Por Eleonora Santa Rosa*
Desnecessário consultar cartas, búzios, mapas astrais, guias, cabala, bola embaçada de cristal, borra de café.
Os sentidos apontam a clareza da tormenta.
Maremoto à vista em fim de ano interminável expelindo lixo até a beira.
Ondas de alta tensão levando de camburão e cambulhão os agiotas do poder.
Nadar, nadar e preparar os pulmões até o outro lado de não se sabe onde.
O redemoinho levará e lavará, com dor e dissabor, as entranhas do país adolescente, dolente desde cedo com seus achacadores.
Em escala nunca dantes vista, a supressão do suprassumo de seu solo, patrimônio ambiental de significado mundial.
A lama-tormento de Bento, metáfora a mais na montanha a menos de Minas e do Brasil, como diria o poeta.
Não há saídas, só mesmo cortando a pele, mostrando as vísceras e assumindo as sequelas da corrupção no corpo erodido do país.
Em tempo real, as imagens dos crimes de lesa pátria, o supurado tecido social: descrença, descrédito, desdita, desilusão.
Confronto crescente das ruas, dos dois lados da calçada, sinal do agravamento do estado de espírito da nação.
Roubalheira infindável, fratricídio entre poderes, quem poderá mais?
O Estado de sítio?
Ainda vem muito mais por aí.
Mar revolto, ondas gigantes se formando, tempo de efeito bumerangue.
Inescapável, mas há de passar.
*Eleonora Santa Rosa – empreendedora cultural, jornalista e produtora. Exerceu diversas funções públicas, tendo sido Secretária de Estado da Cultura de MG de 2005 a 2008. É fundadora e diretora do Santa Rosa Bureau Cultural.