O valor total bloqueado da Vale para garantir o ressarcimento de danos causados e para indenizar vítimas já chega a R$ 11 bilhões.
Bombeiros de helicóptero e equipes em terra trabalham no limite para recuperar corpos das vítimas na região de Tejuco, em Brumadinho. (CADU ROLIM/ESTADÃO CONTEÚDO)
A busca por desaparecidos foi retomada pelo quarto dia consecutivo em Brumadinho, após ser descartado o risco de outro rompimento de represa nesta cidade a 60 km de Belo Horizonte, onde o rompimento de uma barragem na sexta-feira deixou pelo menos 58 mortos.
"Já não há mais risco" na segunda barragem, disse o tenente-coronel Flávio Godinho, porta-voz da Defesa Civil de Minas.
No domingo, a Vale informou que acionou as sirenes às 5h30, "ao detectar o aumento dos níveis de água nos instrumentos que monitoram a barragem VI", que contém entre 3 e 4 milhões de metros cúbicos de água.
Cerca de 3 mil pessoas foram evacuadas para locais altos em meio ao pânico e à confusão.
"Eu estava em casa. A sirene tocou às 5h30 e, logo depois, veio o pessoal da Defesa Civil, abrindo o portão e pedindo que todo mundo evacuasse. Tive que sair, com minha família, meus filhos. Até agora estamos na rua, porque não podemos ficar dentro de casa. Ficamos chateados, tensos, porque deixar nossa casa não é fácil. Faz 15 anos que moramos aí. Agora temos que deixar tudo e sair correndo pelo risco de mais uma barragem trazer problema pra gente", desabafou José Maria Silva, de 59 anos, à AFP.
A Vale informou que o nível de risco tinha diminuído de 2 para 1, então as pessoas que deixaram suas casas foram autorizadas a retornar.
Muitos optaram, porém, por ficar nos locais seguros. "As pessoas têm medo de que a sirene volte a soar, voltar às suas casas e não saber o que fazer", disse o médico Maicon Nunes.
Até agora, as autoridades conseguiram recuperar 37 cadáveres, dos quais apenas 16 foram identificados. O último boletim oficial dá conta de 287 desaparecidos.
11 bilhões bloqueados
A justiça brasileira já bloqueou 11 bilhões de reais da Vale para compensar os prejuízos e danos ambientais provocados pelo rompimento de uma barragem em Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte, informaram fontes oficiais.
O Ministério Público de Minas Gerais informou que no sábado à noite a justiça congelou 5 bilhões de reais. Este valor é adicionado a duas ações prévias, uma de 5 bilhões e outra de um bilhão, após a tragédia que até o momento deixou 37 mortos e mais de 250 desaparecidos.
Todas as decisões são cautelares e, a pedido do governo e do MP de Minas Gerais, foram determinadas após o rompimento de uma barragem de contenção de rejeitos na sexta-feira no município de Brumadinho, a 60 km da capital do estado.
Além do bloqueio de bens, a última medida judicial determina que a empresa deve assumir a responsabilidade da assistência às vítimas e seus parentes, entre outros dispositivos.
A justiça afirma em um comunicado que "em caso de inexistência do valor (estipulado), devem ser declarados indisponíveis bens como automóveis e imóveis".
A Vale também recebeu no fim de semana uma uma multa do governo federal de 250 milhões de reais e outra do governo de Minas Gerais de R$ 99 milhões.
58 mortos e 305 desaparecidos
Triste e começão durante o resgate de vítimas em Brumadinho. A.MACHADO REUTERS
A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais atualizaram o balanço de vítimas do rompimento da barragem da mineradora Vale, em Brumadinho (MG). Até por volta das 20h45 de domingo, 27, foram contabilizadas 58 mortes, 305 pessoas desaparecidas, 361 pessoas localizadas e 192 pessoas resgatadas. Entre os óbitos, 19 corpos já foram identificados no Instituto Médico Legal (IML).
Em entrevista coletiva à imprensa, o tenente-coronel da Defesa Civil, Flávio Godinho, contou também que um ônibus foi localizado em meio à lama, com corpos no interior do veículo, mas ainda não há informações sobre a quantidade de mortos. "É um trabalho criterioso, não é rápido. Temos dificuldade para acessar alguns locais", explicou. Segundo ele, a chance de encontrar sobreviventes diminui com o passar do tempo porque a lama vai secando
Na coletiva de imprensa, o Corpo de Bombeiros informou também que recebeu a notícia de localização de outro ônibus. "Já há conformação de que há corpos. É necessário um maquinário pesado" disse o tenente Pedro Aihara. O Corpo de Bombeiros salientou que não deve suspender as buscas por desaparecidos. "As buscas continuam. Estamos com equipe nesse momento no ônibus e na casa (atingidos pela lama)", disse Aihara.
Indignação
O trabalho de retirada de moradores desviou a atenção da busca por centenas de pessoas desaparecidas devido à avalanche de lama de rejeitos que atingiu comunidades e área administrativa da própria empresa depois do rompimento.
Imagens de TV mostraram barreiras sendo feitas na cidade, desviando pessoas de determinadas regiões e impedindo a passagem para certas áreas.
Famílias e amigos de luto por vítimas da tragédia foram forçados a deixar a cidade.
Renato Maia, um vendedor de 44 anos cuja filha do melhor amigo continua desaparecida, fugiu de casa em pânico no domingo de manhã. Por volta de meio-dia, ele e sua esposa esperavam no entorno da cidade que a polícia suspendesse um bloqueio, indignado com a situação.
"Estamos cansados da Vale… e isso está realmente piorando a situação", disse. "Foi uma grande tragédia e agora não sabemos o que pode acontecer."
O rompimento em Brumadinho é o segundo desastre do tipo evolvendo a Vale em pouco mais de três anos. O número de mortos já supera as 19 vítimas fatais do rompimento em 2015 de uma barragem em Mariana, também em Minas Gerais, da Samarco, uma joint venture da Vale com a BHP.
O rompimento da Samarco despejou cinco vezes mais rejeitos de mineração, porém em uma região mais remota. A tragédia de Mariana, no entanto, atingiu o rio Doce, o que faz dela o maior desastre ambiental da história do país.
O governo ordenou que a Vale suspenda as operações no complexo de mineração de Córrego do Feijão, local do rompimento da barragem na sexta-feira.
O diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, pediu desculpas sem assumir responsabilidade em uma entrevista na televisão no sábado, e prometeu que a empresa fará a sua parte.
A causa do rompimento permanecia incerta. Inspeções recentes feitas por uma empresa de auditora alemã, a TUV SUD, e pela própria Vale não indicaram nenhum problema com a barragem, segundo as empresas.
Schvartsman disse que todas as barragens de rejeitos da Vale foram verificadas após o desastre de 2015 em Mariana, e que revisões periódicas são realizadas.
O procurador da República José Adércio Sampaio, professor da Dom Helder Escola de Direito, disse que o novo colapso de barragem de rejeitos de mineração pode mudar completamente o rumo das negociações sobre uma ação de 155 bilhões de reais movida contra a Samarco e suas donas (Vale e BHP) no âmbito da tragédia ocorrida há três anos.
Israelenses
Um grupo de cerca de 130 militares médicos, engenheiros, bombeiros e técnicos de Israel começa a trabalhar nas primeiras horas de hoje (28) nas operações de resgate na região de Brumadinho, nos arredores de Belo Horizonte (MG). Os israelenses trouxeram equipamentos modernos para rastreamento, com capacidade de captação de imagens e detectores de vozes e ecos.
Os homens e mulheres israelenses chegaram por volta das 21h30 a Belo Horizonte e foram recebidos pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), na pista do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na região metropolitana da capital.
Os militares israelenses vão ajudar nas buscas por vítimas do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da empresa Vale, em Brumadinho.
Na conta das Forças Armadas de Israel, no Twitter, há um vídeo em que relatam o trabalho que será feito no Brasil, semelhante a outros realizados em distintos países, como Estados Unidos, Sri Lanka, Índia, Cambodja, Congo, Argentina e Colômbia. O vídeo mostra as bandeiras do Brasil e da Índia.
Em sua conta pessoal no Twitter, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, postou ontem (27) imagens dos militares enviados para o Brasil e destacou a importância da operação. “A delegação israelense está a caminho do Brasil para ajudar as vítimas do desastre do desabamento da barragem. Nós ajudamos nossos amigos.”
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Edição de Juliano Paiva.
AFP/Agência Estado/Reuters/Agência Brasil/Domtotal.com





