Luís Eduardo Gomes, Sul 21 – Uma multidão de professores e funcionários de escolas de diversas partes do Estado participaram de um ato do Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) contra o parcelamento de salários, que chegou ao sétimo mês consecutivo em agosto. Durante o trajeto, que começou diante da sede do Ministério Público (Av. Aureliano Figueiredo Pinto) e foi encerrado diante do Palácio Piratini, os educadores entregaram documentos para representantes do MP-RS e do Tribunal de Justiça (TJ-RS) cobrando o cumprimento de decisões judiciais que obrigam o estado a pagar o salário dos servidores do Executivo em dia.
“Ao TJ, nós entregamos um documento pedindo algumas respostas sobre o mandado de segurança que nós ganhamos ainda no ano passado contra o parcelamento de salário. Ficamos sabendo que vai ir ao julgamento no pleno no dia 5”, diz Helenir Schurer Aguiar, presidente do CPERS. “Ao MP, pedimos que eles entrassem com uma ação de improbidade pública contra o governo por eles não cumprirem a liminar”, complementa.
A partir de parecer emitido pelo Ministério Público de Contas recomendando a rejeição das contas de 2015 do governo, o Cpers também aponta que o governo fez “pedaladas fiscais” ao contratar uma operação de crédito junto a um banco público (Banrisul) para o pagamento de uma obrigação do Executivo, o 13º salário. Além disso, também aponta ilegalidade na contratação de espaço publicitário em empresas de mídia quando não consegue integralizar o vencimento dos servidores.
“Pela lei, a primeira coisa que tem que pagar é o salário, que é a alimentação dos servidores. O Tribunal de Contas descobriu que teve uma manipulação das contas, tanto é que reprovaram as contas”, diz Helenir.
Efeitos do parcelamento
Helenir ainda ponderou que o parcelamento de salários de servidores tem castigado sobremaneira os professores e funcionários de escola. “Isso tem resultado uma perda muito grande, porque a cada mês nós pagamos juros sobre as nossas contas, sobre nosso aluguel. Então, isso estourou as contas. Como nosso salário é muito pequeno, fica tudo muito justo”, diz.
Professor da escola Guilherme Baum, de São Leopoldo, Guilherme Argenta diz que, com o parcelamento, tem sido obrigado a pagar juros de suas contas básicas, o que o faz ter que cortar despesas e mudar seus hábitos, como deixar de visitar seguidamente seus pais, que moram em Santa Maria. “Eu pago aluguel, pago água, pago luz. Daí quando vem o parcelamento, não consigo nem quitar essas contas básicas. Sempre acaba atrasando, ao mesmo tempo gerando juros, cada vez mais. Sem falar da alimentação, que prejudica sempre”, diz.
Daniela Peretti, professora da escola Américo Braga, de Alvorada, diz que os professores se sentem impotentes diante da incapacidade de colocar as contas em dias. “Quando tu pega teu contracheque, a sensação é de impotência porque tu não consegue te sentir profissional. Tu estudou, tu te pós-graduou, te preparou e tu vê aquele salário entrar em parcelinha de R$ 150, de R$ 300. A sensação é que estamos mendigando o que é um direito”, afirma, defendendo que restar a categoria apenas se unir cada vez mais. “É um sofrimento constante, a gente sofre muito. O que a gente tem feito é se unificado, conversado muito entre nós para buscar forças para tentar mudar. Ficar dentro da sala de aula só reclamando ou dentro da escola só se sentindo impotente não vai adiantar. A indignação tem que se transformar em mobilização”, pondera.
Professoras aposentadas, Zinaide Moura, de Quaraí, e Rosa Bott, de Porto Alegre, relatam que um dos maiores problemas dos parcelamentos consecutivos é que os servidores nunca sabem quanto irão receber, o que os impede de organizar suas contas.
“Se antes nós já tínhamos que administrar muito bem, agora está pior. Tirar um empréstimo não adianta, porque tu vai ter que pagar taxas. Fica tudo uma bola de neve na nossa vida. Nós temos água, luz, telefone. Eu, que já sou uma pessoa idosa, sou doente da diabete, não tenho condição nem de comprar a alimentação certa, porque tudo é caríssimo”, diz Zinaide.
Para Rosa, a indignação é ainda maior com o fato de que, enquanto os professores recebem salários parcelados, servidores do Judiciário e Legislativo recebem em dia. “Está aqui o Legislativo, que faz as leis, e aprova tudo o que Sartori quer. Tá lá o Judiciário, aqui pertinho, em que os juízes ganham auxílio-moradia maior que o meu salário de professora aposentada. Imagina quanto tempo eu já trabalhei para ganhar esse miserável salário, e ainda pingado”.