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São Martinho – 11ª Batida do Monjolo acontece dia 6 de fevereiro

11ª Batida do Monjolo acontece dia 6 de fevereiro, em São Martinho

Um evento já tradicional em nossa região chegará a sua décima primeira edição no próximo dia 6 de fevereiro, um sábado. Trata-se da Batida do Monjolo, evento promovido em São Martinho, pela Associação dos Parceiros do Encontro das Águas.

 

A programação cultural e de integração acontece no encontro das águas do São Francisco/São Martinho, reunindo parceiros de toda a região, objetivando, entre outros pontos, destacar a preservação ambiental como ponto fundamental para a sociedade atual.

 

Um almoço, com cardápio típico do evento, será servido dia 6 de fevereiro, a partir das 13 horas. O convite para participação na 11ª Batida do Monjolo, em São Martinho, é extensivo à toda região.

 

 

 

MONJOLO D’ÁGUA

Alberto do Rego Rangel

[Alberto do Rego Rangel (1871-1945), historiador, escreveu este lindo texto sobre o monjolo em "Quando o Brasil amanhecia". Esta obra-prima acha-se transcrita no livro "O milho e o Monjolo" de Carlos Borges Schmidt (*).]

"Triturando as macaúbas, pulverizando o milho ou descascando o arroz, o aparelho é lição corriqueira à moral sertaneja.

Exemplifica a modéstia, o labor e a eternidade.

Quanta poesia se desprende desse malho e desse gral, com a melopéa brusca: chouan-pong! a pelar a canjica no fundo do grotão! Tem o som raspado, misterioso e cavo da aldraba na porta chumbada de uma sovaca, a gravidade melancolizante dos pêndulos e a serventia boçal dos africanos.

Merecia um desafio entre cantadores, dos bons, e as odes dos poetas laureados. O regato tenta afogar o madeiro prestante, mas este se defende, dando uma simples descaída de ombros. Tronco inteligente, viga prestadia e, sobretudo, complacente, rejeita o quanto lhe entornam na queixada e, desta forma, nunca se estanca a sede que o instabiliza.

Deram-lhe o nome depreciativo de preguiça, sem lhe reconhecer a proveitosa lentidão, fruto divino do seu dote de incansável.

Representa o passado e a perseverança, conta as horas por igual, meia noite é um despejo e uma pancada, a amassar o pão de cada dia, com as currupiras e caaporas traquinando-lhe na gangorra.

A haste marruaz oscila na tranqueta ou cavilha da virgem ou pasmado. Ajuda-a na descambada do balanço e contrapeso do macaco. A água preenche a cavidade do cocho que a rejeita para o receptáculo nomeado inferno. A mão firme na malheta da munheca, tomba a estrondar, pulverizando o cereal do bojo do pilão.

A fim de deter o monjolo no movimento alternativo especam-no com a estronca. Aí está toda a nomenclatura e manobra da alavanca de primeiro gênero que tem uma ducha por potência e dança em batecum de bombo a seu passo de marcha cadenciada e soturna.

Mistral cantou um poema às cento e tantas peças da charrua, e ainda não houve brasileiro que poetasse sobre as nove ou dez partes do monjolo.

Como tudo mais, passarás!

Transformaram-te para melhor numa roda Pelton! Qual será teu último avatar, martelão de pau rombo e certeiro, indesregrável e sonoro?"


* IN: CARLOS BORGES SCHMIDT, O Milho e o Monjolo, Aspectos da civilização do milho. Técnicas, utensílios e maquinaria tradicionais. Edições SIA. Documentário da Vida Rural Nº 20. Serviço de Informação Agrícola do Ministério da Agricultura, Rio de Janeiro, 1967, (pg.49-50). 

GLOSSÁRIO:

Batecum: Pancada, batida, batucada.

Bombo: Tambor.

Cavilha: Peça de madeira ou de metal para juntar ou segurar madeiras ou chapas. Possui nas extremidades: de um lado, uma cabeça; e do outro, uma fenda que a mantém presa através de uma chaveta. No monjolo, funciona como um eixo sobre o qual oscila a haste. Eixo.

Chouan-Pong: Utilizado aqui como termo onomatopéico para o som do jorro d’água do cocho do monjolo sobre o "inferno" e o estrondo da batida do pilão.

Cocho: Receptáculo em forma de tanque, escavado no tronco da madeira, oposto à haste do monjolo. Transborda-se ao receber um certo volume de água, cujo peso desequilibra-o para baixo, fazendo com que a mão do pilão se levante na outra extremidade. Ao chegar bem junto ao solo, no máximo de sua flexão, deixa a água se escoar no "inferno" ou sumidouro. Gamelão.

Estronca: Escora.

Gral: Pilão, almofariz.

Grotão: Buraco, depressão funda.

Haste: Peça longa de madeira que se constitui no prolongamento oposto do cocho do monjolo, além de seu eixo de equilíbrio, e em cuja extremidade está encaixada a mão de pilão.

Inferno: Local, no chão, em forma de receptáculo côncavo, onde se escoa a água que transborda do cocho (ou gamelão) do monjolo. Calabouço, sumidouro.

Macaco: Peça de madeira ou de ferro colocada sobre a haste do monjolo, como contrapeso. Maromba.

Malho: Maço da mão do pilão. Mão de pilão, do monjolo.

Malheta: Parte da mão do pilão, arredondada e de maior diâmetro, que entra em contacto direto com os grãos, socando-os. Munheca, maço.

Mão: Peça de madeira encaixada, verticalmente, na extremidade da haste do monjolo através de um orifício. Sua parte inferior, mais espessa ("maço"), bate no centro do pilão.

Munheca: Mão do pilão.

Pasmado: Cavalete constituído de dois mourões que, atravessado por um eixo (denominado também de cavilha), sustenta a haste do monjolo. Virgem.

Pilão: Designação comum a diversos instrumentos que servem para bater, triturar ou calcar. Instrumento de origem universal, que se presta para triturar o milho ou descascar o café e o arroz. É constituído de um receptáculo de madeira (almofariz, gral) e uma peça cilíndrica (mão do pilão), cuja extremidade é arredondada e de maior diâmetro (maço), que se utiliza para socar os grãos. Gral, almofariz.

Pelar: Descascar, pisar ou moer no pilão, apisoar.

Preguiça: Apelido dado ao monjolo, depreciativo à sua lentidão.

Tranqueta: Pequena peça de madeira ou de ferro que serve como trava, na extremidade do eixo sobre o qual oscila a haste do monjolo.

Virgem: Cavalete constituído de dois mourões que, atravessado por um eixo (denominado também de cavilha), sustenta a haste do monjolo. Pasmado.