Com a bagagem de quem vive de perto, há 60 anos, a política nacional, o ex-senador pelo PMDB Pedro Simon (RS) defendeu que, caso o impeachment de Dilma, seja aprovado, o vice-presidente Michel Temer deve renunciar e convocar novas eleições; "Domingo é o grande dia. Talvez o dia mais importante da nossa história; sobre o áudio vazado por Temer, o ex-parlamentar disse que "a explicação de que houve um engano por parte dele é muito ingênua"; em relação ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Simon foi taxativo: "todo mundo sabe que a dívida dele é grande. Os problemas dele são realmente sérios"
14 de Abril de 2016 às 09:46
Deborah Lannes, do Jornal do Brasil – Com a bagagem de quem vive de perto, há 60 anos, a política nacional, o ex-senador pelo PMDB Pedro Simon – que durante 40 anos lutou para que empreiteiros corruptos fossem para a cadeia – fez uma análise sobre o cenário nacional. Em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, Pedro Simon – o mais digno dos políticos brasileiros vivos – defendeu que, caso o impeachment de Dilma Rousseff seja aprovado, o vice-presidente Michel Temer deve renunciar e convocar novas eleições. "Domingo é o grande dia. Talvez o dia mais importante da nossa história."
JB – Como o senhor está vendo o conturbado cenário político atual e a atuação de personagens importantes, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o vice-presidente Michel Temer? Como o senhor vê a condução do processo do impeachment?
Pedro Simon – Tenho 86 anos, dos quais 60 com cargos eletivos. Não tive um dia sem ter um mandato. Acompanhei a vida do Brasil. Realmente vivemos uma crise institucional que acompanho desde 1945. Acompanhei a queda de Getúlio Vargas, depois a sua volta, o seu suicídio. Depois a derrubada de João Goulart, os 21 anos de ditadura, e agora os anos que estamos vivendo depois da retomada da democracia. Quando vejo análises sobre o Brasil, com relação a situação que estamos vivendo, posso dizer que temos problemas profundos que vêm ao longo do tempo e ao longo da história. Em todos estes movimentos, nós não conseguimos dar uma orientação, uma diretriz, uma norma com respeito à ética, à dignidade, à moralização, ao povo brasileiro. Tivemos a revolução de 30, o Getúlio Vargas, em 1954 o [Carlos] Lacerda dizendo que o Catete era um mar de lama… Derrubaram Getúlio, derrubaram o Jango, a ditadura ficou este tempo todo, depois nós derrubamos a ditadura e voltou a democracia, mas nunca se mexeu na tentativa de se fazer um novo pacto federativo, uma revolução de costumes.
JB – Apesar de todo este histórico, não houve um aprendizado…
PS – Nunca se tentou mudar a coisa que deveria ser mudada. Tanto que se diz que na história do mundo moderno, em países democratas com liberdade, nunca houve corrupção igual à do Brasil. E que não é novidade porque ela vem ao longo do tempo. Não é neste governo. Ela sempre existiu. Mas agora o fato novo no Brasil não se deve ao governo. É que uma equipe de juízes, de procuradores e da Polícia Federal resolveu discutir e debater a impunidade no Brasil. Nunca acontecia nada, a não ser com ladrão de galinha. Com gente importante, empresários, políticos, com estes nunca acontecia nada. E aí veio esta Operação Lava Jato.
JB – Como o senhor vê esta operação? Há setores que questionam a forma como ela vem sendo conduzida
PS – Eu nem discuto isso. Eu discuto apenas que, pela primeira vez, as coisas estão acontecendo. Pela primeira vez presidente de partido vai para a cadeia, senadores vão para a cadeia. Grandes empresários vão para a cadeia. Pela primeira vez descobriram os roubos da Petrobras e o roubo das grandes empreiteiras. Agora a Lava Jato está indo numa posição onde as pessoas vão ter o seu devido lugar. Tem muita gente assustada com a Lava Jato. E não é problema de um partido. E a minha preocupação é que ela não chegue ao final. Eu defendo o seguinte neste momento: nós temos domingo a votação do impeachment. Pela maneira que falam, a probabilidade de passar são grandes. Se não passar e o governo ficar, a situação é muito triste. O governo, para tentar ficar, está fazendo conchavos, está vendendo a alma. Vamos viver uma confusão que não tem como ser. E se o impeachment for aprovado, também teremos uma confusão. Dilma está fazendo uma aliança terrível com tanta gente que não se sabe como ela vai governar. E se o impeachment passar, esse pessoal que está aí para entrar, com este presidente da Câmara e companhia, como é que vão governar?
JB – Como o senhor vê a atuação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha?
PS – Tem gente que diz uma coisa interessante: ele tem um lado positivo porque está deixando as coisas irem. Mas todo mundo sabe que a dívida dele é grande. Os problemas dele são realmente sérios.
JB – E com relação ao impeachment? Diante deste cenário, qual deveria ser então a solução para o país?
PS – O ideal era o [vice-presidente Michel] Temer renunciar e se partir para a convocação de uma eleição para presidente. Temer poderia fazer um grande entendimento, chamar todos e, primeiro, garantir de independência para a Operação Lava Jato. Depois, dar prosseguimento para a escolha de um novo presidente e vice-presidente. Seria uma saída espetacular.
JB – Como o senhor viu o vazamento do áudio em que Temer falava como se o impeachment já tivesse sido aprovado na Câmara?
PS – A explicação de que houve um engano por parte dele é muito ingênua. O que a gente está interpretando é que ele fez questão de dizer que se ele assumir, ele vai fazer um governo de entendimento, chamar a todos. Foi uma jogada que ele fez. Mas o que nós temos que ficar atentos é que, se a política for para a implosão, se por exemplo Dilma ganhar, ela vai se impor, mudar o ministro da Justiça, que por sua vez pode mudar a direção da Polícia Federal, e vai acabar com a Lava Jato. E se for o outro lado, é capaz de acontecer a mesma coisa. Então o ideal é um grande entendimento. A Espanha fez isso quando Franco morreu. Era uma guerra civil que parecia que nunca iria terminar. Aí sentaram na mesa e disseram: peraí, vamos fazer um entendimento e vamos olhar para a frente. E deu certo até hoje. O Brasil está na beira de uma guerra civil. Na beira de um momento em que ninguém vai se entender. Dezenas de partidos, facções para todos os lados. Hoje cada deputado é um partido. Ninguém sabe o que quer. Neste momento uma voz de esclarecimento, uma pausa para meditação, um chamamento geral a um grande entendimento é a grande solução. A corrupção está parecendo tão grande, envolvendo tanta gente, a gente sabe que qualquer lugar que se levanta encontra a mesma coisa, que nós não podemos continuar empurrando para debaixo do tapete. Se terminarem com a Operação Lava Jato, aí eu não sei. Se não apurarem nada, esquecerem tudo, não sei como é que vai ser. Para se mudar, não é prendendo ladrão de galinha. É botando os grandes escândalos. No momento em que forem para a cadeia os grandes empreiteiros, os grandes políticos, um novo governo pode vir e esse será o país da seriedade, da credibilidade. E o povo acompanhará com muita alegria.
JB – Mas como fica o sentimento do povo acompanhando este momento atual de escândalos de corrupção, de acordos, de alianças?
PS – Hoje o povo está de mal com o mundo. Ele olha pro lado, vê as pesquisas… O Brasil sempre teve lideranças importantes. Era o Doutor Ulysses [Guimarães], Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Miguel Arraes. Hoje não tem ninguém, é um vazio geral. Não se vê um empresário com respeitabilidade. Antonio Ermírio de Moraes era um grande empresário, um senhor sério.
JB – E qual as consequências num cenário de ausência de lideranças?
PS – Este é o ambiente em que de repente surge um aventureiro. Surge alguém com uma bandeira, como um Hilter. O Jânio Quadros era um sujeito muito inteligente, mas era um maluco. O Collor, um psicopata que se elegeu presidente da República. Mas acho que agora o impacto vai ser muito grande. Domingo de noite vai todo mundo parar para pensar. O que quer que aconteça, todo mundo vai ficar tonto. Eu acho que é hora de alguém ter uma palavra para fazer este entendimento.
JB – O sr. que sempre lutou por uma CPI das empreiteiras, como vê este momento em que empresários estão indo para a cadeia?
PS – Passei 40 anos brigando para criar. Agora está acontecendo à revelia do Congresso, dos políticos, de governo, situação ou oposição. Temos que tirar o chapéu para este juiz Sérgio Moro. Está de lutando de coração. Esse procurador-geral da República [Rodrigo Janot], um homem de grande valor, a Polícia Federal… Agora não vamos acreditar que esses empreiteiros entraram nessa negociata agora no governo do PT. Eles sempre estiveram. Agora foi feito de forma aberta. Empreiteiros fizeram um clube, os diretores das estatais fizeram outro clube. Mas essa sempre foi a realidade do Brasil.
JB – Qual a expectativa do senhor para este domingo?
PS – Domingo é o grande dia. Talvez o dia mais importante da nossa história. Nós realmente temos que marcar uma posição que signifique um novo governo, que signifique levar a moralidade, um novo pacto social, um novo pacto político, uma modificação que nós não tivemos condições da fazer na Constituinte. Derrubamos a ditadura, elegemos Tancredo. Ele foi sacana conosco, não poderia ter morrido. Morreu e deixou Sarney com a gente. E aí a Constituinte não deu. Se fosse o Tancredo, ele era o homem. Sarney brigou com Doutor Ulysses, a Constituinte ficou rachada pela metade e não aconteceu nada das coisas que queríamos que fossem feitas. Esta é a hora da fazer o que não foi feito.