agora sou tucano sim, aliás há 30 anos, dediquei a minha vida para a construção desse partido com o firme propósito de defesa da social democracia, da defesa dos direitos humanos, não para ver o partido se apequenando na mão de dirigentes que não entenderam o recado deixado pelo nosso saudoso Sérgio Motta”, explica Fernando, em entrevista ao Brasil 247.

Perseguição

Ele diz que em nenhum momento usou o nome do partido, e que a reunião, suprapartidária, marcou o compromisso com os valores civilizatórios assegurados pela Constituição, acima de interesses partidários.

“A mensagem do Diretório Municipal e Estadual é uma intromissão nos direitos que tenho assegurado na Constituição Federal de livre manifestação. Ademais não há nenhuma resolução do partido que impeça que seus filiados defendam a Constituição Brasileira e dialoguem com quem mais o faça. O que curiosamente os dirigentes do PSDB omitem é que há dois meses atrás o PSDB fez uma aliança com o PT para eleger um tucano Presidente da Assembleia Legislativa de SP com o voto dos petistas e eleger um petista Secretário Geral com o voto de tucanos. Fica evidente que se trata do início da perseguição ao quadros progressistas”, denuncia.

“Começou a temporada de caça às bruxas. Querem um partido com militantes de cabresto. Isso eu nunca fui e nunca serei. O Governador Mario Covas dizia “sou um subversivo em meu partido”. É na coragem dele que eu me espelho”, completou o sociólogo.

Alinhamento com extremistas

Para o tucano, o partido não deu uma guinada à direita, e o presidente nacional da sigla, o ex-governador Geraldo Alckmin, conduziu o partido de forma “moderada e progressista”. Ele diz que parte dos tucanos votou e fez campanha para o petista Fernando Haddad, e que o grupo que apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) é minoritário e tentou “surfar a onda” da extrema-direita.

“Houve uma aproximação circunstancial, João Dória surfou a onda Bolsonaro para se eleger em São Paulo. Em algum momento deve romper essa aproximação para se projetar como candidato a Presidente. O problema é que se para alcançar seus objetivos uma liderança política tiver êxito em sacrificar o compromisso programático, o legado e a coerência histórica do partido, o que teremos a partir daí será não mais que uma legenda desfigurada”, disse Fernando.

O risco desta desfiguração é, para ele, iminente.

“Em boa parte deve-se ao silêncio daqueles líderes que nesse momento, enquanto ainda é tempo, deveriam se articular e se manifestar publicamente para impedir que essa história tão bonita da social democracia brasileira escrita por Montoro, Covas e tantos outros, que esse grandioso legado ao país, se converta num mero projeto de poder. O PSDB é muito maior que isso. Montoro dizia: "Não podemos deixar cair nossas bandeiras". Essa tentativa de estabelecer um neotucanismo tem por objetivo arrancar essas bandeiras de nossas mãos. Da minha mão ninguém tira”, finaliza.