Edifício que foi sede do jornal Hoje em Dia é ocupado por movimentos sociais e funcionários demitidos que não receberam indenizações trabalhistas.
Prédio foi vendido por R$ 17,2 milhões para a JBS e funcionários foram demitidos sem receber direitos trabalhistas. (SJPMG/Divulgação)
Um grupo de jornalistas, gráficos e funcionários da administração ocupou na madrugada desta quinta-feira a antiga sede do jornal Hoje em Dia em Belo Horizonte. O edifício foi citado na delação do empresário Joesley Batista, da JBS, e teria como objetivo o repasse de recursos ao senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Na transação, a J&F Investimentos, controladora da JBS, comprou da Ediminas S/A – Editora Gráfica Industrial de Minas Gerais, o imóvel e um terreno ao lado da construção por R$ 17.354.824,75.
O imóvel foi ocupado por movimentos sociais e funcionários que foram demitidos no começo de 2016 e até hoje não receberam os seus direitos trabalhistas e nem o salário referente ao último mês que trabalharam. Segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, enquanto os ex-funcionários ficaram no prejuízo, Joesley Batista, os antigos e atuais donos do jornal negociaram a venda superfaturada do prédio. Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) também estão dentro do imóvel.
A Ediminas é proprietária do jornal "Hoje em Dia", que funcionava no prédio. Além do registro da negociação em cartório, existe um recibo de quitação do pagamento da transação da J&F à Ediminas, que pertencia ao Grupo Bel, do setor de comunicação. A compra, segundo Joesley, teria sido feita a pedido do senador afastado Aécio Neves (PSDB), amigo de Flávio Jacques Carneiro, que nega irregularidades na transação.
Em depoimento à Procuradoria da República, Joesley afirma que Aécio voltou a procurá-lo em 2015 pedindo dinheiro para pagar dívidas de campanha. No ano anterior, o tucano disputou a Presidência e já teria recebido R$ 60 milhões.
Na delação, Joesley afirma não saber "como o dinheiro chegou a Aécio". A negociação ocorreu em 2015. O comprador do imóvel foi a J&F, controladora da JBS. Ex-funcionários do Hoje em Dia acreditavam que o prédio poderia ser penhorado para pagamento de dívidas trabalhistas. "Mas quando tentamos isso ficamos sabendo que o prédio já havia sido vendido", afirma Eliana Lacerda, da coordenação de ocupação do prédio.
O porta-voz do MST na ocupação do prédio, Cristiano Meirelles, justificou a participação no movimento afirmando se tratar de "causa justa". "É mais um ato importante para dar esclarecimento sobre a corrupção no Brasil e em Minas Gerais", afirmou.
A Ediminas pertence hoje ao ex-prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz, marido da deputada federal Raquel Muniz. O jornal "Hoje em Dia" estudou seguir no prédio comprado pela J&F, mas, segundo o diretor do jornal Tiago Muniz, a empresa decidiu se mudar e hoje ocupa imóvel na zona oeste de Belo Horizonte.
Redação DomTotal e Agência Estado///