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Acordos locais, interesses próprios e voto ‘na pessoa’ alimentam infidelidade na eleição

Foto: Pedro França / Agência Senado / CP

Os movimentos de lideranças políticas gaúchas nos últimos dias expuseram no Rio Grande do Sul uma marca das corridas eleitorais que se acentuou no pleito de 2018: a infidelidade declarada, e sem consequências para quem a pratica, de políticos com as alianças fechadas por seus partidos. Nesta semana, a característica ganhou visibilidade no Estado a partir do anúncio do deputado federal e candidato ao Senado, Luis Carlos Heinze. Integrante do PP gaúcho, Heinze divulgou na quarta-feira que, na corrida presidencial, apoia o candidato do PSL e colega de Câmara, Jair Bolsonaro.



A decisão se dá dentro de uma eleição na qual o PP do RS ganhou uma importância que ainda não havia alcançado desde a redemocratização. Ter o vice – a senadora Ana Amélia Lemos – na chapa presidencial encabeçada pelo tucano Geraldo Alckmin. O caso de Heinze, contudo, está longe de ser exceção. Pelo país, situações iguais ou semelhantes se acumulam.



Para o professor Luis Gustavo Grohmann, do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (CEGOV) da Ufrgs, as infidelidades declaradas sempre existiram nos pleitos, com casos rumorosos no RS, inclusive. Mas ganharam intensidade nesta eleição, em função de fatores tanto internos como externos, que geram um quadro mais “caótico”. “No Brasil, há um tensionamento fruto de mudanças no eleitorado e na cena política em decorrência de tudo o que aconteceu nos últimos anos.



O eleitorado está, de forma ainda mais intensa, prestando atenção nas pessoas, votando nelas e não nos partidos. Mundialmente, soluções já existentes apresentam dificuldades e há a ascensão de setores populistas de direita, apesar das propostas estapafúrdias. Isso propicia um cenário onde cada um tende a tentar salvar a própria pele”, resume.  A avaliação ajuda a explicar o desempenho de Bolsonaro, expoente em uma sigla diminuta, que possui uma bancada federal composta por oito parlamentares, e poucos segundos na propaganda do rádio e da TV. Alianças e interesses regionais diversos completam o quadro.



No Rio Grande do Sul, Heinze não é o primeiro a ganhar visibilidade por trair a decisão oficial da sigla a qual pertence. O coordenador da campanha de Bolsonaro no Estado, que o candidato do PSL aponta como ministro chefe da Casa Civil na hipótese de chegar ao Planalto, é o presidente do DEM gaúcho, o deputado federal Onyx  Lorenzoni.



Apesar de o DEM também integrar a coligação de Alckmin, a opção do parlamentar é vista com naturalidade no partido. Quando é questionado sobre o caso, o presidente nacional da legenda e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ), costuma assinalar que Onyx está com Bolsonaro ‘há muito tempo’. Em maio, durante agenda no RS, descartou qualquer possibilidade de que a infidelidade pudesse resultar em intervenção no diretório gaúcho. “Seria algo muito bruto, não democrático”, resumiu.



Na quarta-feira, a reação do presidente do PP gaúcho, Celso Bernardi, ao ato de Heinze, foi além. Ao final da carta que emitiu após a decisão do correligionário, Bernardi destaca: “É bom lembrar que a eleição de 2018 poderá ter segundo turno e não devemos romper pontes e radicalizar com aqueles que estão próximos das nossas posições doutrinárias e da visão que temos de Estado e de gestão.”



Dentro do PP do Estado, além de parte da base apoiar Bolsonaro (ex-integrante da legenda) à revelia do acordo oficial da cúpula, e da mágoa resultante do fato de Heinze ter sido obrigado a retirar a candidatura ao governo, ganham força as especulações sobre o apoio de Heinze reavivar as conversas a respeito de sua indicação ao Ministério da Agricultura em caso de vitória de Bolsonaro.



No cenário regional como um todo, enquanto o PP está coligado oficialmente com o PSDB, que tem Eduardo Leite disputando o governo, o DEM não está em nenhuma das alianças com candidatos ao Piratini, e não há indicação de voto. Mas suas lideranças admitem que existe, entre partidários, certa predileção pelo governador José Ivo Sartori (MDB), que disputa a reeleição.



Entre os postulantes ao Piratini, quem tem feito movimentos mais explícitos em direção a siglas que integram coligações adversárias é o candidato do PDT, Jairo Jorge. Ainda em agosto, o pedetista lançou um movimento suprapartidário com apoio do PPS, PR, PRB e Pros.



No Estado, PPS e PRB estão aliados ao PSDB. O PR está com o MDB. O Pros gaúcho, que não integra coligações estaduais que tenham postulantes ao Piratini, está unido ao DEM e ao PSL na campanha de Bolsonaro. Já na corrida pela presidência da República, integra, junto com o PCdoB, a coligação encabeçada pela candidatura de Fernando Haddad (PT). Petistas e bolsonaristas são adversários frontais na disputa presidencial.

Magno Malta – O partido do senador, o PR, integra a coligação nacional de Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pela presidência da República. Mas Malta (PR/ES) é um dos mais ferrenhos cabos eleitorais de Jair Bolsonaro (PSL).



MDB – Nacionalmente e no RS, petistas e integrantes da sigla do presidente Michel Temer, protagonista do impeachment de Dilma Rousseff, se autointitulam inimigos. Apesar disso, um dos destaques da propaganda eleitoral do candidato do MDB à presidência, Henrique Meirelles, é sua participação nos oito anos dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).



O PT até tentou impedir o emedebista de utilizar a imagem de Lula na propaganda. Mas o TSE negou o pedido, em decisão comemorada por Meirelles. PT e MDB também protagonizam alianças no Nordeste, com destaque para Alagoas, Ceará, Piauí e Sergipe, onde Meirelles é ignorado pelos caciques locais.



Ceará – No Ceará o quadro é ilustrativo da situação nacional. O governador Camilo Santana (PT) encabeça uma coligação composta por 16 partidos. Entre eles PP, DEM e PTB, que nacionalmente estão com Alckmin. Mas também, e principalmente, o PDT de Ciro Gomes. No Ceará o PT abriu mão de lançar candidato ao Senado e a chapa de Santana tem só um candidato: o irmão de Ciro, Cid Gomes (PDT).



O motivo: a chapa estabeleceu um acordo informal e apoia igualmente outro candidato ao Senado, o hoje presidente da Casa, Eunício Oliveira (MDB). Oficialmente, Eunício integra outra coligação de partidos na corrida ao Senado. Que, por sua vez, não tem candidato ao governo. Resultado: Cid e Eunício fazem dobradinha ‘informal’ e estão unidos na campanha de Santana.



Renan Calheiros – O senador Renan Calheiros se coloca como opositor de Temer leal ao ex-presidente Lula e tenta reeleger o filho governador. Renan Filho encabeça uma coalizão de 17 partidos que, nacionalmente, estão em seis das 14 chapas majoritárias.



Além do próprio partido, estão com ele o PT e o PCdoB (que tem Fernando Haddad e Manuela D’Ávila na chapa presidencial), o PDT (do candidato à presidência Ciro Gomes), o PV (que é vice de Marina Silva, da Rede, na disputa pelo Planalto), o PRTB (do general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro), e o Pode (do candidato à presidência Álvaro Dias).



Ciro Nogueira – O caso mais rumoroso no PP não é o do racha no diretório gaúcho, mas sim a postura do presidente nacional da legenda, o senador Ciro Nogueira (PP/PI). Oficialmente, o PP está com Alckmin na disputa nacional. Mas, sob a justificativa da aliança regional, Nogueira está integrado na campanha petista.



No final de agosto, Haddad ainda não havia substituído Lula na chapa presidencial, e o senador ganhou as manchetes quando, ao lado do ex-prefeito de São Paulo, participou de campanha de rua em Teresina pedindo votos ao ex-presidente. Justificou dizendo que tem “o coração grande.” No Piauí o PP integra a coligação que tem como candidato à reeleição o governador Wellington Dias (PT). O MDB é outra das grandes siglas da coalizão estadual.



Centrão – Os acordos regionais dos partidos do chamado Centrão têm sido apontados como um dos limitadores do crescimento de Alckmin. Aos casos de expoentes do PP, DEM e PR vêm se somando ainda PTB e PSD. No RS, nesta sexta-feira, durante entrevista ao Esfera Pública, o vice-governador José Paulo Cairoli (PSD), candidato à reeleição na chapa de Sartori, disse que, se pudesse escolher, votaria em Henrique Meirelles (MDB).



Em Sergipe, a candidatura de Belivaldo Chagas (PSD) une PT e MDB e é adversária do PSDB. Em Pernambuco, o candidato ao governo pelo PTB, Armando Monteiro, que encabeça uma coligação regional onde estão, entre outros, PSDB e PODE, havia aberto o voto em Lula. Com a troca na chapa petista, ele faz acenos ao PDT de Ciro Gomes. Em Pernambuco o PT costurou acordo com repercussão nacional para apoio à reeleição de Paulo Câmara (PSB), adversário de Monteiro. E o PDT está na aliança de Maurício Rands (PROS).

 

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